Isopor Food


Ontem li um artigo, que publico logo abaixo, sobre os componentes nutricionais dos cereais matinais. É assustador. Excesso de açúcar, de sódio, poucas fibras. Isto é, uma bomba calórica com poderes de alterar o metabolismo do corpo, principalmente das crianças. E quando os itens acima estão sob controle, nutricionalmente falando, os outros ingredientes não ajudam em nada o organismo. Tudo o que os fabricantes acrescentam de vitaminas e sais minerais pode, facilmente, ser ingerido através de outros alimentos, muito mais sadios. Portanto, o texto afirma que cereal matinal é isopor food.

Sempre desconfiei de cereais industrializados. Os maiores consumidores deles, no mundo, são os roliços americanos. Não preciso dizer mais nada. Me lembro de um americano achando muito esquisito que, na França, as pessoas compram pão fresco na padaria para comer no café da manhã. "Ninguém come cereal!" Ele dizia. E olha que o pão fresco da França é o croissant, cheio de manteiga, algo que, está mais do que provado, os mantém em muuuuito melhor forma que os Yankees e bem mais longevos.

Andei pensando se não estava sendo muito xiita com a alimentação dos meus filhos. Se não deveria comprar mais biscoitos, cereais e outras deliciosas porcarias (que eles atacam febrilmente cada vez que aparece na frente, dá até vergonha...). Essa matéria deu certo alento ao meu lado "mãe chata". Contribui também saber que o filho de uns amigos, aos 10 anos, está fazendo dieta para reduzir os triglicérides e o açúcar que estão todos acima dos níveis recomendados para a idade. E não há tendência familiar. Simplesmente, o garoto come o que todas as crianças hoje em dia comem.

Mas ir na contramão do que a Nestlé prega não é fácil. David contra nossos pequenos Golias. Segue a versão integral da matéria.

01/10/2008 - 09h25

Cereal para criança tem sódio e açúcar demais, diz pesquisa.

Teste com 18 cereais matinais de maior presença no mercado de alimentos infantis mostra que a maioria dos produtos contêm açúcar e sódio em excesso e poucas fibras. A avaliação foi feita pela Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).

Uma porção de 30 gramas de sucrilhos de chocolate da Kellogg's (uma tigelinha), por exemplo, tem 205 mg de sódio. Uma criança de um a três anos deve consumir, por dia, no máximo 225 mg desse mineral --ou seja, uma única porção equivale a 90% das suas necessidades diárias. Para um adulto, essa quantidade de sódio representa 10% das necessidades.

Na avaliação da Pro Teste, todos os cereais matinais também têm açúcar em excesso --de 5,5 a 13 gramas por porção. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o ideal é que uma criança de até três anos consuma, no máximo, 14 gramas por dia de açúcar.

Uma porção do sucrilho sabor banana, por exemplo, tem quase toda a quantidade diária de açúcar recomendada para uma criança nessa faixa etária.

Presente no sal e base para conservantes, o sódio em excesso está ligado à hipertensão arterial e a problemas renais. Já muito açúcar tem relação com obesidade e diabetes tipo 2.

Fibras

Dos cereais analisados, dez marcas apresentaram menos de três gramas de fibras para cada 100 gramas do produto --três gramas é a quantidade mínima para um alimento ser considerado fonte de fibra. Os cereais Corn Flakes (todos os sabores) e Chokos tiveram o pior desempenho no teste: possuem menos de 0,01% de fibra, ou seja, praticamente nada.

Um outro problema apontado pela Pro Teste --que envolve os cereais analisados e a maior parte de alimentos consumidos pelo público infantil-- é a falta de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.

A pesquisadora de alimentos da Pro Teste, Fernanda Ribeiro, explica que o percentual diário recomendado de cada nutriente é calculado para uma dieta de 2.000 quilocalorias, que corresponde à necessidade calórica de um adulto, não de uma criança.

A dieta de uma criança de um a três anos, por exemplo, deve ser de 1.050 calorias, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De quatro a seis anos, esse valor sobe para 1.450 e, de sete a dez anos, para 1.750. "O ideal seria que essas informações fossem apresentadas de acordo com a faixa etária. Seria muito mais útil aos pais", avalia a pesquisadora.

"Isopor food"

O nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni orienta que as pessoas escolham o cereal matinal pelo menor índice de sódio e açúcar e maior presença de fibras solúveis. "O ideal é misturar com um iogurte light, enriquecido com cálcio, e muita fruta", diz ele.

Para Magnoni, os pais não devem se impressionar pelas vitaminas e sais minerais contidos no rótulo dos produtos. "Isso a criança consegue por outras fontes. O que não pode é ficar comendo essa quantidade de sódio e açúcar e quase nenhuma fibra. Isso é o que chamamos de "isopor food", cuja única função é aumentar as taxas de obesidade infantil."

A nutricionista Madalena Vallinoti afirma que muitas vezes os pais utilizam o cereal como alternativa para que a criança consuma leite. "Os pais devem evitar o consumo exagerado desses cereais, mas também não podem proibi-lo caso a criança goste do produto. Deve haver moderação."

De acordo com o pediatra e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Cícero Falcão, o brasileiro consome muito açúcar e os pais educam a criança a gostar do alimento muito doce. "O cereal que a criança mais gosta é aquele com mais açúcar. É a conjunção do paladar brasileiro com a indústria", afirma Falcão.

Na opinião do pediatra, os brindes distribuídos com os cereais impulsionam o consumo. "Os brindes são uma grande arma antiética. Tem sempre o alimento processado, com valor biológico inferior e pouco nutriente acompanhado do brinde. Por que não vender uma maçã com o personagem da moda?"

Outro lado

Fabricantes de cereais avaliados pela Pro Teste dizem que seus produtos seguem as recomendações da Anvisa e que todos os dados sobre os nutrientes estão disponíveis nas embalagens dos produtos.

A Kellog's disse que seus cereais "contêm vitaminas e minerais essenciais, são isentos de gordura trans e colesterol, além de alguns ainda possuírem alto teor de fibra alimentar" --a pesquisa apontou teores baixos de fibras em cinco dos seis cereais analisados e "aceitável" em um.

A Kellog's fabrica sete das 18 marcas avaliadas (Sucrilhos, Sucrilhos Chocolate, Sucrilhos Banana, Choco Krispis, Froot Loops, Chokos e Honey Nutos).

A Nestlé diz que cada 30 g de seus cereais têm açúcares que representam, no máximo, 3% da energia necessária para um dia --a OMS recomenda 10%.

Quanto ao sódio, a Nestlé afirma que seus cereais são para crianças de seis a oito anos (consumo diário de até 1.219 mg por dia) e de nove a 13 anos (até 1.495 mg), e não para aquelas entre um e três anos. Os seus pacotes, entretanto, não citam a idade recomendada.

A Nestlé afirma ainda que a quantidade de sódio usada como padrão pela Pro Teste, mesmo para crianças de um a três anos, é desatualizada. A empresa diz que o nível recomendado vai até 966 mg por dia (a Anvisa recomenda 225 mg/dia), conforme o padrão DRI (Dietary Reference Intakes). O padrão, desenvolvido pelos EUA e pelo Canadá, é avalizado pela nutricionista Silvia Cozzolino, da USP. Embora feito em dois países, o DRI é uma base confiável por levar em conta pesquisas do mundo inteiro, disse ela.

A Nestlé afirma que não usa uma publicidade que crie "expectativas irreais de popularidade" nem que exiba "cenas de crianças na tentativa de persuadi-las". A empresa produz o Snow Flakes, o Snow Flakes Chocolate, o Nescau, o Estrelitas, o Estrelitas Chocolate, o Crunch e o Moça Flakes.

A Nutrifoods não respondeu à Folha, embora a coordenadora de qualidade, Neusa Guimarães, tenha dito conhecer a pesquisa. A empresa faz o Cornflakes nas versões açúcar, chocolate, mel e leite condensado.

Comentários

Anônimo disse…
Aqui em casa, isso não entra. Só em raríssimas exceções, pra não ser "radical" (já reparou que priorizar saúde é radicalismo hoje em dia?).

Acho engraçado, algumas mães da pracinha lá no Rio ficavam me chamando de natureba porque eu não tinha em casa biscoito recheado, refrigerante, balas etc. Hein? Natureba?

Tá rolando uma inversão de valores horrível nesse mundo. Cruz-credo.
Tais Vinha disse…
Pois é. Mas é muito difícil ficar policiando o tempo todo o que a meninada come, porque vem tranqueira de tudo o que é lado. Uma pena e uma luta. E acho surreal mais pais não estarem atentos a isto, com tanta informação disponível. Não sei se vão pelo caminho mais fácil ou se realmente não se preocupam.

Bjs
Anônimo disse…
Acho que muitos vão pelo caminho mais fácil... a maioria trabalha fora e passa a maior parte do tempo longe dos filhos. Quando chegam em casa, acabam querendo fazer todas as vontades dos pequenos!!!
É claro que eles adoram porcarias, mas cabe aos pais colocar limites (não em excesso, como disse a ombudsmãe), mas os pais são responsáveis pela educação de seus filhos, e isso inclui a alimentação.
Além disso, as crianças de hoje em dia não brincam como nós brincávamos.
Quando eu era menina, brincava na rua de casa... não era perigoso... esconde-esconde, pega-pega, bets, bicicleta... uma correria danada! Televisão? Só de vez em quando!
Hoje, a criançada só quer saber de computador e jogos eletrônicos... e passam horas sentados, sem se preocuparem com a postura prejudicando suas colunas e tornando-se cada vez mais sedentárias... uma pena!
Vamos dizer um NÃO À OBESIDADE INFANTIL!!!
Beijos!
Vanessa Anacleto disse…
Caramba. Eu costumo dar corn flakes sem acúcar com uma banana cortadinha e leite para o meu filho como lanche qdo está muito calor. Sempre achei que sem corante e sem açúcar ele estaria seguro. Meu filho tem um biotipo longilíneo, não é uma criança obesa mas ainda é muito novinho e estou tentando incutir. habitos saudáveis nele. Vida dura ( e doce) este de mãe.

abraço
Anônimo disse…
Pois é, mas trocando uma idéia com uma nutróloga, aprendi que estes "flakes" transformam carboidrato complexo (que é bom) em simples (que vira açúcar imediatamente após ser consumido). O ideal é comer uma granola com grãos integrais (sem flakes). Vou publicar em breve duas receitas de granola para fazermos em casa. Bem facinhas. Bjs e sucesso com seu garotinho.
Fernanda Scheer disse…
Oi Tais,
Td bom?
Gostei mto do seu blog, especialmente nos comentários sobre alimentação, que vão de encontro com todas as minhas crenças. Parabéns! Se tiver oportunidade venha conhecer o meu blog sobre nutrição, notícias para grandes e pequenos... www.fernandascheer.com. Bjs!
Ana Júlia disse…
Taís,

Infelizmente são muitos os empecilhos para uma vida saudável, desde o preço dos cookies integrais até as festinhas de aniversário na escola, sempre cheias de doces. E o brinde? Dá-lhe mais doce.
Aqui em casa é enorme a lista dos alimentos que não compro mais - pão de padaria, bolacha maria, bolacha maizena, cream cracker, leite condensado, creme de leite industrializado, margarina, maionese, carne vermelha ( nitrito e nitrato, que medo!),salgadinhos... ai, ai, é mais fácil fazer a lista dos alimentos que ainda compro...
E aí vêm as pessoas com aquele argumento furado, de ter de deixar a criança ser criança. Não estamos mais nos anos 50!
Mas hoje em dia, acabei afrouxando as rédeas, pois não é fácil ir de encontro à correnteza, e à própria família. Até meu marido vive sabotando meu esquema anti-doces.
E tem uma hora que a gente entrega os pontos.
Então é reconfortante saber que há outras mães "xiitas", "radicais", que se preocupam com os venenos da indústria alimentícia, que só compram iogurte sem sorbato de potássio, que fazem granola em casa.
Porque, amiguinha, vou te contar, até as barrinhas de cereal são cheias de aromatizante, conservadores, e outros horrores!
Como mães, temos o dever de proteger nossos filhos desse lixo tóxico!
Não desanime, Taís. Não desista de dar alimento puro e saudável a seus filhos.
Temos o dever de proteger aqueles que estão sob o nosso cuidado. Um dia Deus irá nos pedir contas disso.

Sabe, acho melhor eu parar de alugar o espaço do seu blog, e escrever um também.

Grande abraço!