"Respeitem o meu risoto!"


"Você parou de trabalhar? O que você tem feito?". As fatídicas perguntas voltaram a lhe assombrar enquanto cortava cebola para fazer um risoto.

No alto dos seus 40 anos, trazia na bagagem faculdade, mestrado, ex-empregos em empresas boas e outras nem tanto, alguns anos de vida no exterior, uma extensa lista de namorados gregos, troianos e baianos e uma centena de livros, lidos nas madrugadas de insônia.

Hoje estava em casa, fazendo o que nunca imaginou fazer: cuidando da casa, do marido, dos filhos e, principalmente, de si própria.

Estava feliz. Como nunca esteve. Era uma satisfação diferente. Conhecia muito bem a excitação do mercado de trabalho. Mas agora, apesar de raramente estar desocupada, havia atingido um estado de calma relativa, que ela via como uma grande conquista para quem passou a maior parte da vida correndo atrás sabe-se lá do quê.

Muita gente não entendia tal mudança, inclusive ela mesma. Mas no fundo sentia que estava engajada em um projeto verdadeiramente grandioso. Pela primeira vez, acreditava estar fazendo algo significativo para si própria e para o futuro do planeta. Tinha muito orgulho de suas escolhas.

Enxugou uma lágrima e pensou: "Quer saber? Respeitem o meu risoto! Só eu sei o quanto tive que batalhar para chegar aqui." E caiu na risada. Era choro de cebola.

Comentários

hegli disse…
Está falando de mim, aos 34... depois de 20 anos levando um vida louca de trabalhar, estudar, e mais recentemente ser mãe, mulher, cuidar da casa estou em casa há 4 meses. Ninguém me pergunta se estou feliz, descansada, curtindo meu filho, minha casa, lendo um livro, me perguntam assim: vc ainda não foi atrás de nada?
Também quero que respeitem meu risoto... rs
hegli disse…
Tís, vc leu o blog da Rosey Sayão hj? O tema é "LUTA PELA INFÂNCIA", tuuuuuuuuuuuudo a ver com a gente, as mães peixes-fora-d'água, rs
bjus
Renata disse…
Taís, a carapuça serviu...amei o post.
Mas como é difícil não? Já ouvi cada uma...até que corria um risco muito grandeao tomar essa decisão...e se me separasse do meu marido? O que seria de mim?
Ao fazer essa opção, na melhor das hipóteses, somos "acusadas" de ser privilegiadas. Se somos, que culpa temos?
Lembrei das palavras da minha querida terapeuta, um anjo na minha vida, qdo me encontrava de frente pra essa bifurcação da foto: "você pode escolhe ro caminho do medo ou o caminho do amor, qual você quer?"
Beijo, querida. Amo seus posts.
Renata
Pimenta disse…
Perfeito Taís,é a maturidade e a bagagem que temos que nos propicia o crescimento cotidiano e profundamente significativo.Em tudo que fazemos,por menor que aparente ser ao mundo.
Existe uma grande diferença entre comer para saciar a fome, e produzir o alimento com objetivo de nutrir a vida.
Esse post foi lindo demais.
bjo
Anônimo disse…
Taís....de novo aconteceu, penseu um lance e qdo entrei no seu blog tava lá escrito...adorei esse post!
Respeitem meu risoto e minha sopa de abóbora com alho-poró!
bjos, Neca
Luciana B. disse…
Ai Tais, eu também sou esta aí. Tô aqui chorando... do alto dos meus 40 anos de (i)maturidade...
Às vezes vou a SP, encontro minhas amigas super advogadas, sócias dos grandes escritórios, que saem na Gazeta Mercantil e coisa e tal...e me dá uma pontinha de falta deste glamour. Mas aí eu olho para os meus filhotes, lindos, seguros, felizes e para minha casa linda e harmoniosa, e vou para a cozinha preprar o meu risoto... hahahahaha!!
thati penna disse…
Tais, q coisa incrivel...q sensibilidade em descrever tantas mulheres e forma tão fiel , tão transparente!!! Olha mais uma aqui com a carapuça super ajeitadinha na cabeça!! Meu número!!
Nao sei se as outras concordam comigo..mas mesmo depois da opção feita, elogios e reconhecimento é quase zero...mãe boa é aquela q trabalha o dia inteiro e só tem a noite pra ficar com os filhos, quem ta fazendo o risoto simplesmente tá cumprindo sua obrigação. Só tem duas pessoas que realmente acham meu trabalho importante e útil pra sociedade!! Eu e meu amigo gay!

Bjsss
hegli disse…
A Thatiiiii, tb tenho um amigo gay que é o único que acha o máximo eu largar a carreira e o glamour por uma vida mais simples, hahaha.

Sabe, acho que propagandas como aquela da Claro pro dia das maes acabam por dar a impressão FIEL que tudo aquilo é tão possivel quanto fácil. Argh!

Hj para mim "less is more". Menos grana, menos luxo, menos correria, e chega de malabarismos para ser a *mulher maravilha*, mais calma, mais paz, mais saúde, mais tempo com meu filho e mais risotos (de funghi com arroz integral, meu favorito!)
Bjus *mulheres maravilhosas* (subimos de categoria, rs)
Tais Vinha disse…
Queridas, lendo seus comentários chego à conclusão que um novo termo foi criado: "as risoteiras". Mulheres inteligentes, sensíveis, mais ou menos resolvidas (ninguém é de ferro), mas com a imensa coragem de mandar o mundo parar para elas descerem.

E, o melhor, com uma coisa em comum: um amigo gay! O que seria de nós sem eles? (Isso dá assunto pra mais um texto.)

Ainda vamos dar muito o que falar. Não sei se mal ou bem, mas um dia estaremos na Oprah! hahahahahahahah...

P.S: quero as receitas da sopinha de abóbora com alho poró e do risoto de funghi com arroz integral.

Bjs!
Pérola disse…
Retratou exatamente meu dilema de hj!
Obrigada pelo post!
Beijos!
mperri disse…
Mulher risotto assinando ponto!rs
hegli disse…
Podexá, mulher risoteira, te mando a receita...rs
Bj
Anônimo disse…
Taís....esse post deu o que falar! Mulheres rizoteiras! Muito bom! acredito que este seja o segredo, transforme TUDO num rizoto, adicione um fungui e muitas pitadas de amor....
te mando por e-mail a receita da sopa, bjos, Neca.
Quero um amigo gay!!!
Acho que quem pensa que não fazemos nada na verdade morre de inveja, rsrsrs...
Adorei o blog!
Bjs
Anônimo disse…
Minha história é quase assim. Quando ouço alguém dizer"Tá com a vida ganha!", nem me defemdo mais. Só sorrio do alto do morrinho de quem começou a trabalhar aos 9 anos.
A maior vitória é só lembrar de relógio na hora de alimentar os bichos.

Já pensei em colocar a frase de caminhão em meu carro: Tá com inveja? Trabalhe que passa!

Beijos, linda!
silkelita disse…
Nossa, tô fu...
Não me encaixo no 2o. parágrafo e nem sei fazer risoto!!!!
Socorro!
Nunca deixe de me convidar, viu?

VovóMadô

PS: Apesar disso, tô na fila do adesivo da Clarice. Perfeito!
Ana Carmen disse…
Adorei esse chamado do "orgulho grano duro". Ótimo post, favoritei e guardei.

Gostoso saber que não sou a única mãe que decidiu se reinventar para poder acompanhar os primeiros anos do filho. Ninguém achou isso muito lindo, como você mesma sentiu. Para falar a verdade, nem eu, é bem difícil, me sinto sozinha nessa reinvenção da maternidade.

Passei a trabalhar em casa em um esquema meio ninja para que isso funcione. Até agora consegui dizer não aos convites profissionais que implicam em ser abduzida pelo trabalho fora de casa e ver meu pequeninho só uma hora por dia (no momento de acordar).
Tais Vinha disse…
Também estou na fila para o adesivo da Clarice!

Ana Carmem, essa reinvenção é dificílima. Passa por vários ciclos e adaptações. Engraçado, mas somos de uma geração criada para trabalhar fora. Ficar em casa requer um novo aprendizado. Principalmente, de autovalorização (com ou sem hífem?). E tem que ser no tempo certo. Por isso jamais critico ou condeno mulheres que não fizeram esta opção. Porque é uma escolha muito pessoal, que envolve muitas outras coisas além da nossa vontade (apoio do maridão, grana, força de vontade e umas horinhas de molecada na escola pra gente conseguir respirar.)

E esse esquema de trabalhar em casa eu conheço bem. Tem hora que funciona, tem hora que é enlouquecedor. Minha irmã, que é tradutora, chegou a trabalhar umas horas por dia no Frans Café, porque em casa o filhote não a deixava se concentrar. Como vc diz, totalmente ninja. Mas de "yáaaa", em "yáaaaa", a gente vai levando. E arrumando tempo para nossas sopinhas e risotos.

Um beijão e obrigada pelos comentários!
Dany Gomes disse…
Meninas,

não sei fazer risoto, e não cheguei a ter uma grande carreira para abrir mão. Me formei em publicidade, trabalhei com dança, teatro, produção de eventos, mas parei já aos 26, quando nasceu minha pequena. Ficar com as crianças nos primeiros anos foi a melhor coisa que já fiz, mas o preço que pagamos é caro...Já cansei de ouvir baboseiras (a melhor foi que eu tinha potencial, pena que não tive necessidades), e hoje a pressão é também por parte do meu marido. Estou com 40, 3 filhos, e durante esse período já tive uma empresa que fechou, tentei algumas outras coisas, e hoje, além de administrar as crianças, a casa, as finanças, as viagens, agora estou escrevendo. Acho que o trabalho de mãe não termina nunca, e só seremos respeitadas quando houver remuneração e aposentadoria para às mães. Loucura? Acho que não. Pode demorar um pouco, mas o caminho de volta é inevitável.
beijos,
dany tavares
www.mameeuquero.blogspot.com
Tais Vinha disse…
Dany, a escolha que muitas de nós fizemos é realmente uma das mais difíceis. Somos uma geração criada para trabalhar fora. E assumir que priorizamos outras coisas, além do endeusado mercado de trabalho, quase que choca. Concordo com você. Deveríamos ter algum tipo de segurança social e reconhecimento. Seja remuneração, incentivos, aposentadoria, sei lá. É um bom assunto para debatermos. Bjs!
Dany Gomes disse…
Taís,

há algum tempo tenho pesquisado e trocado idéias sobre essa questão da valorização da mulher que opta em se dedicar principalmente à família. Publiquei um blog para trocar idéias, mas além de estar me batendo um pouco com as questões 'técnicas', tive alguns contratempos pessoais. Agora pretendo postar com mais regularidade. Acho que ouvindo outras mães poderemos chegar a sugestões interessantes, não é?
abs,
dany
www.mameeuquero.blogstpot.com
Tais Vinha disse…
Danny, vc tá certa. Temos que trocar idéias, tricotar, unir forças porque nosso objetivo é dos mais nobres. As mulheres que ficam em casa subestimam sua importância e poder!

Vou conferir as publicações do seu blog. Mas mãe blogueira é assim, publica quando dá. O bom é que as leitoras entendem e apoiam. Tá todo mundo no mesmo barco. Bjs!
Silvia disse…
Taís, tem que publicar as receitas que a galera te mandar, viu?

Vivo vendo receitas com cogumelos de todos os tipos, mas não sei onde comprar. Onde você compra?
Vivien Morgato : disse…
Acho que o problema é que sempre tem alguém querendo impor um modelo de conduta, uma forma de viver que supostamente seria a correta.
A escolha do caminho pessoal é única, é relacionada ao passado do individuo, a sua História.
Trabalhar e casar, não casar, casar e cuidar dos filhos, não ter filhos, ser gay, ser hetero, fazer mestrado, largar mestrado...todas as opções devem ser respeitadas. E os chatos, com dedo em riste, impingindo modelos a serem seguidos, devem ser ignorados.;0)
Beijos!
Rita disse…
Thais

concordo em gênero, número e grau com a Vivien aí em cima. Adorei seu texto, um dos melhores que li até agora no concurso da Lola. E, claro, vou voltar muito aqui para descobrir outros bons textos em seu blog.

Beijos,
Rita (mãe, trabalhando fora, não sem crises)
Tais Vinha disse…
Oi Vivien, sabe acho que os chatos, a gente ainda ignora. O duro são os que realmente gostam da gente e dão conselhos e palpites com a melhor das intenções (eu mesma faço isso direto). Esses a gente não consegue deixar pra lá.

Você está certa. As opções devem ser respeitadas. Principalmente por nós mesmas. Acho que o meu maior conflito foi enxergar e aceitar o que eu mesma queria. Levei anos no processo e acho que ainda estou nele. Mas lágrimas, só de cebola.

Rita, obrigada pelo carinho. Esse concurso foi uma surpresa. Não o conhecia e estou "se" achando por ter tido um texto escolhido entre os finalistas. A seleção está ótima, não? Seja muito bem vinda ao Ombudsmãe.

Bjs!

Sabe, este texto gerou um termo carinhoso, "risoteiras", que são as mães que optam por
Lia disse…
Oi, Taís! Cheguei aqui pelo escreva Lola, por indicação da Mari (Pequeno Guia Prático). Amei seu texto. E que respeitem nosso risoto, nosso sucão com frutas prestes a estragar e nossas sopas congeladas.
Dani Garbellini disse…
Taís, eu já conhecia este texto e acompanho seu blog, mas acho que nunca comentei. Hoje passei aqui para reler o texto para o concurso.
Fiquei bem indecisa entre quatro textos e acabei decidindo pelo seu. Não sou risoteira, mas sou muito fã e admiradora. Para algumas decisões, é preciso muita força, coragem e determinação. Eu ainda estou tentando achar uma boa receita de risoto para mim...
Beijos!
tais Vinha disse…
Oi Lia, dei muita risada. Eu tb faço os tais sucões e congelo umas sopinhas. hahahahaha. E quero muito respeito (e alguns aplausos de vez em quando, vindo dos meus hominhos)!

Dani, nossa...fiquei emocionada com o carinho. A seleção de textos é muito boa! Sim, algumas decisões são dificílimas. E precisam ser tomadas no momento certo de cada uma de nós. Continue a busca e aos poucos você vai conseguir unir seus ingredientes com cada vez mais harmonia.

Bjs!
dannah5 disse…
Agora que li finalmente!

Amei, eh perfeito e sabe pq tem sempre alguem que tenta fazer a gente se sentir mal com nossas escolhas. Todo mundo tem um urubu, q se a gente trabalha fora nao esta sendo "mae" o suficiente pq terceiriza o filho, babá entao, só tem babá ou ajudante burgues, ai a gente la todo dia no trabalho se sentindo o coco do cavalo do bandido, pensando em como ficar em casa. Se o cenario eh outro e vc eh a mae que decide ficar em casa pq julga q naquele momento ninguem pode dar o q vc oferece e isso nao deixa de ser um pouco verdade, enfim, vem o(a) sujeito(a) e fala com vc como se vc nao fizesse absolutamente nada, ficasse sentada lendo Marie Claire o dia inteiro, nao tivesse motivos de preocupação ou stress, pq nada sério acontece em casa, só quando a gente trabalha q as coisas sao verdadeiramente importantes, e ainda tem a audacia de diminuir seu QI ao equivalente de um macaco falando como se vc nao entendesse pq vc "eh do lar"!

Ai tem horas que da vontade de ser a Monica dos quadrinhos e jogar o Sansão em todo mundo!hehe

Sabe, nossas decisoes sao as mais dificeis e estressantes, mudam tudo!

Adorei Tais, e ali eu concordo com toda essa parte de consumo consciente, isso verdadeiramente tem q ser estimulado.
Acharia muito legal se houvesse uma boa vontade maior das pessoas para adquirirem coisas usadas em maior quantidade, sem preconceito, so isso ja ajudaria um bocado tbm. Aqui eu adoro comprar coisas usadas, moveis antigos, pq assim reaproveito os recursos que ja foram usados naqueles objetos e evito que virem lixao. Engraçado q na França o governo estimula o mercado das pulgas, aqui fora roupas e sapatos pouco vejo! hehe

Beijocas e parabens, adorei!
Rita disse…
Oi!

Linkei este post em meu último post ("Amanhã eu faço"). Assim mesmo, na cara dura, sem te pedir permissão. Espero que não se importe... ;-)

Bjocas
Rita
Dany disse…
Este comentário foi removido pelo autor.