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Mostrando postagens de 2014

Sair do armário é libertador.

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Sair do armário é libertador. Assumir que você vai votar num candidato do PT não é fácil. A pressão contrária é imensa. As pessoas na sala de jantar presumem que por você estar ali, comendo o que eles comem, vestindo o que eles vestem, bebendo do mesmo vinho, você também tem que pensar igualzinho.  Qualquer questionamento gera desconforto e, muitos simpatizantes da estrela vermelha, pelo bem do encontro, preferem escutar a conversa em estado “Ohmmmmmm”, sem se manifestar.  Confesso que essa tem sido eu em muitos pleitos e rodas sociais. Mas dessa vez, escancarei. Saí do armário, mostrei quem sou, liguei o foda-se.  “Vou votar na Dilma!” E o que aconteceu a seguir foi incrível. Alguns amigos se afastaram. Tudo bem, não eram amigos. Outros se aproximaram. Ueba, a fila andou e com gente bem mais interessante. Alguns discordaram com todo respeito. Continuamos amigos e nossa amizade ganhou transparência e um carinho sincero. Alguns me ofen

O diploma de datilografia

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O diploma de datilografia. Abriu uma pasta com documentos antigos e se deparou com um diploma meio amarelado, de papel encorpado e pequenas trincas nas bordas. No cabeçalho, em letras pomposas, estava escrito “Diploma de Datilografia”. Pegou uma xícara de chá, sentou-se e deixou que viessem as recordações. Estava na sexta série quando a mãe a matriculou no curso de datilografia da Dona Cidinha. Lembrou-se da sala cheia de máquinas Remington, das pilhas de papel jornal que eram aos poucos preenchidas com linhas infinitas de A [espaço] Ç [espaço] S [espaço] L [espaço] D [espaço], dos dedinhos magros que voltavam para casa doloridos e sujos de tinta. Na família era regra que os filhos fizessem o curso de datilografia quando chegassem ao ginásio. Exigência dos pais para que eles se preparassem para o futuro.  Ironia.  O futuro virou presente, o mundo deu mais voltas que as bobinas de fitas preta e vermelha das máquinas de escrever e o curso tão importante pa

Barrado no shopping

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Barrado no shopping Ontem, meu filho foi barrado na entrada de pedestres do Shopping Vale Sul, em São José dos Campos. Ele estava sozinho. Assim mesmo, o vigia colocou as mãos em seus ombros e disse que ele não ia entrar porque ali não podia “rolezinho”. Meu filho, indignado, respondeu que aquele era um espaço público/privado e que ele tinha direito de ir e vir. Pediu então que o vigia chamasse o jurídico do Shopping para resolver a questão. Na mesma hora, o guarda pediu desculpas e o liberou. E eu, pra variar, fiquei com a pulga. Meu filho foi barrado porque é adolescente, andava a pé e usava touca.  Depois foi liberado, certamente, porque o vigia identificou no modo dele falar que ele não pertencia à categoria “moleque da perifa”. Me pergunto o que teria acontecido se ao invés de cobrar seus direitos ele tivesse dito: “Qual foi, guardinha?!”, ou “Libera ae, tiozinho!”.  Gestores do Vale Sul, por favor me respondam: onde, na Constituição Brasile

Não me convidem para a reunião de Pais e Mestres.

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Não me convidem para a reunião de Pais e Mestres. Queridos educadores, Vocês vivem nos dizendo que a relação escola família é fundamental para o aprendizado dos nossos filhos. Eu também acredito nisso. Por isso lhes peço, na próxima reunião de Pais e Mestres, não me convidem. Prefiro não mais comparecer, pois todas as vezes que vou a esses encontros, saio achando que vocês não fazem questão alguma de se relacionar comigo. Não me levem a mal, mas acho que a reunião de pais e mestres é um momento precioso. Compareço a todas, buscando entender melhor a proposta educacional da escola, os projetos que vocês estão desenvolvendo, a avaliação dos caminhos trilhados e saber dos planos futuros. Gosto também de escutar os desafios, as dificuldades que o grupo enfrentou, os conflitos, ouvir relatos de como os nossos filhos estão aprendendo a viver no coletivo, com todas as suas dores e delícias. É muito legal quando a escola usa este tempo que passamos juntos para se apro

Sherekas na praia.

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Sherekas na praia. Três mães tomam caipirinha na areia enquanto os filhos estão no mar pegando jacaré.  - Gente, a Fulana veio me pedir um conselho. O Beltraninho quer ver mulher pelada e pediu que ela compre uma Playboy pra ele. Ela não sabe se compra ou não. - Quantos anos o Beltraninho está? - Dez. - E o que você disse pra ela? - Disse pra comprar logo a revista pro menino, oras! - Ah, me desculpe, mas eu discordo. - Como assim? - Flor, deixa eu te dizer, mãe é mãe. Tem um código. E nesse código está escrito que não fornecemos álcool, cigarro, maconha e mulher pelada. - É verdade. Ele que se vire. Dez anos já consegue espiar num buraco de fechadura, roubar revista da portaria do prédio… - ...Google, flor. Vai dizer que ele ainda não aprendeu a digitar “mulher pelada” no Google? (Risos) - Aliás, outro dia uma amiga minha foi fazer uma busca no Google, botou a letra "S" e o Google completou "Shereka". (Risos) Foi o filho dela

A observadora de mísseis.

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A observadora de mísseis. Conheci Dalal em Tel Aviv. Não sei bem sua idade. Mas é idosa e caminha com uma certa dificuldade, arrastando suas pantufas calçadas sobre meias para varizes, que vão até o joelho. Dalal não se cobre, porque é árabe cristã. Nasceu e cresceu na região e foi testemunha de todas as suas transformações, desde a ocupação inglesa na Palestina até a formação do Estado de Israel.  Conta que seus olhos já viram muita coisa. Guerras, revoltas, atentados, terrorista sendo arrastado vivo em motocicleta, terras tomadas e famílias apartadas. Viu a chegada dos judeus, com seus hábitos estranhos de gente que vem de terras ainda mais estranhas. Viu chegarem os etíopes e suas mulheres de rosto fino e tatuado. Viu nascer árvore onde era deserto e cidades em locais onde nem as ovelhas queriam pastar. Se um dia os judeus fossem embora, Dalal diz que iria com eles. Diante da minha surpresa ela explica que prefere a vida daquele jeito. Diz que antes era muit

Avisado!

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Avisado! - Moça, quero meu ingresso de volta. - O que houve senhor? - Essa porra de filme é uma viadagem só.  - Senhor, posso ver seu ingresso?...Desculpe, mas aqui está carimbado que o senhor foi avisado do conteúdo homossexual do filme. - Sim, mas eu achei que o Capitão Nascimento ia entrar no barraco e encher de tapa esses viadinhos filha da puta. - Não entendi, senhor… - Porra, quando eu ia imaginar que o próprio Capitão Nascimento é um tamanho baitola? - Senhor, esse filme não é do Capitão Nascimento. - Como não? Olha o cartaz, minha filha! - Senhor, aquele é o Wagner Moura. O ator que fez o Tropa de Elite. Mas esse é outro filme, outro diretor, outra história... - E você me avisou? Cadê o aviso…”CUIDADO, NÃO É TROPA DE ELITE”? - Senhor…eu não sei o que dizer… - Óbvio que não sabe. Porque eu estou certo. Me devolve meu dinheiro e encerramos esse assunto. Eu não vou pagar pra ver bichinha se pegando.  - Clayson, QAP? To com u

A escola humanizada precisa existir.

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A escola humanizada precisa existir. Agora que a escola com tecnologia começa a existir , fica a pergunta: Quando os prefeitos e governadores vão investir na escola humanizada? Uma escola onde o respeito mútuo é a base das relações. Onde os alunos se sintam acolhidos, valorizados e queridos. E os mais vulneráveis se sintam seguros. Uma escola que defenda valores humanos, não apenas nos murais, mas no dia-a-dia, exemplificando na prática e na postura dos educadores, o que é ou não aceitável numa sociedade verdadeiramente humana e justa. Quando teremos escolas com prédios felizes? Espaços alegres e aconchegantes, como devem ser os locais onde se promove o saber. Locais tão queridos que as comunidades se apropriam, sentem-se parte e zelam por eles. E não lugares sombrios, com aparência de delegacias cinzentas, cheias de grades e cadeados, de onde a única coisa que se quer é fugir. Então, senhores governantes, quando virá a escola feita para promover o ser h

A escola interativa começa a existir

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A escola interativa começa a existir. Uma das mais ousadas experiências em educação pública está pra acontecer em São José dos Campos. A cidade, polo aeroespacial, agora também vai levar tecnologia para todas as escolas municipais. É o projeto Escola Interativa, que já começou dando um notebook para todos os professores e instalando projetores interativos e banda larga de 30 mega, nas 600 salas de aula do ensino fundamental. Agora, a partir do segundo semestre, o projeto se amplia com a doação de um tablet por aluno do 6º ao 9º ano e, a partir do ano que vem, do 1º ao 5º. O que mais me chamou a atenção neste projeto é que, apesar de sua grandiosidade, ele foi concebido para ser apenas mais uma ferramenta para o professor, que ocupa lugar central no plano. O sistema lhe dá total autonomia de uso, permitindo que ele escolha como usar as ferramentas e quando. Também permite a gestão total dos tablets dos alunos. Por exemplo, ele pode bloqueá-los quando quer a galerinha focada em

Músico de rua.

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Músico de rua. É do tipo de mãe que procura apoiar o filho em todas as suas iniciativas.  Aos cinco ou seis anos, o menino inventou de tocar um instrumento na rua, como os músicos que via nas idas ao centro da cidade. E levaria seu chapéu de mágico para colher as moedas que por acaso alguém lhe desse.  A mãe comprou a ideia na hora. Achava positivo ele viver essa experiência. Foram até a praça central e escolheram um cantinho movimentado para o garoto tocar. Puseram o chapéu para os trocados e combinaram da mãe ficar meio afastada, num ponto onde ele pudesse vê-la.  O menino começou a tocar sua concertina e logo chamou a atenção dos transeuntes. Uns achavam fofo aquele menino tão pequeno e tão concentrado em tocar seu instrumento. Outros sorrindo lhe davam moedas ou guloseimas. Alguns paravam pra ouvir.  Ficaram ali uma meia hora. O menino encarnado no papel de músico e a mãe orgulhosa espiando de longe. Até que um guarda se aproximou e perguntou se ela e

Bafômetro

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Bafômetro Mães se encontram para uma tarde de amizade e filhos. “Menina, te contei que fui parada na blitz do bafômetro?” “Não! E aí?” “E aí que eu estava voltando de um jantar e tinha tomado umas cervejinhas.” “Jura?! E você foi pega?” “Vai escutando…eu disse pro guarda que tinha visto um documentário sobre o assunto e que não era obrigada a produzir prova contra mim mesma.” “E ele?” “Ele riu e disse que ia ter que me levar. Não sei pra onde, mas ia me levar. Daí ele me perguntou, bem na boa, se eu tinha bebido.” “E você contou?” “Ah, contei que tinha bebido uma ou duas cervejinhas e que não ia fazer o teste nem morta. Ele foi bem solidário, sabia? Disse pra eu relaxar e soprar que podia dar bem baixo e isso não era tão grave. Eu pedi um tempo para pensar. Encostei o carro e fiquei ali parada sem saber o que fazer. Rezei pra tudo que é santo. Até que passou um tempo e ele voltou dizendo que não dava mais pra esperar. Ou eu soprava ou ele

TDAM - Transtorno de Déficit de Atenção de Mãe

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TDAM - Transtorno de Déficit de Atenção de Mãe O menino sempre foi muito esperto e inteligente. Mas não tinha uma relação tranquila com a escola. Apesar de mais velho da turma, foi um dos últimos a ser alfabetizado. Era distraído, irrequieto, ao mesmo tempo participativo, do tipo que sempre se destaca na classe, mas quando chegavam as notas, estava sempre na média, ou abaixo dela. Em casa, só parava quieto pra jogar videogame. A tarefa era um transtorno. Levava horas para fazer um exercício facilmente solucionável em 15 minutos. E sempre a pulso.  Os pais e a escola conversaram algumas vezes. A conversa sempre muito boa. O menino é mesmo desatento, nada fora do normal, mas é preciso sempre “buscá-lo”. Traçaram combinados de ações conjuntas. E tudo caminhou relativamente bem, respeitando-se o ritmo e o jeito do menino, até que veio o famigerado quarto ano. A escola construtivista não aplicava provas até o terceiro ano. Esse processo de avaliação iniciava-se apena

Miley Cirus, coma feijão.

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Miley Cirus, coma feijão. Família reunida em volta da mesa para o almoço de domingo. A pequena, de sete anos, começa a cantarolar uma música enquanto se move sensualmente na cadeira e lambe a colher de um jeito suspeito. Um segundo de constrangimento e a mãe entra em cena do jeito mais natural que consegue:  "Filha, que é isso?"  O primo, da mesma idade, responde por ela:  "Tá imitando aquela cantora que canta PELADA aquela música da bola."  "Ãhn?! Que música, que bola?"  As crianças descem da mesa e voltam correndo com um tablet.  "Olha, mãe, o vídeo da Miley Cirus...tá vendo..."  A família se reveza para assistir ao clipe que mostra a ex-personagem da Disney, Hanna Montana, balançando nua numa bola de demolição enquanto lambe um martelo de forma bem sugestiva. Tentando se recompor do susto por "aquilo" estar no tablet dos titicos, a cunhada comenta:  "Nossa, mas por que ela lambe

Quem escolhe a escola são os pais.

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Quem escolhe a escola são os pais. O menino chega em casa afoito:  - Mãe, no ano que vem, quero mudar de escola. Você me coloca no Octógono? - Ué, mas você adora sua escola! É por causa dos seus amigos, não? Alguns vão para lá no ano que vem e você não quer se separar deles.  - É, mãe. Todos os meus amigos vão estudar no Octógono e eu não quero ficar sozinho.  A mãe nega e a batalha começa. O menino pede, implora, tenta negociar, chora e faz malcriação. A mãe argumenta que ele fará novos amigos. Mas nada adianta e a insistência quase a leva à insanidade.  Ela se afasta aborrecida e quando a coisa esfria, chama o garoto pra uma conversa.  - Eu sei que você quer muito ir pro Octógono. É uma boa escola, alguns de seus amigos estão indo e você gosta demais deles. Também estou sabendo que um de seus melhores amigos vai pra lá e isso deve doer muito. Em você e nele. Mas, seu pai e eu levamos muito tempo escolhendo a escola que achamos melhor para você e para