O que podemos fazer?

Semana difícil essa. Dolorida e infelizmente gravada para sempre e de uma forma cruel na memória coletiva.

Enquanto todos correm para lá e para cá, buscando uma explicação que ao menos explique a brutalidade da tragédia (ela existe?), um grupo de mães se organizou e escreveu uma carta sobre nosso papel nessa sociedade tão complexa e tão precisada de gente do bem.

Não participei da redação da carta. Mas me identifiquei e me senti no dever de retransmiti-la. Fiquem todos a vontade para também passar adiante ou publicar.

Um beijo e paz!

P.S: caso opte por publicar no blog, linque no endereço:
http://futurodopresente.com.br/blog/index.php/2011/04/carta-aberta-as-maes-e-pais/




Que futuro terão nossos filhos?
            
Ana Cláudia Bessa - www.futurodopresente.com
Cristiane Iannacconi - www.ciclicca.blogspot.com
Letícia Dawahri
Renata Matteoni - www.rematteoni.wordpress.com


Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convocá-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores.

A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados?

Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças! Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.

Se desejamos alcançar uma paz real no mundo,
temos de começar pelas crianças.   Gandhi

O que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?

Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?

O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.

O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter. Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?

Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!

Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência? Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.

Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.

Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!

Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.

Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é? Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor! Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.



Comentários

Hegli disse…
Perfeito!!!!!!! Sem tirar nem por!
Bjus
Tais Vinha disse…
Hegli, você é especial. Um beijo!
tais,
ando bastante preocupada com isso. parece que fazer minha parte é insuficiente, assim mesmo é a única coisa que posso fazer.
excelente a carta!
abraços
Luana disse…
Já parabenizei as meninas e também já compartilhei a carta! Ótima!
Vamos continuar sim fazendo mais e mais barulho.

Beijoca
Anne disse…
Muito pertinente para mim hoje... Ando bem cansada de mães e pais com pouca vontade de pegar para si a responsabilidade em problemas sociais como esse!
Essa semana tenho falado sobre a escola do meu pequeno, e quanto acredito nela.
Temos muito mesmo a refletir e cobrar.
Temos que assumir a responsabilidade por esses atos!
Excelente carta, vou compartilhar também!
Bjos
Tais Vinha disse…
Mariana, eu te entendo muito bem. Mas penso que só o fato de haver um grupo de pais e mães refletindo sobre sua responsabilidade perante o mundo e reconstruindo seu papel, já é um avanço incrível. Vamos cada um cuidar de fazer sua parte. No seu pedacinho de chão. Que grudado com outro pedacinho e com outro e com outro, formam um planetinha melhor.

Bjs!
Tais Vinha disse…
Luana, é isso aí...vamos fazer uma força contrária àqueles que só divulgam a loucura e a tragédia.

Anne, a parceria escola família é fundamental para uma sociedade mais humana, estruturada e ética. Vc tem toda razão. Somos todos responsáveis pela formação dessa garotada que está aí.

Um beijão!
Unknown disse…
Meninas, muito bom! Eu penso nisso dia e noite, noite e dia...acredito que se cada um fizer a sua parte, alguma coisa pode mudar sim. Não dá pra ficar sentada esperando pelos outros, né?

bjos e parabéns pela iniciativa!
mary jane yépez disse…
O primeiro passo, talvez,seja o fato de os pais se vestirem e revestirem de paternidade.Há que se criar relógios onde horários para filhos sejam agendados , com o nome deles em letras garrafais; é preciso " tempo" para o contato,para a audição das queixas e carências e para as " histórias" várias de cada um- seus dias, travessuras,os fatos mais importantes( só para eles- os filhos) e que, portanto, precisam ser ouvidos pelos seus maiores heróis: os pais! É preciso que entendam que, atualmente, mais que nunca, são espelhos embaçados pelos compromissos inadiáveis e que , sendo assim, não refletem...estão empoeirados...não harmonizam...se deixam ofuscar. A família é a célula mater da sociedade. E, fragmentada,desconstrói, anula...aniquila.Ficam faltando o pai, a mesa , o pão...o encontro certo e contínuo...os olhos nos olhos...os princípios...as mãos!