Comida de astronauta



Comida de astronauta

“Mãe, essa sopa tá esquisita. É sopa de que?”

A mãe não sabia. Nem a assistente social soube dizer o que tinha naquele granulado esquisito que ganhou da Prefeitura. 

A assistente ainda tentou animá-la: “É comida de astronauta, olha que chique!”

“Moça, num precisa ir tão longe pra encher nossa barriga, não. Eu fui criada na roça. A gente era pobre, muito pobre, mas sempre tinha um cará, um aipim, uma taioba pra refogar, uma banana amassadinha pra dar pros bebês. Comida é o que vem do chão que a gente pisa, não da lua.” 

“Mãe! Ô mãe! Que que tem nessa sopa?”

O resmungo dos filhos a trouxe de volta dos pensativos. 

Continuava sem saber o que responder. Misturou a ração da Prefeitura na água quente, colocou o miojo pra dar uma alegrada, uma pitadinha de sal. Sabe lá o que tinha na sopa.

Lembrou-se da música que uma das patroas tocava na hora de dar papinha pro nenê. Começou a cantarolar:

"Que que tem na sopa do neném?
Que que tem na sopa do neném?
Será que tem farinha?
Será que tem balinha!?
Será que tem macarrão?
Será que tem caminhão?!
É um, é dois, é três..."

Os meninos acharam estranho. “Tá doida, mãe?!”

A mãe continuou, agora batucando com a colher de pau na frigideira vazia.

"...Que que tem na sopa do neném?
Que que tem na sopa do neném?
Será que tem mandioca?
Será que tem minhoca!?!
Será que tem jacaré!?!
Será que tem chulé!?!
É um, é dois, é três...

As crianças começaram a rir e devagarinho foram engolindo. 


Comentários