Maratonas Matinais



O despertador toca às 6 da manhã. O maldito nunca falha (seria ainda mais maldito se falhasse). Saio da cama toda amassada e visto qualquer coisa. Acordo os meninos que resmungam e se enfiam debaixo do edredon. Coloco os uniformes ao lado deles e chamo-os mais uma vez. "Vamos, meninos, coloquem o uniforme, está na hora". Desço para preparar o café e as lancheiras. Quinze minutos se passam e estranho o silêncio. Subo. Meninos ainda debaixo do edredon. "Vocês ainda não levantaram?! Vamos, coloquem o uniforme". Desço novamente quando percebo que eles começaram a sair do coma. Continuo a preparação de lanches e sucos. Desce o primeiro e se senta no sofá. "Vem tomar café, filho". Desce o segundo com o tênis na mão "Filho, calce o tênis". O terceiro não aparece, subo novamente. Ele está dormindo sem camisa, com a calça do uniforme enfiada em uma perna. Acordo-o e levo-o para o banheiro. Ele pergunta muito bravo: "Mãe, hoje é amanhã?". Acho graça e respondo: "Sim, hoje é amanhã." A fúria toma conta dele: "Eu não entendo...eu durmo e já chega o amanhã. É muito rápido!" Começa a chorar.

Ajudo-o a segurar o bereguelo na hora do xixi. Semi acordado, o tiro sai pra qualquer lado, menos pra dentro do vaso. Terminamos de colocar o uniforme e desço com ele no colo. O maior continua no sofá e o do meio, sentado na mesa olhando para a xícara vazia. O tênis ainda no colo.

"Você não vai tomar café?" pergunto.
"Hoje tem o quê?"
"Tem o que tem na mesa".
"Ah..."

Sento o caçula na mesa, preparo-lhe um leite e termino as lancheiras. Volto para a mesa. O do meio continua olhando para a xícara vazia, com tênis no colo. O caçula está tomando leite. E o mais velho dorme no sofá.

"Vamos, gente. Peguem as mochilas que já estamos de saída. Vocês já escovaram os dentes? Filho, calce o tênis."

Olho para o caçula. O leite derramou e sujou a camiseta. Subo pra pegar outra, mas não tem nenhuma no armário. Encontro uma sem passar na lavanderia. Visto nele assim mesmo. Hoje ele vai pra escola estilo uva-passa.

Retorno pra sala e os outros dois continuam praticamente na mesma posição. Falo irritada: "Você ainda não calçou o tênis?"

"Vou calçá-lo no carro."

Rosno e pego a chave do carro e as lancheiras. O pequeno chora. Quer colo. "Não consigo levar você no colo e as lancheiras". O choro aumenta. Não estou com nenhum saco pra negociar. Coloco as lancheiras no chão, pego-o no colo e peço aos maiores para me ajudarem. "Eu não posso, porque tenho que carregar meu tênis". Olho para ele com tanta fúria que ele dá um jeito de carregar as lancheiras.

Chego na escola. Todos descem. Menos o do meio que continua com o tênis na mão. Entro em surto: "O quê?! Você ainda não calçou esta droga de tênis? Sinto muito mas hoje você vai descalço pra escola."

"Mãe..."

"Nada de mãe...hoje você vai calçar o tênis lá dentro." Saio do carro pronta pra arremessá-lo de meias escola a dentro e ensinar-lhe uma lição.

"Ô Mãe, é que tem um nó apertado. Não consigo desamarrar."

Engulo seco. Não havia mais nada a ser feito a não ser desamarrar o tênis e terminar logo com esta história. A hora em que eles passam para dentro do portão é de imenso júbilo. Consegui!

Se alguém vendesse rojões em porta de escola, ficaria rico.

Comentários

Anônimo disse…
não sei o que faríamos sem as escolas... por mais problemas que se possam ter, a harmonia dessa mãe aqui depende desses preciosos momentos para ela conseguir estar mais disponível qdo retornam suas duas filhotinhas a mil por hora!
Compraria todos os rojões!
bjs
telma
Anônimo disse…
estou mais tranqula...não sou a

única a passar esta situação todos

os dias....

Entro em extase ao ve-los entrando

pra escola....

Tenhos três meninos...imaginem...

Me chamam de louca! Pois todos os dias tenho um surto.