Moralidade infantil não é coisa de ET.


O assunto "educação moral" parece algo extremamente careta. Ainda mais para quem estudou na época da ditadura e teve aulas de "educação moral e cívica". Ou para quem acha que educação moral tem a ver com religião ou com as Senhoras de Santana.

Não é nada disso. A educação moral é uma área fascinante da educação, uma luz no fim do tunel nestes tempos de tecnologia avançada e comportamento social pré-histórico.

Os estudos sobre a moralidade infantil permitem ao educador trabalhar de maneira muito positiva os conflitos, as transgressões, as relações humanas, a ética, o consumismo, a violência e todas as demais questões da moral humana que, obviamente, estão presentes e efervescentes dentro dos muros da escola.

E o mais interessante é que tais questões não são trabalhadas em forma de aula ou sermão. A educação moral é quase uma postura, uma ferramenta que o educador utiliza na condução de todas as demais atividades. Ela muda a maneira com que se fala com a criança, com que se elabora as normas, com que se resolve os conflitos, com que se pensa a disciplina.

Um educador para a moralidade não vê o aluno como um contraventor, mas sim como alguém que ainda está aprendendo, desenvolvendo sua moralidade. Para ele, conflitos são benéficos pois são oportunidades preciosas de aprendizagem. É uma forma completamente distinta do tradicional "eu mando, você obedece." É um conhecimento transformador na sua essência.

Que fique claro: não se trata de fazer o papel dos pais. Muito pelo contrário. Trata-se da escola assumir sua função de parceira na formação de seres humanos autônomos. Ignorar tal responsabilidade é manter nossas escolas na eterna barbárie, onde alunos são tratados mais como prisioneiros que precisam de constante supervisão, vigilância e punições, do que como cidadãos éticos e capazes de se guiarem por conta própria no futuro.

Trouxe este assunto ao Ombudsmãe, pois esta semana, estarei participando do I Congresso de Pesquisas em Psicologia e Educação Moral que acontece na Unicamp. Saber que existem estudiosos de grosso calibre desenvolvendo esta área do conhecimento é, no mínimo, um alento para todas nós, mães questionadoras, eternas ETs das reuniões de pais e mestres.

Ficarei fora do ar até a semana que vem. Depois disso, me aguentem. Bjs!

Comentários

Pérola disse…
Vou aguardar o que vem por aí...
Fiquei curiosissíma pelo tema, vou dar uma pesquisada!
Bom Congresso!
Beijos,
Pérola
Nossa, que legal, please, repasse os conhecimentos adquiridos!!
Bjins
Unknown disse…
AHH, Vai ser aqui em Campinas?
Existe a possibilidade de nos encontrarmos? :-)
Cara de pau total, mas eu adoraria!!
Bjoks
Paula
Silvia disse…
Taís, depois você adapta e dá um curso pras mães! :-)
Paloma Varón disse…
Muito bom, Taís. Aliás, o blog todo. Vou linkar, tá?
Pérola disse…
Tem convite pra vc no meu blog!
www.mentalholic.blogspot.com

Beijos!
Márcia disse…
Tive a oportunidade de frequentar algumas palestras sobre educação moral. E li alguns livros. É uma das áreas mais interessantes da psicologia, a meu ver. Com ela nós temos um mapeamento do ser humano e de sua evolução e isso nos ajuda - e muito - a intervir nas ações dos filhos de forma construtiva.

Mas quero fazer uma ressalva sobre a mal-amada "educação moral e cívica", EMC.

Ocorre que sou totalmente a favor. Não do jeito que era ensinada, claro, mas sim com muita integração com nosso meio.

Eu tive aula de EMC e não tenho boas lembranças. Mas com o passar do tempo, essas lembranças adquiriram um novo significado para mim. Era quando eu aprendia sobre o Brasil e o jeito como ele funciona. Era a única conexão entre mim e meu país. Entre mim e o que entendo por ser brasileira, entre mim como atuo por aí.

Como minhas aulas ocorreram no final da ditadura, elas já nem eram levadas a sério pela própria professora. Então, não aprendi quase nada sobre os sistemas de governança, a distribuição de renda desigual, voto obrigatório (!), impostos, etc. Cresci totalmente alienada, sem aprender a ler jornal ou me interessar pelas questões da comunidade.

Tenho saudades de cantar o hino, porque gerava em mim o sentimento de pátria, que não deveria ser um substantivo, mas um adjetivo. E que nada tem a ver com o Brasil, mas com a experiência interna que temos ao sermos criados aqui. Tem a ver com aquele solzinho que manhã que batia nas nossas costas, com a brisa úmida da cachoeira e o cheiro da chuva. Isso é o sentimento de pátria de que sinto falta.

Sinto falta de não saber nenhuma data nacional, nem o que elas significam para a evolução de nossa civilização. Até hoje não li sobre o Zumbi dos Palmares, vejam só!

Hoje me interesso por isso, mas com 30 anos, depois de um longo percurso FORA do Brasil. Aí pude comparar e somente a partir daí me interessei por nós.

E estou certa de que, porque criou-se uma hojeriza pelo tema - justificada somente pela metodologia rançosa, a meu ver - até a autora desse blog levou seu tempo para se interessar por assuntos da comunidade e criar esse blog.

A falta de consciência nos faz viver em espaços mais privados e temer os públicos e nos impede de conhecer pessoas. Ultimamente, o espaço público mais utilizado é a internet!

Não nos apropriamos mais do que é coletivo e damos espaço para estes espaços se transformarem em qualquer coisa. Um exemplo é evitarmos os passeios noturnos, as pracinhas, que na minha época "só tinha maconheiro", era perigoso. As redescobri quando virei mãe.

Nos esquecemos de pressionar os políticos que elegemos, de lutar pela igualdade, de nos responsabilizarmos pela dignidade de nossos funcionários, muitas vezes favelados. Vemos com total passividade a destruição de nosso patrimônio histórico, nos acostumamos às estátuas pichadas, à demolição de casarões antigos! Para a história, a arquitetura e as artes são o mesmo que nossa carteira de identidade para os cidadãos. Mal frequentamos nossos museus e pagamos FORTUNAS para ver os museus da Europa.

As aulas de EMC deveriam se chamar "NÓS", ou "EU E NÓS", algo assim. Deveria primeiramente nos ensinar a falar como "NÓS SOMOS...", e não "BRASILEIRO É assim e assado." Deveria levar os alunos para conhecer as favelas, as escolas públicas. Levá-los às creches, aos hospitais públicos, à Brasília. Estudar a vida de políticos corruptos e honestos, suas casas, seu patrimônio, suas promessas e suas ações. Deveria nos ensinar a manipular os jornais, recortar fotos importantes e entender como os significados são manipulados pela mídia. Os alunos deveriam estudar sua comunidade, mapear seu bairro, entrevistar pessoas e suas experiências passadas - o vovô que viveu a ditadura, a mãe que perdeu um filho por inanição.

Isso é muito mais do que criar cidadãos. É criar seres humanos no maior sentido do termo. É moldar valores.

É nos ensinar a nos apropriarmos do que é nosso, nosso País.
Renata Rainho disse…
Tais boa balada.
Também sou um pouco como a marcia escreveu no comentário acima. Muitos brasileiros não conhecem nada além dos muros de casa e do colégio, uma pena!
Renata Rainho disse…
Hj lembrei do blog, li uma notícia que chegou muito lixo de londres...
Tais Vinha disse…
Queridíssimas! Obrigada pelos links, pelos presentinhos, pelo carinho. Adorei!

Paula, o negócio em Campinas foi imersão total mesmo. Fiquei exausta! Mas muito satisfeita. Na próxima te aviso com antecedência para combinarmos algo.

Marcia, seu texto é matéria para muitos outros textos no Ombudsmãe e em outros blogs. Vc tem toda razão. Nunca vi a EMC com este olhar. Tinha aulas com um padre, o Dom Aparício (lembra dele?) que só falava mal dos russos. Nunca aprendi absolutamente nada sobre o Brasil. Mas sabe o que é interessante, em muitas palestras do congresso o que mais afirmavam era da necessidade de inserir a escola na comunidade. De visitar áreas críticas, de se estabelecer metas e soluções. Pequenas, mas o suficiente para despertar este sentimento de comunidade nas crianças. Vc toca em outros pontos críticos, que ocorrem dentro das nossas residências, como a relação com funcionários em absoluta desigualdade e nossa passividade diante deste fato. Concordo, concordo e quero atuar mais neste sentido. Li um texto muito legal no Pipocando sobre as empregadas domésticas. Talvez vc queira ler.
http://rematteoni.wordpress.com/2009/07/08/donas-de-casa-empregadas-e-feminismo/
E meu "pensativo" do momento é viver uma vida mais comunitária, mesmo que dentro de um condomínio (para mim um símbolo da falta de vida comunitária).

Renata, qual era a notícia? Mande...

Bjs a todas e boas férias!
Anônimo disse…
Ai Tais, gostei que vc apreciou o tema. Isso tem sido uma questao para mim há tantos anos, desde que soube que a Tereza enterrou um filho - um filho, com nome, manhas e carinha de bebê - como indigente. Assim. Mas nunca achei que, no meio que gente criada com 2 empregadas a vida toda, isso seria realmente ouvido. O nosso mal-estar diante da miséria avassaladora dessas mulheres.
Mas a questão não era só essa... era a da EMC. Que, afinal, tem tudo a ver com isso.
Agora, EMC com um padre?? Nada contra, mas, fala sério! Dá para gostar? A minha professora era a Dona Leda, que já tinha uns 60 anos e só ansiava pela aposentadoria. Lembro que ninguém ouvia a voz dela na sala, de tanta baderna.
É legal a idéia de abordar esse tema no blog. Acho que será mais uma bela contribuição destrincharmos o assunto.
Bjao,
Márcia
Anônimo disse…
Ai, tinha esquecido do "pensativo" do momento. Ai, que engraçado! Até o Vitor riu, sem entender nada!

Meu deus, quando essas pessoas desfavorecidas param para pensar, é realmente assustador! Para trabalhador que arregaça as mangas todos os dias, literalmente, é claro: é o pensativo que atrapalha!
Taís Vinha disse…
Nossa, Márcia, cada vez que releio seu comentário vejo como vc foi fundo na questão. Somos mesmo uns alienados. Triste...Não sabia do filhote da Tereza. Eta povinho sacaneado, não? Leia o texto da Renata Matteoni. Acho que gera uma reflexão muito boa.

Bjs!
Anônimo disse…
Olá bonita este blog está bem organizado.........Boa pinta :/
Adorei faz mais posts deste modo !