Para os alfabetizadores, com carinho.

Este texto foi escrito com o objetivo de ser publicado no dia do professor. Para variar, eu acabei me perdendo com as datas e ele sai hoje, atrasado. Espero que as professoras me perdoem por mais essa.



Dona Wilma foi professora da Prefeitura de São Paulo e trabalhou a vida toda nas séries iniciais de alfabetização. Por opção. Ela adorava alfabetizar.

Conheci-a quando já estava aposentada, mas me lembro do carinho e do entusiasmo com que ela conversava sobre seu tempo de ensino. Ela ria quando dizia que seu negócio era sala de aula. Recusou todas as propostas de transferência para um trabalho mais burocrático. E levou muita reprimenda porque se recusava a "soltar" os alunos para participar de reuniões internas. Se queriam conversar, dizia, que fosse em outro horário. Ela tinha uma aula a dar e levava isso a sério.

Não me lembro, nas nossas conversas, de ouvi-la falar mal dos pais, do sistema, das condições, dos colegas, do que fosse. O assunto era sempre os alunos. Mesmo depois de aposentada, sua maior preocupação eram eles. Contava como se empenhava em fazer aquelas criaturas tão pequenas se sentirem capazes e confiantes diante do imenso desafio que é a alfabetização. Sempre os elogiava e demonstrava orgulho por suas conquistas. Tinha um jeito todo especial de lidar com os mais desatentos, negligenciados ou com dificuldades em aprender. Sentava-os perto dela, penteava seus cabelos, dizia como eles eram queridos, como eram inteligentes e o quanto era bom tê-los como alunos. A estes dedicava um acompanhamento especial.

Se orgulhava em contar que nunca, na sua trajetória, um aluno seu terminou o ano sem saber ler e escrever.

Com Dona Wilma aprendi que educar é, antes de tudo, respeitar e acreditar no outro. Mesmo que este outro seja um ser mal saído das fraldas ou um arrogante jovem de boné. Ela nunca enxergou num ser humano um caso perdido.

Meus filhos tiveram a sorte de ter em suas vidas, professores que também souberam misturar amor às letras e aos números. Admiro-os imensamente, pois sei que não é fácil. Educar é um longo percurso, cheio de desafios e conduzir uma criança com segurança por ele requer conhecimento, determinação e paixão pela profissão. A estas pessoas maravilhosas meu eterno obrigada! Em tudo o que eles venham a ser ou fazer, haverá sempre uma parte de vocês os acompanhando.

Comentários

Paloma Varón disse…
Admiro demais estes professores. minha filha tem ótimos professores e espero que continue assim, na fase da alfabetiuzação e nas subsequentes. Acho - e sempre achei - que o maior investimento deveria ser feito na pré-escola e na educação básica (ensino fundamental). Formada esta base, é muito mais fácil construir o futuro de casda um e de todos.
Renata disse…
Taís,
Tenho comigo que nós professores alfabetizadores temos de agradecer todos os dias pela profissão.
E aqueles que fazem com paixão não querem sair da sala de aula, eu entendo bem a dona Wilma
Em meus pensamentos, lá no fundinho do baú das minhas recordações, tenho a imagem mental, dos rostinhos de todos os meus alunos que passaram por essa fase comigo.
É mágico quando eles percebem que conseguem escrever as letras, que essas letras formam sílabas e, que consequentemente conseguem ler a palavra que escreveu.
Essa é a nossa recompensa!!!!
Mais uma vez adorei seu texto e muito obrigada por mais essa recompensa!!!!
Beijos,
Renata
Tais Vinha disse…
Oi Paloma, vc tem toda razão. O início é muito importante. É a base do que virá. O que me inspirou a escrever este texto foi tentar entender uma partitura. Me pareceu algo marciano. Um código indecifrável. Daí imaginei que, para a criança, aprender a ler e a escrever deve ser algo semelhante. Um código extra-terrestre que um dia ela decifra e usa! Saber conduzir um aluno por este processo é mágico, não? E nada fácil. E é um processo que dura anos. Considero que todos os meus filhos ainda estão passando por ele. E eu continuo sem entender lhufas da partitura! hahahahahahaha.
Letícia Volponi disse…
Tenho certeza que com essa linda homenagem, seu pequeno atraso será perdoado pelos professores. Eu lembro com muito carinho da minha professora de pré-escola, Andrea. Do amor que ela tinha por cada um de nós. Espero que a Laura tenha a mesma referência gostosa que eu tive com a alfabetização.
Acredito que tudo que fazemos com amor traz bons resultados, e também acredito que casos perdidos não existem, o que existe são pessoas com maiores dificuldades e que necessitam de maior apoio. Infelizmente nem todas são donas Wilma, mas aquelas que o são realmente merecem nosso parabéns.
Unknown disse…
Oi, TaVi.
que texto lindo (nossa, que novidade!! hehehe)

essa parte me emocionou muito: "Sentava-os perto dela, penteava seus cabelos, dizia como eles eram queridos, como eram inteligentes e o quanto era bom tê-los como alunos. A estes dedicava um acompanhamento especial." Tenho pensado muito em como a gentileza está relacionada ao tempo. Tempo que dedicamos ao outro.
Bem, tempo e atenção, numa verdadeira empatia com o outro...
Outra coisa que sempre pensei, quanto mais novas as crianças, menores as turmas deveriam ser. E nas faculdades deveríamos ter aquelas turmas enormes com mais de 100 alunos. Pq ai todos teriam a autonomia e um certo auto-ditatismos aprendido nos 1os anos...

Posso imprimir seu texto e colocar no mural da escolinha do Leozinho?
Bjoks
Paula
PS: Seus textos me movem a procurar sempre o melhor caminho, a ser sempre um ser humano melhor.
Ivan Palmer disse…
É até sacanagem, diante de um belo texto como esse, apontar erro gramatical. Mas porra, preciso falar. É "trajetória", com j.
Taís Vinha disse…
Ivan, muito obrigada pela revisão! Farei imediatamente a correção. Assumo sem melindres os meus erros. Principalmente, os de português. Os outros eu prefiro que sejam apontados com mais jeitinho, de preferência, sem a porra da porra.

Bjs!
Tais Vinha disse…
Oi Paula, vc falou em tempo. Acho que tempo hoje em dia virou artigo de luxo, não? Vc tem razão. O tempo dedicado a estas crianças teve o poder de transformá-las. Essa sua idéia de turmas menores antes e maiores depois é boa. Hj já ocorre um pouco, né? Tem faculdades por aí que colocam 100, 120 alunos num auditório. Mas sem o "auto-didatismo" (gostei deste termo) prévio, vejo que a maioria dos alunos apenas fazem o suficiente pra passar pela disciplina. Vc tem autorização permanente para reproduzir meus textos, ok. E que responsa seu PS! Tô me sentindo a Oprah! hahahahahahah Bjs!