"Pensativos" e um vídeo divertido para o final de semana.

Esta semana, recebi dois textos que me deram muito o que pensar. Um é um relato muito sincero e humano da Hegli, sobre sua experiência como professora em uma escola pública estadual. Essa instituição tão falada, tão temida e tão desconhecida por todos nós. A Hegli arregaçou as mangas e neste texto conta como está sendo a experiência e como ela está mudando sua vida. Clique aqui ler "Prefiro ser uma metamorfose ambulante" .

O segundo texto é para ler com calma e preparada para levar um soco. Pelo menos foi o que senti. Um choque de realidade. Enviado pela Silvia Schiros, este texto narra um episódio de bullying sofrido por uma menina, em um colégio de elite de São Paulo. A partir deste episódio, Eliane Brum, a autora, questiona várias coisas, como filhos criados por babás (as chamadas crianças terceirizadas), a opção por colégios particulares, os valores da nossa sociedade e a cruel e devastadora desigualdade que vivemos. Clique aqui para ler "Entre os muros da outra escola".

E, para relaxar depois de tantos pensativos, um video divertido e bem apropriado a um tema que tem estado na nossa pauta: pais, papis e papitos.

Comentários

Tais Vinha disse…
Este comentário foi feito pela Márcia, minha irmã querida, para o texto da Eliane Brum. É tão bom e questionador, que tomo a liberdade de republicá-lo aqui. Bjs!

"Cara Eliane,

Seu último artigo é mesmo necessário para todos. Ele certamente dá voz a uma surda indignação, que precisa ser falada. Tenho certeza de que você dá alívio a muitos pais que se sentem mal por não poderem proporcionar aos filhos mais do que já proporcionam, sem a menor consciência da inversão de valores a que se submetem. Sem consciência nem de como a preocupação deles em proporcionar qualidade pode ser orientada inversamente, ou seja, pela inversão de valores.

Mas há uma ressalva. Não creio que isso decorre da falta de atenção dos pais, nem da excessiva influência que as babás possuem sobre as crianças. A relação entre pais e filhos se dá em outro plano psíquico, não tão profundo como se dá com os funcionários. Acredito que os pais possam ser ausentes, mas ainda assim é neles que as crianças buscam seus valores e buscam se espelhar. Essas crianças têm plena consciência do que é ser funcionário doméstico, depreciam essa atividade e, portanto, certamente não se espelham neles.

A fonte desse comportamento, no que se refere ao plano familiar, me parece estar nos valores paternos. PAra eles o dinheiro parece ter valor afetivo. É nele que os pais buscam sua identidade quando precisam atuar numa sociedade que compreende o mundo entre "os que têm" e "os que não têm". Estar no segundo grupo, nem pensar. Para eles condomínio é mais uma questão de como se apresentar para seu grupo social do que uma preocupação com segurança, e o mesmo me parece ocorrer na indiscutível subserviência à moda e ao consumo exagerado.

Uma vez ouvi uma palestra do prof. Yves de La Taille em que ele analisava justamente essa situação. Sobre as grifes ele foi bem claro: "eu preciso ter, porque não sei ser".

Meu sobrinho já foi mal-tratado na escola porque não tinha roupa de marca. E já o fizeram lamber o chão, numa brincadeira de meninos. Engraçado que ele ficou mais sentido mesmo com a primeira ocorrência. Mudaram-no de escola, depois de falarem com a direção. Eu iria falar diretamente com as crianças.

Essa garota violentada psiquicamente, antes de tudo, precisa de apoio. O que ela mais precisa saber é que estamos com ela nessa rejeição.

Um abraço,

Márcia"
Paloma Varón disse…
Já tinha lido e expressei minha opinião aqui e ali, mas é sempre bom manter esta discussão.
Fico indignada com as mãe que submetem os filhos a seleções tenebrosas para entrar nestas escolas de elite para, a aqualquer "deslize", ele ser vítima dessa segregação.

E vamos seguir o exemplo da Hegli e lutar na prática por uma escola pública melhor!

Beijos
Taís Vinha disse…
Oi Paloma, não acho que a culpa é das mães e pais. Acho que o sistema que vivemos é cruel. Este texto abriu meus olhos para o fato de que, ao querermos o melhor para os nossos filhos, estamos alimentando uma realidade perversa, de muita desigualdade e nossas crianças acabam, inevitavelmente, sendo afetadas por ela. O episódio relatado no texto tem acontecido por toda parte. Não só nas escolas da elite. É a dura realidade de vivermos num apartheid social. Acabamos por nos tornar intolerantes a qq diferença. As crianças são apenas reflexo disso. Bjs!
Carol disse…
Oi, Taís!Quero deixar aqui a minha experiência:
Eu já fiz parte dos dois contextos:
já fui "pobre" em escola de "ricos";
e já fui "rica" em escola de "pobres".

Na época em que estudava, em situação semelhante à da filha da Eliane Brum (meu pai se matava de trabalhar para que pudesse estudar numa das melhores escolas de Santos, onde nasci), eu não sofri bullying, mas sentia que as meninas ditas "ricas" tinham pena de mim. Ficava claro, pela forma que me olhavam e me tratavam. O colégio não era misto, então nos dois anos que estudei lá, fiz amigas muito boas, e nunca fui excluída de nada, mas sempre sentia aquela sensação de que tinham pena de mim.
Em situação inversa, alguns anos depois fui estudar numa escola pública (a pior experiência da minha vida). Eu estava num nível de aprendizado muito acima do da escola, e passei um ano praticamente na "flauta", eu simplesmente não precisava estudar.
Meu caderno de 10 matérias e minhas borrachas perfumadas eram coisas de "rico", tive minha mochila e caderno roubados, minha mãe teve que praticamente fazer um escândalo na escola pra reaver meu material (que apareceu, não me lembro como, essa história é antiga, tem uns 20 anos...eheheh)- e pasme! Sofri preconceito,porque levava lanche de casa pra hora do recreio - os "colegas" riam da minha cara porque eu levava o lanche pra escola...na verdade, até hoje não entendo o que acontecia, eu nunca me achei melhor que ninguém e sempre tentei fazer amizades, sem nunca conseguir. Pra você ter ideia, não consigo me lembrar de um único nome de colegas dessa turma...acabou que pouco antes do final do ano, a minha professora chamou meus pais no colégio e recomendou que me mudassem de escola, porque estava perdendo meu tempo e atrasando meu desenvolvimento ali.
Eu acho complicado descobrir um "culpado" pra determinadas situações, porque se os pais dessas crianças são assim, isso já vem de berço, eu acho que é a mesma coisa que procurar cabelo em ovo. Eu vejo todas essas crianças como vítimas, porque o que serão no futuro?
É como a frase que a Hegli cita no texto dela:
“Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo; de fato, é só isso que o tem mudado”. Margaret Mead, antropóloga
Em algum lugar tem que começar, e acredito que nós temos condições de começar, e já começamos, na verdade. Eu quero ensinar a meu filho (e aos outros, se vierem)todos os valores que aprendi e ajudá-lo a ser um cidadão de bem, que saiba passar a seus descendentes todas as coisas boas da vida, assim como quero ensiná-lo a entender as desigualdes e lidar com elas, pedindo a Deus que ele tenha uma boa cabeça pra lidar com os preconceitos e diversidades da vida. Graças a Deus eu nunca "pirei o cabeção" com o que sofri, claro que fica uma marca, até hoje me pergunto porque as coisas tiveram que ser assim. Mas cresci e hoje procuro sempre passar o meu melhor pras pessoas.
Nossa, que livro eu escrevi!
Beijo grande!
Unknown disse…
TaVi, fiquei um tempo sem passar aqui, pq final de setembro é o um periodo pesado no trabalho.
ainda não li os textos, vou ler com calma. Passei só para te desejar um ótimo final de semana. Estarei em Cpv nesse... se vc puder, adoriria marcar algo para a gente se conhecer pessoalmente. Qq coisa manda uma msg no meu email (imagino que fique visivel para vc, se não, manda um a msg aqui e eu vejo e te mando meu email.) Outra coisa, vc conhece o cine materna? Eles querem ter sessões em SJC.
Segue o email que recebi:
A ONG CineMaterna promove sessões de cinema para mães com bebês, com filmes para entretenimento das mães e sala especialmente preparada para o conforto dos bebês: som e ar condicionado reduzidos, ambiente levemente iluminado e trocador dentro da sala. Conheça mais sobre o projeto: www.cinematerna.org.br

Estamos buscando coordenadoras responsáveis pelas sessões em São José dos Campos. Sua função é preparar a sala de cinema e receber as mães na sessão e no café. Faz parte do trabalho bater muito papo! Não precisa ter nenhum conhecimento específico. O perfil buscado é:
- ser mãe (ter filho em qualquer idade - não precisa ser bebê)
- ter disponibilidade de uma tarde por quinzena, das 13h às 17h30
- ser extrovertida, dinâmica e ter iniciativa

Se você quer se candidatar, envie um e-mail com o código SJC, com seus telefones e uma apresentação sua (histórico profissional e momento atual de vida) para equipe@cinematerna.org.br e aguarde nosso contato.


Bjoks
Paula
Taís Vinha disse…
Paula, email não aparece. Mande seu contato direto pro meu email (tá no meu perfil). Bjs e adorei o convite.

Cynthia, querida. Adorei seu relato. Muito verdadeiro. Mesmo doída, acho que sua experiência foi rica, pois você conheceu os dois lados da vida (que infelizmente existem) e se tornou uma pessoa mais humana. Uma mulher com opinião, atitude e preocupada em trasmitir valores verdadeiros aos seus filhos.

Eu, ao contrário de vc, estudei em escola pública e só no colegial fui para a particular. Tenho ótimas lembranças de ambas. Adorava meus amigos da pública, mesmo sabendo que muitos viviam uma realidade diferente da minha. No colegial, era todo mundo parecido. Alguns mais ricos, outros mais pobres, mas nada que causasse conflitos. Acho que eram outros tempos. Nossos filhos estão vivendo o deles. Não podemos ser pessimistas. Apenas entender melhor o presente e de uma forma ou outra, agir para mudar o que não concordamos. Um grão de areia de cada vez. Bjs!
Paloma Varón disse…
Taís, eu já tinha comentado este texto em tantos outros lugares que me deu preguiça de repetir tudo aqui. mas eu não disse que a culpa é dos pais que querem uma boa educação apar os filhos, eu só me ingno com isso das escolas de elite, assim como me indigno com a seleção ferrenha que eles fazem e que os apis submet]am seus filho a isso.
Mas eu sei que esta situação acontece também nas escolas de periferia e é revoltante que as crianças tenham tanto preconceito e tanta discriminação. Sinal dos tempos em que vivemos, em que a diversidade é vista como algo perigoso.
E sinal, na minha opinião, do baixo vínculo entre pais e filhos e entre pais e escola. Ninguém sabe o que acontece com o outro.
Tenho muito o que falar sobre isso, mas não quero fazer uma tese.
Beijos
Tais Vinha disse…
Oi Paloma, entendo exatamente o cansaço que dá comentar. Ainda mais, textos já comentados e debatidos. Vc tem todo meu apoio e solidariedade! E tem dias que não estamos pra teses mesmo. Eu mesma já fiz comentários extensíssimos em blogs e na hora de enviar cancelo. Deixo pra lá. Um beijão e obrigada por não me achar a única. Hehehe!
Hegli disse…
Taís, obrigada pela força e por divulgar meu relato.
Estive todos estes dias fechando as notas, corrigindo trabalhos do bimestre...
Preparar aulas motivadoras e dinâmicas para que meus alunos possam compreender coisas básicas em arte está sendo meu desafio para agora.
Ah! Consegui, com ajuda de um professor também muito dedicado, montar um ateliê na escola, cederam uma sala que é pouco utilizada (que abriga algumas caixas e estantes), colocamos bancadas e cadeiras. Assim posso fazer “arte” de verdade, mexer com cola, tinta e cortar papel sem me preocupar e perder tempo em arrumar e limpar toda a sala para o professor seguinte. E lá é nítido como eles produzem mais e melhor. Liberdade para criar é fundamental. As aulas teóricas continuam na sala de aula deles e isso cria uma divisão saudável entre a hora de aprender a teoria e a hora de praticar a arte. Vamos caminhando...

E muito comovente e desafiador é o outro texto, da Eliana. Quantas reflexões ela nos ajuda a fazer não?

Bjus