Caligrafia e regras na escola.


A nova profa. de português do meu filho, que está no 6º ano, insituiu exercícios semanais de caligrafia. Todos os alunos têm que fazer.

Quem me conhece deve saber o quanto fiquei contrariada com a novidade. Acho exercícios generalizados de caligrafia, em qualquer idade, uma perda de tempo e de neurônio infantil. Mas esse não é o assunto de hoje.

Meu filho, percebendo meu bufar, resolveu que tinha carta branca para não fazer o exercício. Hoje ele deve mais de 20 páginas de caligrafia à professora.

Me vi diante de um dilema: obrigo o moleque, que tem quase 11 anos, a fazer os exercícios (terá que ser sob tortura) ou apoio a rebeldia (num claro desrespeito ao professor)?

Nem um, nem outro. Um pequeno caso lido no livro que mencionei no texto sobre bilhetes escolares, me deu a luz. Achei interessante compartilhá-lo com vocês:

Numa escola de freiras, muito rígida, o uso de adornos, como jóias e bijuterias, era proibido. Uma determinada aluna ia pra escola limpinha, mas levava os enfeites na mochila. Lá dentro, os colocava. A escola enviou vários bilhete aos pais, até que um dia o pai foi chamado para conversar com os educadores. Diante do exposto, ele se colocou da seguinte forma: "na minha casa, eu e minha esposa impomos as normas que achamos necessárias e nos esforçamos para que elas sejam cumpridas. Esta regra da bijuteria, que eu particularmente acho desnecessária, é uma regra que vocês impuseram, portanto, são vocês que devem encontrar os meios, dentro da escola, de fazê-la ser respeitada. Essa tarefa não cabe a mim."

Resolvi fazer o mesmo que o pai. Vou deixar a cargo da professora fazer cumprir a tal tarefa. Se ela instituiu a caligrafia, que ela encontre os meios necessários para que os alunos a executem. Ficarei quietinha no meu canto esperando a chegada do bilhete. Ou da nota. E quando meu filho malandrinho chegar bronqueado, desesperado por ter que preencher de uma só vez a totalidade do caderno, o acolherei, direi o quanto concordo com ele que aquilo é mesmo uma tortura, mas que na vida de vez em quando a gente tem que fazer coisas muito chatas. E deixarei que ele e a professora se entendam. Para meu filho, o episódio será um ensinamento bem maior do que as lições de caligrafia: se ele se safar, estará aprendendo que nem sempre temos que fazer tudo do jeito que nos mandam fazer. Se ele dançar, aprenderá que toda escolha tem uma consequência.

E se não acontecer absolutamente nada, vou à escola pedir o reembolso do caderno de caligrafia que me mandaram comprar.

Comentários

Denise disse…
Ja passei por isso,hoje meus filhos são adultos e levam a vida deles.
Mas houve uma ocasião que fui chamada para conversar com uma coordenadora.
Meu filho mais novo,na hora da fila não parava dentro dos 50 cm de uma lajota que eram usada como marca para que a fila se fizesse reta.

Esperei que meu filho não estivesse por perto,e sem me conter disse.
Prof(afinal ela me chamou de mãe,sem que se dignasse a falar meu nome rs)
Quando e SE ele parar nessa lajota a Senhora me avise,vou procurar um tratamento para ele,afinal uma criança de 6 anos ficar paradinho ate que todo "Pai Nosso" fosse rezado (era uma escola catolica) é doença.
Enquanto isso a Senhora podia por favor ir atras de terapia,com certeza esta precisando.

Logico que assim como ele fiquei com fama de mãe rebelde.
A mocinha com seus métodos radicais ficou só aquele ano na escola e eu e meu filho nunca ficamos dentro do perimetro de uma lajota,se bem que por força da vida ja tenhamos pego muitas filas.

beijos

Denise
Anônimo disse…
Tais, sempre fico impressionada com suas saídas... Eu aprendi que devemos resolver um preblema de cada vez e só Quando eles acontecem! Isso para mim é o mais difícil, não ficar viajando na maionese sobre os " e se..." As vezes consigo e a vida fica mais leve. Muito disso aprendi com você mesmo, outro tanto com outras grandes cuidadoras, vamos nos acertando.
Um grande beijo em todos, saudades de vocês! Dri
Tais Vinha disse…
Denise, este seu episódio da lajota merecia entrar no bizarrices escolares! Dei tanta risada. E a forma com que vc lidou foi ótima! Imagino a cara da sujeita! Adorei o texto no seu blog em que vc descreve seus dois bambinos...lindo. É mesmo preferível ficar com fama de mãe rebelde do que ter filho confinadinho em lajotas.

Drica flor de mexerica, pois confesso que sou a rainha de tentar atravessar a ponte antes dela ficar pronta. É que com o tempo a gente vai aprendendo que se der pra deixar pra resolver amanhã, é melhor. Muitas coisas acabam se resolvendo por si só. Outras ficam lá, esperando a espingarda. E a gente vai levando. Também estou com saudade!

Bjs!
Isadora disse…
Esse limite me parece sempre difícil: até que ponto proteger e quando deixar os pequenos enfrentarem a vida sozinhos.
Certa vez fiz assessoria de imprensa para uma escola tradicional daqui de BH. A diretora suspendeu quase todos os alunos do último ano por alguns dias porque haviam desrespeitado uma norma clara: era proibido, por n motivos, fazer a festa de despedida da escola na rua, ao lado do colégio, para não causar tumulto no trânsito, na vizinhança, na chegada e saída das crianças, etc e tal. Não é que teve pai que entrou na justiça e conseguiu uma liminar para a filha poder assistir aula nos dias da suspensão? boa maneira de deseducar um filho...
Beijo
Hegli disse…
Ai Taís, cada vez que leio o seu blog me vejo lidando quase da mesma forma com o meu filho e algumas maravilhosas regras de seu colégio...
Ele está no 2°ano e tb tem caderno de caligrafia, que paguei 50 paus. No começo relutei, ensaiei um discurso sobre o que pensava, mas no fim fiz como vc: deixei a cargo da escola lidar com isso. Escolhi não sofrer com a caligrafia já que tinha váááááárias outras coisas para me preocupar, rs.
Ele odeia profundamente aquele caderno, aquela tarefa e aquele momento crucial em o que mais aprende é “como ficar entediado em uma página” quando tem que espremer suas letrinhas ainda disformes naquele espaço minúsculo (sim, para ajudar as linhas são menores que os de caligrafia comum).
E deixo ele se virar com isso, enquanto tento lidar com outras tantas “regras” que não concordo... e que, essas sim, deixo bem claro para o colégio.
Bjus
Tais Vinha disse…
Oi Isadora, concordo com você. Encontrar a medida certa é difícil. Acho importante não desautorizarmos os professores, pois a relação de confiança precisa ser estabelecida. O que defendo é que os pais desenvolvam uma relação mais sadia com a escola, evitando abusos de ambos os lados.

Quanto à postura da escola que você citou, sabe que eu também questiono? Quer dizer, eu não sei do caso, mas achei um pouco arbitrária uma suspensão de dias, por algo acontecido fora da escola e num momento tão festivo para os alunos. Talvez houvesse uma outra forma de resolver a situação (tipo liberar a quadra para que eles festejassem sem muvuca e com segurança). Mas você disse bem, a norma existia e a escola era tradicional. Pais que buscavam uma abordagem menos arbitrária não deveriam ter matriculado a filha nesta escola (às vezes não há opção). A coisa mais importante é escolher uma escola que vá ao encontro do que a família acredita. Assim, há mais compreensão e menos, muito menos, conflito. Aliás, esse é um bom tema para discutirmos aqui. Obrigada por comentar!

Hegli, você chegou no ponto certo. Não dá para ficarmos cacarejando (risos) por tudo o que acontece. Na vida, não será assim. Tem horas que temos que nos recolher e focar no que é realmente importante. Deixar que eles se virem um pouco, que briguem, que fiquem indignados. Faz parte do crescimento. Ainda mais quando se tem mais que um filho, daí a gente deixa passar uma boiada. Agora, 50 reais num caderno de caligrafia?!!! Se eu te contar quanto paguei o do meu filho, na papelaria, vc corta os pulsos!

Bjs!
Hegli disse…
Ai Tais, não é bem um caderno, é uma porcaria de um livro com atividades e musicas e mais um monte de coisas pra “encher lingüiça” e entre tudo isso, folhas e folhas de caligrafia. Na livraria e pela Internet estava 52 reais...
Renata Rainho disse…
Engraçado eu sempre gostei de fazer caderno de caligrafia rs
taís Vinha disse…
Renata, eu também! Menina gosta de cada coisa...
Muito interessante sua saída, dá para plicar em várias áreas, rsrsrs.
Bjins
Mabel Ide disse…
Sou professora de geografia e tenho tido problemas com a escrita dos meus alunos. Muitas vezes não consigo ler as respostas dadas por eles nas avaliações. Sou obrigada a considerar errada a questão. Isso somente porque muitos alunos não sabem desenhar o nosso código.
Tenho me perguntado se não foi equívoco ou preconceito terem acabado com a caligrafia obrigatória no primeiro seguimento do Fundamental.Tudo bem que poderia ser menos impositiva, mas acabar gerou um outro problema. Se cada um desenhar o código como quiser a comunicação por escrito vai ficar difícil e com o tempo vai se perder a forma.
Vou pegar um sexto ano esse ano e estou pensando em introduzir um pouquinho de caligrafia. Estou procurando algumas atividades interessantes pra ficar o menos chato possível.
Tais Vinha disse…
Oi Mabel, deveria ter respondido seu email antes, mas ele acabou se perdendo na minha lotada caixa postal. Desculpe!

É bom que fique claro que eu não defendo a ilegibilidade da letra. Se der uma busca por outros textos do blog sobre caligrafia, verá que minha postura é contrária aos exercícios massificados de caligrafia, como se o peso "letra bonita" fosse muito maior do que "conteúdo".

Vejo as escolas gastando um tempo precioso com exercícios mecânicos e pouco com estímulo criativo, investigativo, experimental.

Mas é claro que as criança precisa aprender a escrever de forma legível e, no 6º ano, isto deveria estar acontecendo. Se não está, algo está ocorrendo na escola que vc leciona. Seria interessante compartilhar sua angústia com os professores dos outros anos.

Não tenho competência para lhe sugerir métodos pedagógicos. Mas eu faria uma avaliação diagnóstica da situação, conjunta com outros professores (afinal o problema deve afligir a toda a equipe). E aplicaria os exercícios apenas para os alunos que precisam, explicando claramente, em particular, apenas aos que necessitam, que na comunicação escrita, as pessoas precisam se entender e que não está dando para entender o que eles escrevem. E isso pode lhes prejudicar, inclusive na nota, já que não é possível avaliar o quanto eles sabem devido à ilegibilidade do texto.

E aí sim, vc pode desenvolver atividades focadas, com quem está precisando de ajuda. Para os demais, não faz sentido. Eles podem desenvolver outras atividades.

Vc também pode sugerir jogos e brincadeiras onde a compreensão da escrita seja fundamental, como uma caça ao tesouro, com pistas que os alunos escrevem (pode relacioná-las com a geografia, para contextualizar). Um mural de recadinhos, para que eles troquem mensagens e etc. Uma troca de cartas com amigos de outros países.

Tudo para que eles se conscientizem da necessidade de se obter a compreensão do outro.

Uma boa estratégia é agir de forma interdisciplinar, assim o esforço será conjunto.

Um abraço e nos conte como estão indo as coisas.

Taís
Anônimo disse…
Nossa meninas, sou professora e quando leio alguns comentários como os que foram colocados, consigo entender como é difícil fazer os alunos entenderem que as regras "adotadas nas escolas" são em geral regras pra vida deles... Outro dia estava corrigindo a redação de um aluno. aliás um ótimo aluno, com boas notas e sociável também, e lamentavelmente sua letra era ilegível...coitado dele quando for fazer sua redação no vestibular ou prestar um concurso que exija uma prova escrita. Mais como uma de vocês mesma falou, "isso deixo a cargo da escola, tenho muito mais outras preocupações, do que cuidar da caligrafia do meu filho”. É bem possível entender porque o índice de criminalidade aumentou nos últimos anos,em todas as classes sociais. São crianças, que muitas vezes, nunca foram orientadas sobre as regras mínimas, são os criminosos do amanhã. Tive um aluno avesso as regras da escola,seus pais eram omissos na parceria da escola, assim como muitos são, e sempre achavam as coisas da escola infudáveis.Hoje, esse aluno, já adolescente infelizmente, ainda continua sem entender , que fora da escola e da sua casa, as regras se fazem valer... A vida para quem tem o rei na barriga é a mais dura das escolas. E olha posso afirmar, nos mais de 20 anos de trabalho docente, desempenhado com muito amor, já vi mais pais sofridos diante da errada criação que deram a seus filhos do que pais felizes.
Abraços, não me levem a mal, mais é que muitas vezes a alienação dos pais é muito gritante, e precisamos ficar atentos, a que tipo de cidadão queremos formar? Porque uma coisa eu também afirmo, os alunos passam pela escola, mais filhos eles serão para sempre.
Tais Vinha disse…
Oi Anonima, agradeço seu comentário. É sempre muito importante conhecermos o ponto de vista do outro e como professora você tem muito a acrescentar a essa discussão.

Acredito que você não tenha lido com atenção a todos os comentários. Em nenhum momento foi defendido que a letra deva ser ilegível. Pelo contrário, como você pode constatar lendo o comentário logo anterior ao seu. Sugiro também que leia os demais textos sobre educação do blog pois defendemos com unhas e dentes a aplicação justa de regras. Somos mães presentes e ativas. Mas que se dão o direito de refletir e questionar. E é questionando e refletindo que o mundo evolui, concorda?

Quanto a filhos com "vida de quem tem o rei na barriga" e a sermos pais alienados, afirmo que você errou de blog. Ou formou sua opinião sem se preocupar em ler com mais atenção o conteúdo oferecido pelo blog. Os leitores do Ombudsmãe são pais e mães batalhadores, presentes e a fim de se informar e agir para um mundo melhor. A começar por suas casas e a escola dos seus filhos. Esta atuação pode até incomodar, afinal, estamos cutucando uma instituição com desempenho sofrível (vide os últimos resultados no Pisa, Saresp, Ideb, Enem, índices de evasão e etc), mas que insiste em não olhar para dentro de si própria para tentar ver o que está errado. O "defeito" está sempre do lado de fora dos muros.

Quando a escola parar de dar puxão de orelha nos pais e passar a nos visualizar como parceiros na incrível jornada da educação, verá que temos muito a contribuir.

Abç!
dovalle disse…
Compartilho com a professora anônima. O Mal da sociedade é o excesso de liberdade que os nossos jovens recebem principalmente dentro de casa. Se fazeé caligrafia é atividade cansativa então o que será desses futuros adultos quando estiverem trabalhando cansados no capitalismo? Sou professora do 2 segmento do fundamental e estava pensando em trabalhar caligrafia com os alunos apesar de não ser minha função visto que tais atividades são em regra passadas pela professora do 1 segmento e esses alunos já deviam chegar a tal série com letra legível. Diante da opinião de alguns pais apoiando seus filhos a não fazerem caligrafia irei recuar, se as letras dos seus filhos são medonhas o problema é dos pais. Sou paga para dar aulas da minha disciplina e ponto. Imagina, leitoras, eu cheguei cansada, podendo ler um livro etc, estou pesquisando sobre caligrafia porque fiquei preocupada com o desenvolvimento dos alunos e sei da importância de se ter uma caligrafia razoável . Então vem um pai ou uma mãe que apoiam seus filhos na indisciplina da tarefa e acredita que a escola que deve dar seu jeito! É no mínimo desrespeitoso com o trabalho do docente. Por isso que esses alunos chegam ao sexto ano não conhecendo diferenciar uma letra maiúscula da minúscula. Quando ingressei no magistério, um professor antigo disse: quer conhecer um aluno olhe para seus pais. Lendo nesse site os comentários anteriores vejo que ele estava certo.
Renata Leite disse…
Não resisti. Também sou professora de Língua portuguesa do 6º, 7º e 8º anos de um grande colégio e e tenho 20 anos de experiência. E veja só, pesquisando sobre atividades de caligrafia para o próximo ano, achei este blog e estes comentários. Confesso que faço uso de folhas de caligrafia daqueles caderninhos baratinhos para os alunos que precisam desse trabalho e, eventualmente, proponho a todos e meu objetivo tornar as letras mais legíveis pura e simplesmente. Procuro não exauri-los com tal atividade mas as considero necessárias.
O mais preocupante, no entanto é realmente a filosofia do "faça o que achar melhor pra você, meu filho", uma proposta de liberdade de escolha quando, às vezes o rebento ainda não tem maturidade para certas escolhas. Aliás, me perdoe, a história da escola de freiras é realmente uma lástima, pois os PAIS SIM têm que cuidar pra que seus filhos sigam as regras da escola e não a escola se virar pra lidar com um rebelde apoiado pelos pais. Sou mãe também, e questionadora, mas deparo-me com frequentes questionamentos de minha filha de 9 anos que quer usar adereços e batom na escola porque suas colegas usam, os pais autorizam mas a escola não. São as regras da escola e não é nada absurdo nem arbitrário e fazer com que minha filha siga as regras da minha casa, da sociedade e da escola é minha função SIM.
Por fim, repito o que a colega disse acima que quando vemos os pais entendemos completamente o aluno e temos em sala e arremato dizendo que não existem filhos problemas mas pais problemas.