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Mostrando postagens de agosto, 2017

Faltam culhões

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Faltam culhões Aurora, a bionda, é uma calabresa baixinha, de pele bronzeada que contrasta com o forte descolorido dos cabelos. Adora usar vestidos curtos, saias rendadas e sapatos de salto bem alto, que a fazem caminhar com uma certa dificuldade pelas ruas de pedra do centro histórico de Spoleto, na Itália central. É minha vizinha de porta e toda as vezes que nos encontramos, deixa claro como sente falta do sul do país. É raivosamente infeliz aqui. Não gosta do povo que acha frio e esnobe, e diz isso empinando o nariz e alisando-o de baixo para cima com o indicador. Também não gosta do pão, do clima e sente falta dos peixes comprados diretamente dos pescadores que aportam nas praias de sua Catanzaro. Convidou-me para um café. Mostrou-me fotos da família e do marido falecido há seis anos. Era um homem belo. Acende um cigarro para contar que foi um câncer de pulmão que o levou tão cedo. Depois dele, nunca mais teve outro homem: “Sou fiel!”.  Com a morte do pai, os fil

O naná esquecido

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O naná esquecido Quando pequeno, o irmão tinha um “naná”. Um cobertor de berço que ele carregava pra todo o canto desde que nasceu. Tinha um tom encardido e um cheirinho azedo, mistura de sujeira, xixi, suor, suco de fruta, biscoito e outros nojinhos que compunham o aroma que o menino adorava sentir enquanto chupava o dedo e alisava as bordas puídas. Lavar o naná era proibido. Nas poucas vezes que o fizeram escondido, o resultado era um furioso ataque de indignação diante da traição revelada através do perfume do sabão Minerva. O jeito era dar banhos de sol e torcer para que o calor escaldante do interior paulista desse uma amortecida nos germes.  Eram os anos 70 e, um dia, o pai anuncia uma ida pra longínqua cidade de Caraguatatuba. “Vamos ao mar!” Mil preparativos para enfiar a família de cinco filhos na Caravan. Malas, despesa de supermercado pra vinte dias, boias, pranchas de isopor e 7 horas de estrada. Chegam exaustos e na hora de dormir, bate o