Escola "forte" é escola boa?
Vamos dar uma rápida olhada ao mundo ao nosso redor.
1) o vestibular, eterna desculpa para o ensino decoreba massificante, aos poucos perde relevância na nossa sociedade. (Clique aqui para ler uma notícia sobre este tema)
2) Quem não tem um diploma da USP, UNICAMP ou das Federais não está mais condenado a ser um profissional de segunda categoria. Muito pelo contrário.
3) Carreiras consagradíssimas deixaram de ser sinônimo de burro na sombra. Hoje em dia médicos vivem rebolando à mercê de convênios, engenheiros são demitidos em massa - com uma canetada, e advogados...é bom nem comentar.
4) Novas profissões surgem do dia para a noite. Inovadoras, irreverentes, fora dos parâmetros. Meu filho mais velho agora quer ser arquiteto sustentável. Há 3 anos eu não saberia do que se trata tal profissão. Meu outro filho que ser "escalador de árvore". Damos risada, mas as pessoas que promovem o arvorismo estão ganhando dinheiro fazendo o quê? Um coleguinha deles quer ser pipoqueiro. Fofo, não? Mas provavelmente não é o que pensa o dono dos quiosques de pipoca gourmet dos shoppings centers.
Esse é o cenário hoje. Um cenário no qual, visivelmente, sobrevive melhor quem é criativo, curioso, pró-ativo, flexível e desprovido de falsas ilusões de status. Assisti a um documentário sobre a empresa "Google" e vi a busca constante que eles fazem por profissionais com este perfil. Para atrair estes jovens, oferecem além de excelentes salários, benefícios que beiram a propina. Explico: segurar pessoas com tal perfil é dificílimo. Eles logo enxergam uma nova oportunidade do outro lado da cerca e não tem o medo das gerações passadas de ir atrás.
E como nós, pais e mães, preparamos nossos filhos para este futuro? Matriculando-os em escolas "fortes". Escolas que mandam ver no ensino apostilado. Que despejam uma quantidade enorme de matéria em cima da meninada e salve-se quem puder nas semanas de prova. Escolas que precisam contratar professores que dão showzinho pra manter a meninada atenta. Escolas que se prendem a índices de aprovação no vestibular pra atrair matrículas. (E que agora não sabem o que fazer diante dos resultados do Enem.)
Isso é preparar nossos filhos para o futuro? Claro que não! E a verdade é que, na maioria das cidades, não temos nem opção para fugir de tal formato. E, sem alternativa, acabamos pagando uma fortuna para instituições incapazes de explorar um centésimo do enorme potencial de nossos garotos e garotas. E dá-lhe apostilas e "control c" e "control v" na Wikipédia.
Como diz a propaganda, a vida é muito mais do que isso. Mas, por incrível que pareça, nós - pais, mães e educadores - somos os últimos a perceber.
Comentários
Mas realmente acredito na mudança, e estar preparado para o futuro, para um futuro diferente, na minha visão, não é estudar nos moldes tradicionais. Acho o vestibular uam avaliação estúpida, muitos enchem os bolsos com isso e nossas crianças são intelectualizadas justamente na fase da vida em que o brincar, as atividades que envolvem o corpo e movimento são tão importantes. Importantes mesmo para o desenvolvimento do sentir e do pensar mais lá na frente. Estou assistindo a um ciclo de palestras sobre desenvolvimento humano à luz da antroposofia em que o palestrante toca nesse ponto: a criança que não trabalha o corpo no primeiro setênio, vai ter dificuldades de ouvir (não ovir físico, ouvir no sentido de entender), de se comunicar, de pensar e de respeitar o outro. Já vemos essas consequencias nos jovens que etão ingressando nas faculdades hoje em dia, infelizmente.
E a maioria dos pais de classe média e alta, se não acham lindo ver o filho decorar a inicial do pp nome e dos coleguinhas da turma aos 2 anos de idade, ficam com receio do futuro "doutor" "ficar pra trás" se não começar a aprender inglês logo, afinal os filhos de todos os amigos estudam em pré-escola bilingue. Socorro, parem o mundo que eu quero descer!
Beijo
Re
Renata, li seu texto é garanto que ele é elegantérrimo. Vc tem total razão e muita clareza nas suas colocações. Aliás, risoteiras, leiam o texto dela que vale a pena. É indignado na medida certa contra um sistema emburrecedor e massacrante, que anda para trás ao invés de pra frente. E conta com a plena e absoluta conivência dos pais. O que é ainda pior.
Bom, agora vamos abrir um vinho, que é sexta-feira e a gente merece! Bjs!
Infelizmente nascemos e logo somos encaminhados para aprender a subsistir, a ganhar a vida e a ter sucesso. Em que escola se ensina a conviver, a viver e a seguir sonhos, a criar?
Fazer provas é o primeiro dos erros para avaliar um aluno. Eles pecisam de desafios.
E de calma, pelamor, que parecem pequenos escravos.
Uma matéria na Tv, no início do ano escolar, mostrou uma mãe ansiosa, entregando o filhote para o primeiro dia de aula de sua vida. Contando que todos acordaram às 4:30 da madrugada para chegar na hora:7:30h. Alguém pode parar com esse absurdo? Por que tirar crianças de 5 ou 6 anos do melhor que eles tem a fazer, que é dormir o número de horas suficiente?
Sei que esse não é o foco de seu texto, mas por que as mães e pais perseguem esse tipo de ideal para os filhos? Ter sucesso é mais que ganhar dinheiro para virar mais um consumista.
Larguem essas crianças e adolescentes num sítio, numa fábrica e ensinem tudo a partir daí: geometria, economia, respeito, convivência, culinária, produção, linguagem, ecologia,...
Ah, sim! Tenho carteirinha de rebelde, com selinho de ouro. :)
Beijos e desculpe a extensão do comentário, viu?.
Vc sabe o quanto lutei para ser médica, colégios caros, cursinho, masturbação mental...enfim...
E hoje, depois de tudo, eu me pergunto se realmente eu quero fazer isso para o resto da vida. Sei que o trabalho é nobre, e que tento fazer tudo da melhor maneira possível...
Mas parece, que depois de tanto sufoco com a profissão, foi como se eu começasse a enxergar novos horizontes.
Mas ter uma pousada na praia, uma chácara, surfar, ser totalmente natureba, fazer pãe integrais, compotas, azeites e vinagres aromáticos, artes plásticas, trabalhos comunitários, ter uma horta, andar descalça, nadar em rio, viajar sem ter hora para voltar...São coisas que me atraem muito mais.
Acho que eu também adoraria ser escaladora de árvores...
Uma pena eu não ter descoberto isso há muito tempo, antes de ter me matado tanto para fazer medicina, e antes que o medo de começar tudo de novo me dominasse.
Tomara que os jovens de hoje possam ter outras opções. Acho que teríamos um futuro bem mais feliz, com muito menos neuroses e sofrimentos.