Atravessamos momentos doloridos neste segundo
semestre.
Entre eles, uma perda de um ente muito, muito amado.
Por conta da doença que o levou, precisei me afastar de casa
por alguns meses, deixando para trás filhos e marido.
A equipe era unida. Ficaram todos bem. Bom saber que mãe faz
menos falta do que supomos.
Mas na escola os efeitos da confusão familiar surgiram. Cada filho extravasando da sua
maneira a dor.
A professora de um deles me encontrou num final de semana em
que pude vir para casa:
"Eu soube o que está havendo na vida de vocês. Sinto
muito. Me avise se puder ajudar com algo."
"Meu filho te contou?"
"Ele não disse nada. Mas percebi que havia algo
diferente. Pequenos sinais. A mochila estava vindo incompleta, ele deixou de
fazer algumas tarefas, ficou meio avoado na sala. Nada muito sério, não se
preocupe. Mas achei melhor conversar com ele para ver se algo estava acontecendo
e ele me contou. Foi assim que fiquei sabendo sobre a doença do avô e seu
afastamento."
"Não sabia que ele tinha mudado na escola. Quando ligo para
casa eles me dizem que está tudo bem."
"Mas ele está bem. Apenas lidando com a situação. Fique
tranquila que entendi o que houve e está tudo certo. Estou dando uma atenção
maior a ele neste período e parece que está funcionando. Pode viajar
sossegada."
A sensibilidade da professora me tocou profundamente e me
deu o apoio que eu precisava sentir naquele momento tão difícil de nossas
vidas. Até hoje, meus olhos se enchem de lágrimas quando me lembro dessa conversa.
Neste ano, tratei aqui no blog de vários temas envolvendo a
parceria família escola. Faço questão de fechar o ano com este episódio. Ele me
mostrou que é possível olhar para uma criança, em meio a tantas outras, e não
ver nele um relaxado, um desatento, uma mãe relapsa, um encaminhamento para o conselho tutelar.
É possível identificar nas
atitudes negativas de um indivíduo ainda em formação, um pedido de ajuda. E
essa ajuda não precisa ser sobre-humana. Ela vem com o olhar, a compreensão, a
empatia, o estímulo, a transmissão da confiança que "está tudo bem"
num momento em que tudo em volta daquele aluno não vai nada bem.
Obrigada, professora, por ter segurado na mão do meu filho
durante esta difícil travessia.
Estaremos todos de volta, firmes, fortes e refeitos em 2012!
P.S: Um outro filho viveu o momento com irritabilidade e
falta de paciência com os colegas, chegando a agredi-los. A professora dele
teve exatamente a mesma atitude dessa que relato. Investigou o que estava
acontecendo, entendeu a situação e ficou mais atenta àquela criança, que logo
superou o momento difícil. Não chegou nem a conversar comigo. Teve a sensibilidade de aguardar o meu retorno, marcar uma reunião e me contar como ele agiu e o que ela e a escola fizeram para ajudá-lo.
Tenho sorte com os mestres? Não creio. Eles estudam em
uma escola que investe na formação continuada de educadores. A equipe participa de grupos de estudo, no qual refletem e
avaliam o trabalho em sala. É uma escola com coordenadores presentes. Os
professores se
sentem apoiados e, ao mesmo tempo, responsabilizados em desenvolver um bom
trabalho. Esse trabalho contínuo valoriza o trabalho do professor e lhes dá
instrumentos para lidar com diferentes situações inerentes do ofício.
P.S.2: Se estiver escolhendo escola, pergunte como é feito o trabalho de formação de professor. Este tem que ser sistematizado. Profissão de professor não é intuitiva. Exige técnica e aprimoramento constante. Fuja das escolas que não tem um trabalho sério de estudo e acompanhamento do trabalho em sala de aula. É um crime uma criança depender da sorte para ter uma boa educação.