"Por favor, mãe..."


Uma grande amiga me ligou:

"Oi, quer adotar um cachorro?"

"Ah, não sei. Quer dizer...quero, mas só se for filhotinho, macho e de pelo curto."

"Olha, é fêmea, mas é filhote e tem pelo curto. Na verdade é um casal. Se você ficar com a fêmea, eu adoto o macho. Com a fêmea eu não fico."

"Mas é filhote e tem pelo curto?"

"Sim."

"Ok, eu fico com ela."

Quando a Babi chegou a única coisa que batia com a descrição era o sexo. Tinha pelo longo, era adulta e estava prenha. Uma semana depois, além da Babi eu tinha 5 cadelinhas recém nascidas para dar destino. Mas, nos apaixonamos e vivemos 10 felizes anos, juntas. E eu continuei amiga da minha grande amiga.

Quando a Babi morreu, meu caçula começou a pedir que adotássemos um gato. Dizem que a humanidade está dividida entre as pessoas que gostam de gato e as que preferem cachorros. Eu, definitivamente, estou do lado dos cães. Mas, mãe é mãe e seis meses depois de insistentes pedidos, vamos ao abrigo escolher um gatinho.

Dessa vez estava esperta e decidida. Tinha que ser fêmea, filhote, pelo curto e não podia em hipótese alguma ser preta. Detesto gato preto. Toc, toc, toc.

No abrigo, a moça me apresenta uma gaiola com mais de 20 pequenos gatinhos. Cinza, caramelo, marronzinhos. As coisas mais fofas do planeta. Digo ao meu filho que escolha uma feminha. E a moça engasga.

"Ele não vai poder escolher um desses."

"Como assim?"

"Esses gatinhos são muito novinhos. A nossa veterinária não os libera tão novos, ainda mais para crianças pequenas."

"Ah, mas queremos um bebê."

"Olha, temos gatos maiores que darão ótimos animais de estimação."

"Não queremos um gato maior. Queremos um filhotinho."

"De qualquer forma, vamos lá no fundo para vocês verem."

Ela nos leva a uma parede repleta de gaiolas, com gatos adolescentes e adultos. Meu filho se encanta com um deles. Já está bem crescido, é macho e preto.

"Escuta, não queremos esse gato. Queremos uma fêmea, bebê e não preta."

Meu filho fala pela primeira vez: "Mas mãe, eu gosto desse."

"E ele já está castrado" completa a mocinha, fazendo um clique no meu lado calculista.

Pondero aqui, pondero ali e lá estou eu assinando os papéis para levar o recém nomeado Tóbi para casa. Macho, grande e preto.

Tudo certo. Tóbi no colo do meu filho, banhado, unhas cortadas, coleirinha e eis que a mocinha me chama de lado.

"Olha, a doutora me chamou e disse que este gato está doente. A senhora terá que dar remédio alguns dias para ele."

Pela primeira vez, faço algo que minha mãe era mestra em fazer e me matava de vergonha. Olho para a mocinha e fico vesga. Espantada, ela capta o recado.

"São só quinze dias de remédio..."

"Quinze dias?! E eu lá sei dar remédio para gato!"

"É superfácil, a senhora não terá problemas. Segure-o pelo pescoço, como a mamãe gata faria. Abra a boca...cuidado para ele não mordê-la, injete com a seringa, mas devagar, senão ele vomita tudo de volta."

"Facílimo, hein, flor. Era realmente tudo o que eu buscava quando resolvi adotar um bichinho."

Mas o meu filho estava em êxtase com o Tóbi no colo. Pego a receita e saio rosnando, com meu filho e o gato - macho, preto, grande e doente. Exatamente o que eu procurava.

Quer saber? Bichos são como filhos. Eles é que nos escolhem.

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom, me diverti com o seu texto. :)

Beijos no gatinho!
Anônimo disse…
Tô dando gargalhadas até agora.

Pior foi o Juba contando outro dia no carro o que ele andava aprontando com o gato.

Como é que ele anda? ;-)

(Ah, sim, acho que esqueci de dizer pra você: melhor trocar a tua escova de dentes.)
Anônimo disse…
Ah, sim, ia esquecendo: agora você fica devendo um post ensinando a dar remédio pra gatos.

Deve render outras boas gargalhadas (pra gente, né, que fique bem claro).
Tais Vinha disse…
Silvia,

Que fique só entre nós, povinho da internet...eu não dei o remédio do bichano. Tasquei-lhe minha homeopatia de gripe, Gelsemium, e rezei para não acontecer nada de errado ou eu morreria de culpa.

Não é que o Deus dos gatos atendeu minhas preces e o Tóbi tá ótimo?! De gripe ele não morre. Pelo menos dessa eu me safei.

Bjs!
Anônimo disse…
Taís, sou gateira há mais de 14 anos. Muita medicação humana pode ser usada com animais. O cuidado é com a dose.
Somos escolhidos por eles, sem dúvida. Milhões de histórias pra contar sobre esses danadinhos. Depois de um siamês, vieram outros 4 da rua e há um ano ganharam um cãozinho maltês pra se divertirem. Convivem muito bem e são capazes até de brincarem juntos. Mas de veterinário não tem como escapar. Volta e meia, como agora, dois deles estão doentes.
Dica para dar remédio com seringa, se precisar, assim por acaso: acostume o bichano a abrir a boca forçando a seringa num dos lados da boca, falando baixinho com ele, segurando firme a cabeça pela cernelha e até ajuda se firmar contra sua perna. Tome sempre cuidado com as patinhas ligeiras.Os de bom gênio(porque os há de mau gênio) acostumam. Dê uma guloseima depois.
Aqui em casa depois do remédio eles ficam rodeando, até eu entender o que faltou.
Gato preto é lindo. Aproveite e faça muito carinho nele, que uma das qualidades do gato é absorver energia menos boa.
(Arranhões ou mordidas devem ser desinfetadas imediatamente.)
No mais...miau!
=^.^=
Pimenta disse…
Thaís,se vc aceitou um gato,você aceitou um desafio.
Eles nos defendem das energias negativas que circulam por aí, nos ensinam a amar sem posse,a observar atentamente comportamento, e a conhecer que vc pode ser amada sem babação, autenticamente, e a aceitar o amor do jeito que vem!Você ainda vai amar muuito esse negãozinho.
Alegrias á todos da casa.
Tais Vinha disse…
Clarice e Pimenta, sou tão analfagata que não sabia deste poder felino contra as más vibrações. Comecei a olhar o Tóbi com outros olhos depois de seus comentários. Mas realmente gato é outro esquema. A Pimenta tem razão quando disse que ainda vou amar o negão (neguinho, meio Michael Jackson - ele é misturado com branco).

Clarice, fiquei encanada com sua dica de desinfetar imediatamente mordidas e arranhões. Mesmo vacinado há risco dele passar doenças? Porque ele é supermanso, mas já arranhou e mordiscou a meninada, tentando escapar do excesso de colo, ou de um cão que se aproximou. Eu nem dei bola. Ai minha nossa senhora do bom gato...

Beijos e obrigada pela força. Acho que o Tóbi arrumou duas fiéis defensoras!
Anônimo disse…
Taís, nada que deva deixar você encanada. Mesmo vacinado, o risco de contaminação é por conta da saliva(bactérias) e do que ele cultiva nas unhas. Lave com água e sabão e passe rifocina ou merthiolate, ou álcool. Mordidas fortes, que sangrem, desinfetar com álcool rapidinho, usar aqueles remedinhos e observar por uns 3 dias.
Miau, Tóbi!
Anônimo disse…
Depois de 30 anos de casada,e nunquinha cão em casa,resolvi
atender o pedido do meu filhote
de 8 anos.Trouxe uma cahorrinha
vira lata para casa que na época
estava com 3 meses.Hoje ela tem
5 anos é linda...mas o nome é...
Feia.Pq?Quando chegou o menino
olhou e vaticinou:que feia!
Ué,perguntei eu:Pq Feia.?
Ele:não gostei da cor.Ah..
então o nome dela vai ser Feia.
E Feia ficou,até que virou fefe,de feia e feliz.
Hegli disse…
Nossa, sei que ninguém vi ler esse post que já passou há tempos, mas tenho que comentar com vc Tais, que chorei de rir. Como nós, mães, somos umas bobonas as vezes não é? Sabe que eu jurei de pés juntos que NUNCA teria um cachorro e não é que consegui manter minha promessa té o ano passado, quando meu filho viu uma cadela, preta e já não tão filhote em uma gaiola de doação. Enfim, ela entrou pra familia e eu paguei todos os meus pecados em vida, ela comeu uma bota de couro minha, varios brinquedos do Lucas, a mangueira do freio da moto do meu marido (que só notou quando se trombou com o portão), o cano da máquina de lavar, o sifão do tanque e a veterinária falou que era solidão. Adivinha? 7 meses de prejuizos depois, entrou pra familia MAIS uma cachorra, preta, peluda e fofa. Isso tem 2 meses e não é que a primeira parou de comer as coisas e se acalmou? Só por amor ao filho mesmo viu...