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Mostrando postagens de abril, 2013

O cisco e a trave.

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O cisco e a trave.  Um israelense me contou sobre a vida dos árabes em território judeu: "A gente está se lixando para o que eles fazem entre eles. Não estamos nem aí se eles se espancam, se matam, se acabam. Se é entre eles, nossa polícia não se mete. Não perdemos tempo com esse povo. Eles não são gente, são animais." Fiquei chocada com a sinceridade do relato. E, com um ufanismo que geralmente nos acomete quando nos afastamos da pátria amada, pensei que pelo menos nesse assunto o meu País estava acima do dele. Foi Cida, empregada doméstica crescida na periferia de Osasco, que me fez ver que, enquanto eu apontava para o cisco no olho do meu amigo israelense, deixei de ver a trave enterrada até o fundo do meu. Estávamos preparando o almoço quando a cozinha foi invadida pela campanha contundente da Rádio Bandeirantes pelo fim da maioridade penal. Vinha com a chancela do próprio governador de São Paulo, defendendo a mudança na lei. Cida para de lav

Arcangela

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Arcangela No parapeito do navio, Arcangela se debruça e chora. Chora por sua bela Itália, enorme no peito e cada vez mais pequenina no horizonte.  Chora por ser mulher e ter que acompanhar seu homem a uma terra distante, feita mais de sonhos do que de chão.  Chora pela mãe, impedida de embarcar por um mal súbito de pele e pelo abraço longo que teme ter sido o último que deram nessa vida.  Chora pela saudade em forma de carta e pelos meses que levarão para que as notícias atravessem o oceano. No parapeito do navio, Arcangela se debruça e chora.  Chora pela filha que ainda não teve e pela sua inescapável sina de mulher que dará luz, lavará, coserá e alimentará a vida.  Chora pelos netos que ajudará a criar como se fossem os filhos queridos que Dio irá lhe negar.  Chora pelo marido que nunca encontrará pepitas de ouro nas ruas da terra prometida. Nem depois de varrê-las, cuidadosamente, no emprego de gari que arrumará após fugir da escravidão da faze