Poderosa
Essa história é a justa contrapartida para o texto sobre as "Ex". Para essa ex, eu estico o tapete vermelho e bato palmas.
Vinte e cinco anos de casada, filhos crescidos, casona com piscina, empregada, vida na sombra até que belo dia ela descobre que o marido a estava traindo com uma garota de 18 anos. Ao fundo, Maísa cantava "Meu mundo caiu".
As reações poderiam ser várias, estamos falando de um fato passional. Mas a nossa personagem é a "Poderosa", lembram-se? Pois então, ela pega o telefone e liga para a outrinha de 18 anos. O recado foi seco e claro. "Eu sei que você está tendo um caso com meu marido, sei que estão apaixonados e, por isso, estou indo embora. Você pode pegar suas coisas e mudar para minha casa. Quer dizer, ex-casa. Agora ela é sua."
Isto posto, ela pegou suas malas e mudou-se para um flat.
O tempo que levou para a menina aparecer de mala e necessaires na casona com piscina foi registrado no Livro dos Recordes. E a vida seguiu. Por uma semana.
A primeira baixa foi a empregada, que procurou a ex-patroa no flat. Disse que receber ordens de uma menina de 18 anos era insuportável. Que a menina era uma folgada, que era isso e aquilo. Que a casa estava de pernas para o ar. E que naquela casa ela não trabalharia mais até a patroa voltar.
A patroa agradeceu o apoio, mas explicou que naquele momento, não teria como empregá-la. E que no flat não precisava de seus serviços.
A segunda baixa foram os filhos, que vieram implorar para que a mãe voltasse. A vida com uma madrasta de 18 anos não era a rave que eles sonhavam. Ela disse que não voltaria. Então eles disseram que iriam se mudar para o flat. A mãe negou, disse que quem tinha dinheiro, gasolina e piscina era o pai, portanto que ficassem por lá. Mas que podiam vê-la quando quisessem.
A terceira baixa foi o cachorro, que surtou, começou a fazer suas necessidades pela casa toda, a roer tudo e a uivar à noite não deixando Lolita alguma dormir. Essa notícia foi dada pela empregada, que continuava firme na rádio peão.
Até que um dia, quem apareceu foi ele. O próprio. Iniciou a conversa cheio de orgulho, dizendo que ela era uma irresponsável. Uma louca. Como podia ter abandonado ele e a família daquela forma? Disse que ela deveria tê-lo procurado. Ele poderia esclarecer. A vida a dois é difícil e sabe como é homem etc. etc.
Ela manteve-se firme ouvindo-o quieta. Ao ver que ela não reagia, nem brigava, ele foi diminuindo o tom, até que começou a chorar. Disse que se envolver com a menina foi uma idiotice, uma coisa carnal, mas que nunca imaginou morar com ela. Era só sexo. Que aquilo era um absurdo, que a casa estava insuportável, que até a mãe a menina colocou para dentro. E naquela altura da vida, ter que aguentar outra sogra não dava. Que ele não estava mais suportando aquela situação. Que a vida sem ela era uma loucura, que ele e os filhos crescidos precisavam dela etc. etc. etc. Que ela precisava sair daquele flat minúsculo e viver uma vida mais confortável, afinal eles lutaram tanto para ter tudo aquilo.
Ela levantou-se do sofá, serviu-lhe um uísque e sentou-se ao lado dele. Deram um abraço longo e cúmplice, daqueles que só quem já viveu 25 anos juntos sabem o que significa. Depois, aproximou os lábios do ouvido dele e disse que não voltaria a viver com ele, nem por um cacete.
Isto posto, abriu a porta, pediu para ele sair, ligou para um ótimo advogado e, pela primeira vez em 25 anos, foi cuidar só da sua vida.
Comentários
Adorei esse texto!
Vou publicá-lo no meu blog, dando os devidos crédito, posso?
Abraços e feliz ano novo (ainda é tempo de desejar né? Ele ainda tá novinho em folha.. :p)