A escola dos meninos felizes.
Duas mães, com filhos na mesma classe, conversam ao telefone:
"O que você está achando da professora?"
"Gosto dela. É doce e trata as crianças de maneira muito acolhedora."
"Pois é, acho que este é o problema, ela é terna demais."
"E isso é problema? Nossas crianças parecem estar aprendendo bastante com ela. No vídeo que mostraram na reunião de pais, seu menino apresentou uma solução para um cálculo que até agora estou tentando acompanhar. Eu jamais teria resolvido aquele problema daquele jeito. É avançado demais para mim."
As duas começam a rir. A mãe insatisfeita com a professora insiste:
"Do aprendizado não posso me queixar. Mas parece que para ele é tudo fácil. Ele faz tudo rapidamente, se livra das tarefas, não se dedica, parece que não tá nem aí. Acho que falta pulso por parte da professora."
"Escuta, mas se o importante é o aprendizado e ele está aprendendo, o que está pegando?"
"Eu queria vê-lo sofrer mais com os estudos."
"Você já procurou terapia?"
"Para ele? Você acha que é o caso?"
"Não, flor. Para você."
A conversa, que acabou em risos, me fez ver como é difícil para nós, pais e mães, rompermos com os modelos que tivemos no passado. A gente vem de uma realidade em que estudar é chato. Tem que sofrer, decorar, ter branco em dia de prova, chorar diante de tarefas imensas e cópias sem fim, porque foi assim que aprendemos. Qualquer modelo que fuja desse padrão gera insegurança. É natural. Mas, se queremos mais para a educação dos nossos filhos precisamos, antes de tudo, trabalhar nossos medos. As escolas poderiam ajudar neste processo "ensinando" aos pais novos conceitos educacionais. Ao invés de reuniões em que se discute a necessidade de usar tênis e chegar no horário (facilmente comunicados através de bilhetes), que tal breves aulas sobre propostas educacionais, indicações de leitura e de textos bacanas?
Outro dia participei de uma reunião em que se discutiu como é o processo de construção da escrita e por que aquela escola não adotava o método "Eva viu a uva". No final, uma das mães comentou aliviada que gostaria de ter tido aquela reunião antes, pois já havia criticado muito sua filha e agora via que os "risquinhos" que ela produzia (ao invés de letras) eram perfeitamente normais naquela fase da vidinha dela. Entende o peso que saiu dos ombros daquela mãe? E da sua filhota, por tabela?
O conhecimento transforma e isso vale também para os pais.
Para encerrar este assunto com alegria, publico um link para um livro chamado "A escola dos meninos felizes." Clique aqui para abri-lo. Demora um pouco para carregar, mas vale a pena. Em tempos de auto-estima educacional tão em baixa, este livro ao menos nos faz sonhar.
(Dedico este link à Clarice e seu inspirado comentário no texto sobre "Escolas fortes". Obrigada!)
Comentários
Beijoca!
Re
Mas voltando ao lobby, tem muito educador consciente que só precisa de um pequeno apoio dos pais para promover transformações. A gente precisa acreditar nisso e fazer pressão contrária aos pais que querem formar "adultos produtivos". Seja lá o que isso significa. Parece coisa de granja, não?
Ah...treinadora de baleia Shamu é o par perfeito para o meu subidor de árvore. Nossos filhos ainda darão muita risada destas mães malucas. Antes eles se rebelavam para ser artistas. Talvez amanhã tenham que se rebelar pra trabalhar em um banco. Mas uma coisa eu garanto: o direito deles usarem Havaianas está garantido. Bjs! E força na dieta.
Lembrei-me da história da “abobrinha engarrafada” do Ruben Alves. Você conhece? Ele conta que qdo criança colocava a pequena abobrinha (na planta) dentro de garrafas para que, qdo crescessem, ficassem com a forma da garrafa. Depois quebrava a garrafa e ficava igualzinha. Sinto que é isso que a escola almeja num mundo complexo demais para essas pobres “abobrinhas engarrafadas”... Pobres professores engarrafados...
Lembro de ter conversado com o pediatra sobre qual seria a melhor hora para colocar meu filho na escola. Ele respondeu," aos dois anos pq o mundo anda muito competitivo. " Aquelas palavras me doeram. Competitivo para quem? A vida é para ser vivida não para ser competida 24 horas por dia. Optei por uma creche em período parcial para o meu filho em experiência por um mês. O método é construtivista e as crianças estão bem a vontade. O meu nem olhou para trás qdo viu tanta coisa diferente para fazer. Está feliz e isso é o que importa, não é?
bjs
Bjs!
Nós temos piscina em casa e desde então queremos que nossos filhos saibam nadar mais cedo possível. Eu coloquei minha filha de 2 anos na natação. Terceira tentativa, qdo bebê fez baby hidro. Uma escola de natação somente para crianças e gestantes, onde os professores são especializados de baby até 5 anos. Dia de natação, puro stress, ela já ia no carro me dizendo que não queria, chegava e era um dilema para convencer de ver como a água era quentinha... Eu tentei ao máximo, conversei, conversei, comecei entrar junto na água todas as aulas. Não adiantou, ela só queria ficar brincando fora da piscina. Tive que tirar, fiquei super frustrada pq queria me minha filha saísse mergulhando como os outros bebês de 1 ano que vi fazerem isso sozinhos....mas é isso....Para quê???? Para quem???
bj, Neca.
Beijo!
Re
Então, ando muito angustiada com esse assunto e até estou me tornando rabugenta. Ando com mil questionamentos, dúvidas e me sinto sem saída. Sexta meu filho veio com uma pancada de tarefas (1 serie/ 2 ano). Eram 3 páginas da apostila, uma pesquisa, uma redação... E O FINAL DE SEMANA? Não seria para descansar? Mas acho que nem posso mais mandar bilhete, senão vou acabar virando aquela mãe que a escola odeia pq questiona tudo... Porém, isso me mata. Ele fez parte das tarefas na sexta e nem sei se vou obrigá-lo a fazer amanhã, que é domingo e é dia de ficar com o pai dele (e irão a uma festa). Não falei que estou amarga... mas passa!
Vc mora aonde no ABC? Talvez, se a angústia for muita, vc deva procurar uma outra escola, além do Anglo. Já ouvi falar bem do Pueri Domus, mas não sei se fica perto de você. É uma questão de ir procurando com calma. Mas sei o drama que é mudar filho de escola, portanto pondere bem. Mas acho que uma escola com o fomatão do Anglo dificilmente implementará mudanças (é uma boa escola. Mas, se não me engano, é estilo franquia e não sei se isso compromete a autonomia para se promover mudanças).
P.S: tarefa em excesso realmente ninguém merece. E na sexta-feira! No segundo ano! Depois dizem que as crianças não gostam de estudar. A culpa é sempre delas...