Ditadores e merenda, história antiga.



Ditadores e merenda, história antiga.

Durante a ditadura militar, no governo João Figueiredo, houve muita propaganda sobre os fantásticos benefícios da soja, grão estranho à população, cujo plantio estava sendo introduzido em nossos campos.

Me lembro que minha mãe comprou o discurso e eis que, um belo dia, ela aparece em casa com uma saca de 60 quilos de soja.

Tuba, nossa cozinheira*, reinava absoluta no fogão e decidiu que aquele grão desbotado seria preparado de duas maneiras: em forma de salada ou cozida como feijão. Minha mãe bem que tentou introduzir outras variações, mas, basicamente, na nossa mesa, o cardápio era inovado com um rodízio diário de soja em salada ou soja em feijão.

Estudávamos na escola pública e, um dia, recebemos a notícia que o Governo Federal iria introduzir leite de soja na merenda escolar, fabricado por uma máquina que se tornou conhecida na época como “vaca mecânica”.

Nosso paladar infantil entrou em colapso. Não conseguíamos lidar com a notícia de mais soja em nossas vidas.

Foi o presidente Figueiredo, o próprio, que nos salvou da maldição do grão do oriente. Diante de toda a imprensa, ele experimentou o leite de soja e com a finura de quem sentia-se bem à vontade nas cocheiras, cuspiu o líquido longe dizendo que o gosto era horrível. 

Foi praticamente o fim do programa nas escolas. Em casa ele continuou por mais uns 250 anos até que o último grão de soja daquele enorme saco de estopa fosse consumido. Em forma de salada ou feijão.


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* Ah, a ditadura e os saudosos tempos da classe média avec serviçais (aviso ao leitor franco comentador: estou sendo irônica)



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