O consumismo infantil na (dis)versão da Veja.
O consumismo infantil na (dis)versão da Veja.
Parei de assinar a Veja quando me dei conta que me aborrecia muito com o "jornalismo" tendencioso de tal revista. Pagar para ser irritada semanalmente pela Abril, chama-se masoquismo e esta prática ainda não faz parte do meu repertório de esquisitices.
De lá pra cá, só leio a Veja nos consultórios odontológicos e no banheiro de algum parente. Não compro nem na banca, pois a irritação geralmente já vem com a capa.
Nessas lidas eventuais, a Veja nunca decepciona. Sempre defende abertamente seu peixe. Foi assim quando detonaram o construtivismo. Alguém me diga se uma empresa que VENDE um sistema de ensino apostilado (o Sistema Ser de Ensino) tem a isenção necessária para criticar outra proposta educacional? Ainda mais uma proposta educacional que não convive bem com apostilas.
Agora eles publicam uma matéria sobre o consumismo infantil. Dizendo que é tudo balela, é claro. Opa! Folheiem a Veja e me digam: quem mantém a revista? Os anunciantes. Os publicitários. E os otários (nós que lemos). Alguém acha que a Veja iria fazer uma matéria isenta sobre este tema? Claro que não!
O texto detona abertamente os movimentos em favor de um maior controle da publicidade para crianças. E para isso coloca as opiniões de vários "especialistas": anunciantes, publicitários, um governante, pais e crianças escolhidas a dedo para confirmar a opinião da Veja sobre o assunto. Mas em nenhum momento, coloca a opinião do especialista do outro lado! Cadê o Alana? Cadê os pesquisadores das universidades, cadê os educadores e os pais que borbulham na internet preocupadíssimos com esse assunto. Não aparece ninguém. É a modalidade "jornalismo de um lado só".
A única pesquisa citada é a do grupo Turner, que também é um conglomerado de mídia que vive de anúncios. Uia!
Mas o que mais irrita são os clichês, que abundam no texto. A tal da frase: "não se pode criar os filhos numa redoma" é repetida por todos os entrevistados. É muita pretensão dessa turma achar que controlar a lixarada que eles despejam diariamente sobre nossas crianças é querer criá-los numa bolha. Relô senhores e senhora Veja! Redoma é onde as crianças estão hoje. Uma redoma onde eles ficam presos e são submetidos diariamente ao bombardeio de mensagens de consumo. Compre, tenha, peça, implore, faça regime, transe, seja descolado, compre mais um pouco...afastá-los o mínimo que seja disso é botar na redoma?! Ou deixar entrar ar fresco na mente?
Outro clichezão irritante é dizer que o melhor controle é o dos pais. Então, senhores, proponho que vocês criem um fundo para a manutenção de um dos pais na residência. Pois com os pais lá fora, jambrando pra pagar o cartão de crédito, quem controla o que as crianças assistem é o Sílvio Santos, o Cartoon Network e sabe-se lá quem.
Na minha opinião de mãe irritadinha, na mão dessa turma é que não dá pros nossos filhos ficarem. É tudo lobo mau disfarçado de quebradores de redoma.
Veja, por enquanto, continuaremos a nos ver só no dentista.
Clique aqui para ler a carta enviada pelo Alana à Veja em protesto pelo teor da matéria.
Foto: richard.heeks
Comentários
Parabéns pelo texto!
Vanessa, eu tb não gosto desses "convites" de teatro que as escolas distribuem. Geralmente são peças caras e "industrializadas". R$40,00!!!! Meu filho veio com uma assim do Garfield e foi a mesma situação chata. Talvez devêssemos conversar com a escola sobre isso, algo que não tinha me ocorrido antes de ler sua mensagem.
Bjs!
Super concordo contigo. Já fui assinante e hoje sou ferrenha contra, porque a VEJA é uma revista que é sempre do contra o que não lhe interessa e sem noção quando é a favor de alguma coisa, chegando a dizer muitas besteiras pra te convencer de que aquilo é a 8ª maravilha do universo.
Pior ainda é ver que tem gente que acredita em qualquer coisa que "saiu na revista" ou "deu no Jornal Nacional"... Como se a mídia fosse isenta.
Ter criticidade ajuda a educarmos pessoas com critérios... Parabéns!
Beijo,
Ingrid
Beijos
bjs
E olha, a redoma é o mundo limitado pela necessidade do consumo como formador identidade pessoal e social.
Esse é o nome do veneno que nos empuram.
bjo
Como educadora, deveríamos usar mais livros e menos apostilas, abolir o saber fragmentado. Mas alerto que, como pais, devemos tomar cuidado com aquilo que escolas (especialmente as privadas) nos vendem como "construtivismo". Este termo é muito usado para dar a idéia de uma educação progressista, e isso nem sempre condiz com a realidade.
Ainda prefiro o conhecimento adquirido através de bons livros e não esse conhecimento "maceteado" e compactado das apostilas.
Se os pais querem matricular o filho numa escola que siga esta proposta, tem que ter muito cuidado na escolha.
Apostila não tem nada a ver com construtivismo. Fujam de quem aposta nesta proposta. Outra coisa é que os professores tem que ter formação continuada e tem que ser muito bons.
Bjs!
"a redoma é o mundo limitado pela necessidade do consumo como formador identidade pessoal e social."
Abalou, garota!
Amei seu blog e sua forma de escrever, pensar e analisar. Concordo plenamente contigo. Muitas vezes temos mania de engolir tudo o que nos oferecem, mas desde que me tornei mãe tenho me tornado cada vez mais crítica e desconfiada do que consumo (pra mente e corpo). Eu não moro no Brasil e pra mim tem sido mais fácil levar minhas escolhas à vante assim. Mas no momento estou visitando o Brasil e me dou conta como é dificil convencer a todos que quem está numa redoma não sou eu. Dificil mes-mo.
E abaixo a Veja e o jornalismo do tipo!
Abraços com admiração pelo seu blog,
Luciana
Há muito não VEJO a VEJA...rs
Nem no salão. Prefiro folhear a caras ou qualquer outra revista de banalidades do que ver uma pseudo-revista-informativa.
Argh!
E, veja bem: eu não digo que não pode porque não pode. Eu digo que não pode porque (1) ela não anda sozinha por aí, tem sempre algum responsável junto, (2) não há estudos conclusivos que comprovem que as ondas do celular não afetam em nada o cérebro, principalmente o cérebro em formação das crianças e (3) custa dinheiro e não é bem necessário. Pergunto se ela é uma pobre coitada que não tem nada. Mostro que ela tem qualidade de vida, e que isso é mais importante do que um celular. Depois de muitas lágrimas e protestos, consigo contornar a questão e ver a criança concordar comigo, mas falei pro pai: caramba, vai ficar cada vez mais difícil. Porque os pais estão dando celular pras crianças! E cada vez mais crianças vão pedir e vão ganhar. E vai chegar a hora em que só uns gatos pingados não vão ter.
Taí uma conversa séria pra ter com a escola: não seria o caso de proibir? Levou pra escola? Então entrega pro monitor, que só vai entregar diretamente pro responsável, na hora da saída. Tem hora em que eu acho que democracia demais não pode.
Mudando de assunto, a cantina agora vende chocolate, você viu? Aos poucos, os lanches menos saudáveis vão dominando tudo, porque é mais fácil. Eu fico cansada de fazer o mais difícil. Hoje a Ca comeu o lanche dela + um bolo de chocolate recheado sei lá das quantas. E, no caso dela, a grande questão não é comer ou não comer um lanche saudável. É comer ou não comer demais, porque falta limite. É duro ser mãe, viu?
"lobo mau disfarçado de quebrador de redoma" - posso adotar pra sempre?
bjs
Bjus
Uma colega defendeu mestrado recentemente e mostrou que as propagandas de salgadinhos e biscoitos recheados ficam gravados na memória das crianças (http://iramaiafigueiredo.blogspot.com/2010/09/para-quem-tem-filhos-salgadinhos-e.html). Além desta pesquisa, quantas outras não existem constatando algo similar?
abs!
Já passei com meu primeiro pela fase celular. Dissemos "não" e o motivo era sempre "porque vc ainda não precisa". Ele esperneava, é claro, mas a gente não dava bola. Qdo. ele tinha 11 anos ganhou um usado de uma tia. Foi a conquista do Everest. Colocou uma foto dele na tela e saiu se exibindo. Em breve percebeu que tinha que ter grana pra fazer o bicho funcionar e não queria gastar a mesada pra comprar crédito. Fez isso umas 2 vezes e hj o celular está abandonado no fundo de uma gaveta. Nunca mais pediu. Agora estamos enfrentando o mesmo problema com o segundo. Mas ele é mais tranquilo. Essas insistências e questionamentos fazem parte e ajudam a criarmos filhos mais conscientes. Só o fato de não cedermos já é para eles uma grande lição de postura de vida. Bjs!
esse assunto de publicidade é super delicado, agora falar que é balela é o fim do mundo.
Quanto a publicidade voltada para as criancas, bom, confesso que as propagandas de brinquedos sao as que menos me incomodam, me tiram do serio sao as propagadas de produtos aliemticios voltadas para os pequenos. Passei um aperto danado por conta de um publicidade de leite, ate hoje quando ve a caixa de leite ele pergunta se 'e da tal marca, mudamos de pais e agora, na Argentina, a coisa parece ser ainda pior, o cumulo pra mim e propaganda de maionese, particularmente eu gosto de maionese, mas dai a fazer uma propaganda que estimula o consumo diario da dita cuja por que torna a refeicao divertida e demais.
Parece que temos um bocado em comum. Deixei de assinar VEJA (desde aquela reportagem sobre os transgênicos),não compro nada sem ler o rótulo, evito alimentos industrializados, não acredito nesse papo de que não se pode viver sem leite de vaca - não sou bezerro!, nem que Danoninho é nutritivo.
Ah, e faço pão integral em casa!
Parabéns por tua clareza de pensamento e por teu blog.
Abraços