O plin, plin na nossa mesa.





O plin, plin na nossa mesa.

É inocente acharmos que a educação alimentar de nossos filhos é responsabilidade apenas dos pais ou das merendeiras das escolas. Há tempos, ela vem sendo dividida com os meios de comunicação que, através de comerciais muito persuasivos, ensina-os desde a mais tenra idade a consumir produtos que trazem mais benefícios à saúde do mercado do que à saúde humana.

Assim, assistimos impotentes nossos filhos crescerem sob o bombardeio de mensagens que pregam que refrigerante é felicidade, fast food é para se amar muito, tomar suco em pó é uma atitude que salva o planeta.

Por mais que controlemos, por mais que optemos por uma dieta saudável, por mais que falemos “não” e desliguemos a TV, é impossível evitar que estas mensagens atinjam os pequenos e acabem fazendo parte da sua formação. Elas estão por todos os lugares e são repetidas à exaustão, como mantras da vida moderna.

O problema é grave. Crianças são seres vulneráveis. Suas mentes, ainda em formação, não distinguem fantasia de realidade. Elas acreditam nos adultos. Acreditam no discurso publicitário. Essa vulnerabilidade não é invenção de pais superprotetores, cientistas radicais ou educadores idealistas. É estabelecida nos Artigos 226 e 227 da nossa Constituição. Que também estabelece que protegê-las é dever da família, sociedade e do Estado. Isto é, o comprometimento com o bem estar e a formação das futuras gerações de brasileiros não é só dos pais e sim de toda a nação.

A alimentação é um dos principais elementos para este bem-estar. Hoje temos conhecimento suficiente para afirmar que grande parte das doenças pode ser evitada com uma dieta mais saudável. Doenças que afetam o desenvolvimento cognitivo, que afastam o trabalhador do serviço, que invalidam pessoas em idade produtiva e que, inevitavelmente, acabam cobrando sua fatura do setor público. Portanto, a alimentação deveria ser tratada como estratégica para a soberania nacional e defendida com a mesma intensidade com que o mercado defende seus interesses.

Os meios de comunicação, na sua maioria concessões públicas, jamais poderiam ser usados para deseducar todo um povo. O problema se torna ainda mais grave quando, além das crianças, vemos os pais também serem atingidos por mensagens enganosas, como a da maionese industrializada que se diz tão boa como o azeite de oliva, do catchup que afirma ser como comer tomate in natura, do tempero pronto cheio de sódio e glutamato que deixa o feijão ou o arroz “iguaizinhos ao da vovó″ ou do achocolatado que oferece “nutrição completa” para os filhotes chatinhos para comer.

Há os que defendam que não cabe ao Estado intervir neste processo, pois os consumidores têm o direito de escolha. Contudo, para haver escolha, tem que haver informação. Informação clara e transparente. Não é o que temos hoje. As informações, quando chegam, são distorcidas e duvidosas. Confunde-se propositalmente os benefícios do suco em caixinha com os da fruta. Biscoito com fonte de vitaminas e sais minerais. Macarrão instantâneo com comida caseira.

Os pais são os guardiões da infância. Os filtros. Quando eles são deseducados, a infância fica ainda mais desprotegida.

Como pais temos que lidar com temas que não fizeram parte das preocupações das gerações que nos antecederam: obesidade, doenças metabólicas, sedentarismo infantil e puberdade precoce são apenas alguns deles. Estamos confusos, frustrados e ávidos por construir novas referências que nos sirvam de guias por estes novos tempos.

Ao cobrarmos do Governo uma atuação mais efetiva em defesa dos pequenos, regulamentando com rigidez a publicidade infantil, não queremos tutela. Queremos que o Estado cumpra seu papel em defesa do cidadão diante dos interesses de grandes conglomerados, reequilibrando as relações. E que a proteção da infância seja integral, como estipulam as leis do nosso País.

Este texto foi publicado originalmente na Redenutri e republicado em comemoração ao Dia Mundial da Alimentação no blog do Movimento Infância Livre de Consumismo.

A ilustração foi retirada do site: http://drawception.com/viewgame/8CzRThssP7/my-little-pony-the-horror-version/

Comentários

Nine disse…
Tais, o que dizer? Concordo plenamente com tudo, mas no dia a dia fica quase impossível lutar contra isso, justamente porque estamos sós! E mesmo os pais não se dão conta do malefício. Minha filha foi para a escola este ano, com 3a6m. Já faz quase 1 semana que o lanche caseiro dela volta intacto! O que ela come, então? Os salgadinhos, biscoitos recheados, chocolates e balas dos colegas! Quando ela entrou na escola eu escolhi no primeiro mês que ela comesse o lanche da cantina, que tinha cardápio elaborado por "nutricionista"! Eu sou nutricionista de formação, fiquei contente com isso! A minha surpresa foi ver a má qualidade do tal cardápio e verificar que o suco natural, era o de caixinha, o sanduiche era com maionese e mortadela e sem nenhum vegetalzinho, o cereal era aquele bem colorido de bolinhas, quando não era o do chocolate! Fiquei pasma! E cancelei o lanche da escola, mas não adiantou nada. O que fazer?
Beijos,
Nine
Tais Vinha disse…
Nine, esse é um assunto que nos frusta demais, não? O ideal é que a escola tenha uma regra clara de lanches que não podem fazer parte da lancheira. Meus filhos já estudaram em uma que não aceitava refri, salgadinho e biscoito recheado. E orientava que deveria vir fruta e suco natural na lancheira. Na escola onde meus filhos estão hoje, a postura é mais flexível, mesma assim há recomendação para não vir refri, salgadinho e doces. Agora esses lanches de "nutricionista" realmente são para desconfiar: nuggets, bisnaguinha, bolacha, suco hiperultraadoçado...o melhor a fazer é ir conversando com a escola. Mas saiba que a luta é inglória. E que sua pequena vai sabotar muitas vezes suas recomendações - já escrevi sobre isso aqui:http://ombudsmae.blogspot.com.br/2009/03/pequenos-herois-da-resistencia.html

E tem um grupo de mães discutindo esse assunto aqui: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=395058477234776&set=a.296065637134061.69279.294461477294477&type=1&theater

Bjs
Tais Vinha disse…
Nine, se o segundo linque não funcionar, a discussão está na página do infancia livre de consumismo, no Facebook. É o post que tem uma foto de vegetais e frutas.
Anônimo disse…
A melhor opção é mudar de escola !


Nine disse…
Tais, obrigada pelos links! A luta é inglória mesmo. Mudar de escola nem sempre é uma opção, por falta de opção! E tb não acho que seja solução. É tapar o sol com a peneira! O problema vai estourar lá na frente.
Beijos!
Fernanda disse…
Concordo muito com o que vc escreveu. Cada vez mais tenho visto em meu consultorio maes que contam que seus filhos tem colesterol alto mas nao querem comer nada (nada que seja saudavel, bolachas , refri,etc,estas porcarias nao entram na lista), amigas minhas dando papinhas da Nestle e me achando louca por cozinhar e gastar uma grana com produtos organicos. Eu realmente fico chocada, parece que as pessoas perderam o dicernimento, a capacidade de questionar, o que a TV e revistas como a Veja dizem viraram verdades absolutas, incontestaveis...como isto aconteceu?
Fernanda disse…
Concordo muito com o que vc escreveu. Cada vez mais tenho visto em meu consultorio maes que contam que seus filhos tem colesterol alto mas nao querem comer nada (nada que seja saudavel, bolachas , refri,etc,estas porcarias nao entram na lista), amigas minhas dando papinhas da Nestle e me achando louca por cozinhar e gastar uma grana com produtos organicos. Eu realmente fico chocada, parece que as pessoas perderam o dicernimento, a capacidade de questionar, o que a TV e revistas como a Veja dizem viraram verdades absolutas, incontestaveis...como isto aconteceu?
Agra Priscilla disse…
gostei muito desse post bem isso que penso... como é dificil brigar com a midia sem retirar ela do convivio!!! mas nós somos mães fortes lutadoras e vamos conseguir educar nossos filhos ...