Quero ser pai.



O menino andava estranho. Deu para ter medo de dormir no quarto dele. Dizia que lá tinha um monstro. A mãe tentou de tudo. Homeopatia, dormir com ele, prece pro Papai do Céu, evitar desenhos agitados à noite, luzinha azul, esporte de dia pra cansar à noite, benzedeira. Mas o pânico persistia. Seu último recurso, pensou, seria uma psicóloga.

Até que o pai disse: "Vou resolver essa história do meu jeito. Tudo bem?"

Na última madrugada, quando o menino gritou assustado, o pai foi até o quarto dele segurando uma enorme faca de churrasco. Acudiu carinhosamente o filho e disse: "Hoje eu vou dar um jeito nesse monstro. Fica lá fora com a sua mãe. Não entre no quarto até eu avisar que está tudo bem."

O menino e a mãe saem espantados. O pai fecha a porta e eles escutam uns ruídos estranhos vindos de dentro do quarto. Móveis se arrastando, porta de armário batendo, gemidos, pancadas, som de luta, uivos, janela abrindo. O tempo passa nervoso. O barulho vai diminuindo. Até que o pai abre a porta. Está com a faca e a camisa ensanguentadas.

A mãe não acredita naquilo. Já ía abrir a boca pra dar um bronca daquelas na marido, quando o menino abraça o seu herói: "Pai, você matou o monstro!"

O pai diz: "Você tinha razão. Era um monstro enorme. Deu o maior trabalho, mas eu dei um jeito nele. Olha, ele caiu pela janela."

O menino vê marcas de sangue na janela e cai na risada. "Boa, pai! Aha! Era um monstro muito mal. Aha! Acabamos com ele, né pai?".

Mais tarde, depois de separar a roupa ensangüentada de groselha e conferir o sono tranquilo do menino, a mãe vai deitar pensativa. A maluquice parecia ter funcionado. Mas esse negócio de faca, sangue e assassinato era o fim. Onde já se viu, ensinar uma coisa dessas para o garoto? Cutucou o marido para uma conversa, mas o Xuazenéguer já estava roncando. Conformada, ela virou para o lado e fechou os olhos. A última coisa que lhe veio à mente foi que, pelo menos de vez em quando, gostaria de resolver as coisas com a facilidade dos pais.

Comentários

Roberta Lippi disse…
Muito, muito bom.
Realmente os pais às vezes têm atitudes que nós mães não conseguimos ter. Jamais imaginaria uma mãe protagonizando uma cena dessas...
Silvia disse…
Nossa, muito boa essa!

Simplicidade é tudo, né?
dannah5 disse…
hehehe adorei

Eh a tal praticidade que as vezes nos falta. Tudo eh tao complicado, a culpa os medos de errar, causar trauma, stress e na verdade a soluçao nao eh um enigma de outro mundo eh a necessidade de se sentir protegido de tudo, filho do Rambo mesmo.

Eu tambem queria ser pai as vezes, mae eh muito neurotica!hehe

beijocas e adorei o texto!

Bom fim de semana! ^^
Unknown disse…
hahahahahahahahaha
sem palavras. Amei
Paloma Varón disse…
Pai se preocupa menos (ou nada) com traumas. Fato.
Cynthia Santos disse…
ahahaha
Adorei!
Mas a cabeça do pai não é tão simples assim não (ou é??) - marido me acorda na cama compartilhada essa noite (sim, este findi vamos de cc, confesso que adorei a primeira noite!):
- vc tirou a calça dele?
- sim, ele estava suando.
- e se ele sentir frio?
(lancei meu olhar de "Po, me acordou pra isso?")
- pega um cueiro e cobre ele...

Dificirrrrr...
Letícia Volponi disse…
Menina, sou fã de Calvin e essa historia renderia uma tira e tanto. Chorei de rir. Idéia genial a do papai, embora politicamente incorreta com certeza
Hegli disse…
Concordo totalmente com o comentario da dannah5:
Eh a tal praticidade que as vezes nos falta. Tudo eh tao complicado, a culpa os medos de errar, causar trauma, stress...
Mãe tem sempre esses pensamentos elaborados e as vezes o que resolve é uma bela "facada no monstro"... hahaha.
Bjus
Daniella PSF disse…
ainda bem que funcionou né... senão lá vai a mãe levar o guri pra terapia.. é bem verdade que os pai, são mais simples né... eles nunca pensam no depois, só no agora...
ás vezes também queria ser pai!
Daniella PSF disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniella PSF disse…
Sei que muitas pessoas lêem meu blog, tem sempre comentários muito carinhosos...
mas estou triste com esse número 6, será que não chego nem ao 10? alguém pode me seguir? buá!


tô carente!
Anônimo disse…
Adoro as soluções masculinas, são sempre mais práticas e divertidas. E as receitas de culinária, já viu? Adorei! Beijos em todos com muitas saudades! Dri e macharada.
Unknown disse…
Simplesmente ótimo!

Adorei a solução encontrada pelo Pai. Com sangue ou não acabou resolvendo. Claro que nós mamães não queremos nunca colocar sangue, violência no meio...mas acho que a coisa ficou tão lúdica e o alívio foi tanto pelo mostro ter ido embora que a última coisa que o pequeno vai lembrar é do sangue!

Beijos para vcs!
Priscila & Beatriz
silkelita disse…
Á ótica masculina é prática: tenho que dormir, nem a mulher, nem o filho me deixam, vou acabar com esse monstro já!
Zzzzzzzzzzz!

VovóMadô
Vanessa Anacleto disse…
eu realmente nunca pensaria ou colocaria em prática uma saida como essa. Mas deu certo né? Coisa de pai.

beijo.

PS terminei meu livro,muitissimo obrigada pela ajuda.
Anônimo disse…
Esse post me rendeu boas risadas. Soluções de mãe envolvem planejamento e resultados a longo prazo. De pai, é pra logo e pronto.
Na minha teoria, algumas coisas de pai funcionam bem com meninos. Meninas não gostam muito de sangue nem de violência (não sei se elas nascem assim, ou a gente acaba criando dessa maneira). Tenho uma menina de 4 anos, toda fru-fru e de mundo cor-de-rosa. O pai é hiper mega sensível e carinhoso, mas gosta de umas lutinhas com ela. Vira e mexe, ela sai chorosa das brincadeiras. Mas gosto de vê-la brincando de menino com o pai.
Renata disse…
ahahahaha...


É...para dormir direito eles fazem qualquer coisa....rsrsrsrsr....


Beijo!


Renata.
Unknown disse…
TaVi, Cade vc??
Sinto falta dos seus textos!!
Bjoks
Paula
Hegli disse…
Oi Taís,
Eu já dei o pontapé inicial pra gente aquecer aquela discussão sobre como contribuir na melhoria da educação e do ensino no Brasil e amadurecer algumas ideias lá no meu blog.

http://educacaoambientalcontemporanea.blogspot.com/2009/09/prefiro-ser-uma-metamorfose-ambulante.html

Veja o que acha e se podemos alongar esse tema no seu tb, pois vejo que as “risoteiras” são sempre tão colaborativas... quem sabe não nasce um projeto bacana aqui, não acha?
Bju
Hegli
Taís Vinha disse…
Oi queridas, desculpe a demora em responder. Estou de molho por conta de uma pequena cirurgia. Nada sério, logo estarei teclando novamente, lépida e saltitante. Mas por hora é o que consigo. Adorei os comentários sobre as soluções paternas: no traumas, no mágoas, no noites mal dormidas, no me enche o saco. Acho que a percepção de todas as mães é a mesma, né? Bjs!
Renata Rainho disse…
oi Tais espero que melhore rápido. TEnho lido um blog de outra mãe que conta histórias engraçadas http://ehbatata.wordpress.com/2009/09/23/querido-diario/#comment-619
bj
Dona Pimenta disse…
Oi Taís,
Sou leitora assídua do teu blog. Adoro tudo que vc escreve e tá sendo um grande aprendizado. Estava dando uma olhada nas linhas pedagogicas que são adotadas pelas escolas e confesso que fiquei bastante em dúvida de qual é a melhor. Tenho um filho de quase 1 ano e estou procurando uma escolinha pra ele onde ele possa ter atividades ludicas, seja motivado a aprender e descobrir as coisas sem que isso seja um peso e uma obrigação. A linha Waldorf me pareceu interessante, o que vc acha? Qual a sua linha preferida?
Bjs
Pimenta
(bianca.fraga@terra.com.br)
Tais Vinha disse…
Renata, o blog dela é hilário! Dei muitas risadas, (tortas e doloridas). Obrigada pela dica!

Dona Pimenta, eu sou suspeita pra dar esta dica. Minha irmã é educadora, docente da Unicamp e construtivista xiita. Ela me convenceu a optar por esta proposta pedagógica que, sem dúvida, se encaixa perfeitamente com tudo o que acredito em termos de educação e desenvolvimento infantil. O problema é que hoje em dia, muitas escolas se dizem construtivista sem ser. Então, tem que escolher com muito critério. Como minha irmã xiita diz: "é preferível o tradicional bem feito que o construtivismo largado." O que eu evitaria, sem medo de ser feliz: escolas que usam apostilas na educação infantil. Escolas que alfabetizam cedo demais. Escolas que usam e abusam de atividades xerocadas e massificadas. Escolas que exigem "capricho" e atuam mais pra impressionar os pais do que para desenvolver a criança (todas as atividades são muito bem feitinhas e têm muita intervenção do professor). Acho que o mais importante é você visitar muitas escolas e optar por uma que esteja de acordo com o que você e seu marido acreditam. Ou você ficará eternamente insatisfeita e insegura.

Uma dica: escolas lúdicas tem cara de lúdica. Tem fantasias, cores, melecas, sucatas, arte nas paredes, instrumentos musicais...não são muito arrumadinhas, mas tem cara de criança feliz.

Este texto da Silvia Schiros no blog "O futuro do presente" poderá ajudá-la. Leia também os comentários.
http://futurodopresente.com.br/blog/?p=294

E quanto à linha Waldorf, eu não conheço direito para opinar. Na minha cidade não temos nenhuma escola nesta proposta. Sei de duas crianças que tiveram experiências superfelizes nestas escolas. E de outra que foi um fracasso absoluto, muito por desavenças entre crenças do pai X as da escola. Há cerca de 2 meses conversei com uma grande amiga, educadora, e que, na infância, estudou em escolas Waldorf na Suíça. Ela conhece bem o assunto e me disse estar preocupada pois tais escolas estariam virando uma opção para alunos com distúrbios, que não se encaixam em outras escolas. Assim, em classes pequenas havia um índice alto de inclusão. Vou deixar claro: ela não tem preconceito algum, mas como professora que é, se preocupa com o desenrolar das atividades quando o professor precisa administrar muitos alunos na mesma turma com necessidades especiais, principalmente, comportamentais. Visite a escola Waldorf da sua cidade e fique atenta a este fato. Pode ser algo bem localizado.

Boa sorte e se precisar, trocaremos mais figurinhas. Um beijão!
Neural disse…
gostei muito, adorei a história e achei o texto excepcional. Mas não é a saída que eu escolheria:

- o pai simplesmente validou que monstros existem! e são maus! e perigosos! E se o menino se der conta que existe mais de um monstro no mundo? e se no próximo medo o pai não estiver por ali?

A meu ver, esse medo é um indicador que existem questões subjacentes que não deveriam ser varridas pra debaixo do tapete com um truque de teatro, ou como você diz, apresentando a violência como medida de segurança.

Não tenho nenhum preconceito contra terapia, que muitas vezes pode ser o melhor para a criança.

(polêmica à parte, gostei mesmo!)
Taís Vinha disse…
Oi Neural,

Seu comentário me fez achar que vc era uma mãe e eu já estava com a resposta na ponta da língua. Mas vc é um papito!!!! E o que está fazendo que não está na minha casa?! Porque por aqui e, pelo visto, na casa do restante da mulherada, o negócio é "como sobreviver a esta noite". O Diário de um Pai é ótimo. Apareça sempre, trazendo notícias do lado de lá. Bjs!
Luis Candido disse…
Já que um pai se animou a escrever, aqui vai outro pai. Vivo lutando contra estimulos a violencia, seja em brincdeiras, desenhos de TV etc (ate demais talvez, acho que tenho que pegar mais leve com meus 2 meninos). Mas achei o maximo a inicitiva e fiquei imaginando se foi um caso real do Renato (rsrsrs). Mas escrevo para lembrar um relato de uma professora de Gestalt (uma das 5 mil linhas da Psicologia) da faculdade. Contava de uma crianca que a mae levou ao seu consultorio para lidar melhor com o complexo de inferioridade claramente causado pelas orelhas de abano que tinha. Podia ser um cliente garantido para a psicologa por muitos anos. Mas ela simplesmente mandou a mae buscar o profissional certo: um cirurgiao plastico. Batata! Acabou o complexo. Eu diria que a psicologa foi um pouco pai.
(perdoe a falta de acentos, estou a teclar de um celular).
Tais Vinha disse…
Luis querido, vc não sabe a honra de tê-lo por aqui. Aliás, dois pais, comentando no mesmo texto é um feito histórico aqui no Ombudsmãe. Acho que criarei um selo: Comentado por um pai!

A psicóloga gestaltiana foi totalmente homem. Tem horas que temos que buscar atalhos. Mas as mães tem uma grande dificuldade em enxergá-los. Deve ser o estrógeno. Ou as novelas do Manoel Carlos.

Quanto aos estímulos contra a violência, tenho estado em contato com umas estudiosas contrárias às teorias de que a violência da mídia e dos videogames piora a violência infantil. Elas defendem que as crianças usam estes canais para aprender a lidar e dar vazão à real violência da nossa sociedade. É claro que tudo dentro do aceitável. Mas não me aprofundo muito no tema, por não me sentir segura. Vou convidar uma delas para escrever aqui e apresentar suas teorias. Acho que seria bem útil.

Bjs!
Neural disse…
Taís, é um prazer passar por aqui, obrigado pela acolhida calorosa!

Luis, acho que de fato ali as melhores saídas seriam uma plástica muito simples ou chamar o timóteo (o rato, não o aguinaldo) para ensinar o guri a voar com as orelhas...

Agora Tais, sua amiga está certíssima quanto aos videogames Estamos no aguardo desse prometido post então.

abs!
renato
Diário Grávido
sarah monique disse…
Muito bacana,enviei para os meus contatos por email e face.Parabéns.