Procuro uma escola que dê jeito no meu filho.


Procuro uma escola que dê jeito no meu filho.

Um equívoco muito comum é a escolha da escola ser feita para "dar jeito" na criança. Canso de ouvir mães justificarem a matrícula em uma instituição linha dura porque o filho precisa de mais disciplina.

E junto com essa explicação, praticamente todas se queixam que vivem sendo chamadas pela escola por conta da rebeldia ou da indisciplina dessas crianças. Bilhetes, advertências, birras, malcriações, bronca em reuniões de pais, acabam virando parte do pacote.

Conclusão que se chega: o filho é mesmo impossível.

Leda me conta que, cansada de tanto ser chamada, avisou a escola: "Não me chamem mais. Ele é assim, vocês conhecem, resolvam." E assim o problema deixou de existir. Apenas para ela, é claro.

Rafael, o filho da Leda, é um menino extremamente ativo, desses com o bicho carpinteiro. Ao mesmo tempo, é um menino curioso, arrojado e explorador. Se mete no meio do mato, trepa em árvore, faz clubinho e passa o tempo todo na rua inventando coisas.

O erro de Leda foi escolher a escola focando nos defeitos do filho ao invés das qualidades. Podia ter escolhido uma escola que valorizasse o lado curioso dele. Uma escola que não o obrigasse a ficar o tempo todo sentado, que o deixasse pesquisar, explorar e contribuir com a dinâmica da classe com o que tem de melhor. Uma escola que o fizesse se sentir aceito e útil, do jeito que ele é.

Na escola linha dura que ele foi matriculado, acabou rotulado como o aprontador. E, como todos os rótulos, Rafael assumiu integralmente o papel. Entope vasos sanitários, briga, joga coisas no telhado. E dá-lhe sanções para ver se o menino se enquadra e fica quieto na carteira.

Já Tamires, a filha da Carla, não tem problemas comportamentais. Mas não é do tipo acadêmico. É distraída, prefere praticar esportes e participar de atividades lúdicas, do que ficar debruçada em cadernos. Para dar "jeito" nisso, a mãe optou por uma escola que dá bastante matéria e tarefa.

Hoje surta com a dificuldade que é fazer a menina estudar. A menina, esperta como é, aproveita a fama negativa para demonstrar toda sua má vontade em casa e na sala de aula. Numa outra escola, mais estimulante e comedida com relação à quantidade de tarefa e de matéria, a menina talvez fosse outra criança e quem sabe até, se sentisse mais estimulada a aprender.

Que fique claro. Não estou defendendo aqui a educação livre e inconsequente, a tal "solta de mais" que os pais tanto temem. Crianças precisam de limites. Mas limites que sirvam para conduzir e não para limitar. E isso, bons educadores sabem fazer porque estudam para ser educadores e não militares.

A valorização dos nossos filhos, começa em casa. Da próxima vez que os problemas comportamentais deles nos tirarem o sono, vamos sacudir a cabeça e tentar focar naquilo que eles tem de melhor. E dali para frente, buscar resgatar a criança maravilhosa que está se perdendo em meio a tantas críticas.

A escola precisa ser nossa parceira neste resgate.

Comentários

Luciana Fiuza disse…
Nossa vc nem imagina como esse post veio a calhar com meu momento..
Meu Pedro está nessa situação,talvez até perca o ano por conta de não dar conta das matérias do colégio ¨tão bom¨que escolhemos para ele..
Sofremos com sua hiperatividade e déficit de atenção...e realmente tenho pensado muito em rever o conceito em si de colégio que se encaixa de verdade no jeito que ele é..
Adorei as palavras..me inspiraram até..
Beijos...
Tais Vinha disse…
Oi Luciana, imagino a dificuldade que vcs estão enfrentando. Não conheço seu menino, mas me preocupa a quantidade de crianças sendo rotuladas como portadoras de déficit de atenção. Pode ser apenas desatenção, imaturidade ou até chatice demais em sala de aula. Talvez seja mesmo caso de buscar um ambiente mais propício a ele. Mas é sempre bom ficarmos atentos e se preciso investigar. Confie na sua intuição e busque o melhor para seu filho. E evite rotulá-lo. Se precisar estaremos por aqui.

Bjs
Rosa Lopes disse…
Tais eu gostei muito do texto.
Eu fico surpresa como as criança têm desenvolvido tantos "problemas" no nosso tempo, será que nunca existiu criança "danada" antes? Estranho. Acho que passamos a ver a criança feliz de antes como problemática.
Nos EUA a rotulação vira caso clínico muito rápido,a criança pode ser medicada por ser ativa por recomendação da escola. Dá muito medo, mas acho que o sistema não tem evoluído daí esse extremo. Existem outros conceitos educacionais por aqui, mas são aplicados em escolas particulares, o que por questões econômicas afasta uma parcela definitiva da população.
Minha filha faz homeschooling que é uma alternativa buscada por nós por vivermos em uma área de escolas com baixo padrão, oficialmente, e como não dá pra viver em outra área no momento...Resulta que ela tem um nível mais alto que o regular (ou regulado) aqui, por exemplo letra cursiva ela já tem, causou um certo choque na orientadora que não acreditava e passou cadernos de caligrafia pra menina. Nós ficamos também em choque por uma coisa tão natural ter causado tal reação kkkkk e deixamos os cadernos pra outra filha mais nova.
Estou lendo bastante sobre a pedagogia Waldorf e chegando no Brasil vamos por uma.
bj
Adorei! É assunto do tipo do óbvio ululante, que precisa alguém de fora falar pra cair a ficha. Texto para guardar, reler e pensar.
Bj
Melissa Machado disse…
A escola /professor deve se adaptar ao aluno e não ao contrário!Sou professora e mãe, tenho q saber lidar com as diferenças,estudei pra isso.Busco encontrar caminhos pra que cada um possa ser atendido dentro das suas dificuldades.Acredito no potencial de cada um!Não procuro a MELHOR escola pra minha filha,mas sim a escola que a faça se sentir "a melhor",do jeito dela,respeitando o ritmo dela!
Concordo plenamente com o que escreveu! A atitude e percepção têm que ser percebidas em casa, pelos pais. E posteriormente trabalhada em parceria com a escola.
Muito bem. Adorei o texto.
beijo!
Este comentário foi removido pelo autor.
OI, Taís,

Esse teu texto foi um dos melhores que já li sobre o tema. Muita gente acha que transferir a responsabilidade de educar e de reconhecer as capacidades e competências dos seus filhos para terceiros é o seu papel.

Cuidar não é necessariamente adestrar. Estimular, facilitar o aprendizado, ter envolvimento com o desenvolvimento é o que se espera do professor.

Disciplinar, tornar a criança um corpo dócil e uma mente que só responda às ordens não parece nazismo pra você?

Já falei um pouco sobre a ditadura da hiperatividade aqui: http://desconstruindoamae.blogspot.com/2010/06/hiperativa-ou-nao-eis-questao.html

BEIJO,
Ingrid
Pimenta disse…
Exato,perfeito.Quando veremos uma opinião dessa numa revista de qualidade?
bjo
Carolina Pombo disse…
Excelente Taís!!! Eu tenho pensado nesse tema para os bebês, que tão novinhos às vezes são confrontados com ambientes ultra fechados - em termos espaciais e educativos! Quantas vezes não já testemunhei babás e supostas educadoras impedirem a criança de engatinhar pelo chão do parquinho ou "trepar" no escorregador porque têm aprender desde cedo a serem "calmas" e disciplinadas. Ao invés de se adaptarem às necessidades de expansão das crianças, muitas creches e escolas de educação infantil se focam na imposição de limites. O que gera o maior conflito na relação com as crianças e com os pais. Mas, ainda bem que há muitas boas escolas e babás qualificadas - com sensibilidade e carinho suficientes para respeitarem a personalidade e o momento da criança. Só nos resta saber escolher!

Grande beijo
Carolina Pombo disse…
Ah! Aproveito para divulgar a palestra gratuita que darei na Escola Virtual para Pais sobre a escolha do melhor modo de acolhimento para nossos bebês.

http://www.whatmommyneeds.net/2010/11/parcerias-escola-virtual-para-pais-e.html

Espero contar com sua opinião sempre tão enriquecedora!
Unknown disse…
Oi Tais,

Estou passando aqui pela primeira vez e adorei seu texto. É impressionante mesmo como os pais às vezes se concentram nos defeitos dos filhos para tentar resolvê-los e esquecem das inúmeras qualidades, deixando-as de lado na hora de conduzir a sua educação.

Voltarei mais vezes!

Ivana
Tais Vinha disse…
Oi Rosa, tenho lido dados preocupantes sobre o uso de medicação para controle comportamental de crianças nos EUA. Aqui o fenômeno é menor, mas está crescendo. Me causa pânico o enquadramento químico de uma criança. Tenho certeza que há casos patológicos, que o tratamento é indicado, mas jamais para crianças "levadas" darem sossego aos pais e professores. Medicar uma criança é uma responsabilidade imensa! Já testemunhei mães sairem de consultórios com receitas de narcolépticos e remédios calmantes, na primeira consulta.

Você está certa. Os meninos danados de antigamente, hoje são levados aos psiquiatra. Será que estamos perdendo parâmetros? Ou confiando demais em soluções mágicas feitas em laboratório.

Como vc consegue conduzir o home schooling no dia a dia? E como lida com a questão da sociabilização das suas meninas? Qdo der, escreva.

Bjs
Tais Vinha disse…
Melissa, você tocou em um assunto muito importante. A adaptação tem que ser de ambos os lados. Filhos se adaptando a um novo tipo de relacionamento, fora do lar. Educadores se adaptando com a presença daquele indivídio em sala. Com isso se estabelecem relações de respeito, confiança e todos amadurecem. O desequilíbrio é ruim. Uma educação autoritária como muitas que vemos por aí é tão ruim como relações onde a criança impera como soberana.
Bjs!
Tais Vinha disse…
Priscila, parece mesmo óbvio. Mas se fosse não teríamos tantos pais procurando escolas que reformatem o HD seus filhos. Bjs e obrigada por comentar.
Tais Vinha disse…
Patrícia, às vezes penso que os pais acham que para se crescer e amadurecer é preciso um certo sofrimento. Daí optarem por escolas mais torturantes. Temos esse vício de achar que alegria e prazer demais prejudicam o caráter. De onde veio essa convicção? Bjs!
Tais Vinha disse…
Pimenta, valeu garota! Como estão as coisas do outro lado do planeta? Bjs!
Tais Vinha disse…
Ingrid, maravilhoso o texto que vc publicou no seu blog. Sincero e mostra bem o dilema que hoje vivem os pais de crianças cheias de energia. Por um lado ninguém quer ser omisso, por outro, quem dá com tranquilidade um remédio faixa preta a um filho? Leitura recomendada!

Bjs!
Tais Vinha disse…
Carolina, muitas vezes, vejo tb excesso de limites aos bebês como forma de proteção. Não pode ir ao chão, não pode cair, não pode segurar a própria colher para não se machucar ou se sujar, não pode andar descalça para não resfriar. É tanto "não" que até assusta!

Pessoal, imperdíveis as palestras da Carolina. Uma sobre orientações para pais que trabalham fora e estudam opções para cuidados com seus bebês e a outra, interessantíssima, sobre cidadania e as novas gerações.

Vale a pena visitar o linque que ela colocou no comentário dela.

Bjs!
Tais Vinha disse…
Oi Ivana, bem vinda! Concentrar nos defeitos é um mal nacional. Mas a gente um dia muda. Bjs!
Caliê disse…
Oi Tais

Excelente o texto, como todos, parabéns. Os pais têm que diferenciar o educar do adestrar como sabiamente colocou a Ingrid. Quantos males evitariam os pais se vissem o lado bom dos filhos, aceitassem os “defeitos” e principalmente sem comparações com os filhos dos outros. Como disse Sartre - o inferno são os outros.

Bj
Paula disse…
Bom dia!

Seu texto traz um reflexão admirável, em um momento onde muitos pais terceirizam a responsabilidade sobre a educação dos filhos para as "melhores escolas". Acredito que a melhor educação começa e se desenvolve em casa, onde os valores primários são adquiridos e o posicionamento em relação às experiências externas é construído. Pais comprometidos buscam o autoconhecimento e o conhecimento das especificidades dos filhos, para assim serem capazes de promover o desenvolvimento considerando as possibilidades de ambos (pais-financeiras, de tempo; filhos-cognitivas, físicas, emocionais).
Nine disse…
Oi Tais! Sempre enriquecedores os seus textos. Lendo os comentários, vejo que esse é um tema que preocupa muitos pais e educadores. Também tenho surtado com esse diagnóstico de hiperatividade, déficit de atenção, etc...

Meu marido, quando criança, era espoleta mesmo, não parava quieto e minha sogra ganhou vários cabelos brancos com ele. Para mim ele era curioso e não gostava de ficar parado, normal, eu acho. Hj adulto ele é super paciente, calmo, mas sua personalidade curiosa continuou.

Já eu poderia ter sido qualificada como pessoa com déficit de atenção. Nas reuniões da escola sempre fui tida como boa aluna, porém muito distraída. E era verdade, eu me distraía muito facilmente, e só não fui ruim na escola porque sempre tive facilidade em aprender e decorar. Hj continuo uma pessoa distraída (piorando mais a cada ano, com a idade, heheh) e fico pensando se eu tivesse sido medicada qdo criança, ou rotulada, o que isso teria provocado na minha vida e na do meu marido...

Nossa filha segue mais o temperamento do pai e fico temerosa de, ao colocá-la na escola, sofrer com esses rótulos. O seu texto veio me dar uma luz sobre que tipo de escola buscar para ela. Obrigada!
Marcelo Weiss disse…
Oi Tais, adorei o texto. Realmente a maioria dos pais escolhe a escola pelos problemas dos filhos e não pelas qualidades. Também acho que muitos pais jogam na escola a responsabilidade de resolver aquilo que eles não tem paciencia de resolver em casa. É uma pena, que em uma época com tantas opções, os pais ainda não tenham sensibilidade para ver o que vc colocou tão bem. Espero que muitos leiam e pensem a respeito. Bjs.
Marcelo Weiss disse…
Oi Tais, adorei o texto. Realmente a maioria dos pais escolhe a escola pelos problemas dos filhos e não pelas qualidades. Também acho que muitos pais jogam na escola a responsabilidade de resolver aquilo que eles não tem paciencia de resolver em casa. É uma pena, que em uma época com tantas opções, os pais ainda não tenham sensibilidade para ver o que vc colocou tão bem. Espero que muitos leiam e pensem a respeito. Bjs.
Hegli disse…
Oi Taís, saudade viu... ando com a vidinha tão atribulada e por isso nem te mandei email com notícias.

No fundo vc sabe que vibrei com esse seu texto né? É tudo que eu penso e acredito, amei a frase:
"Crianças precisam de limites. Mas limites que sirvam para conduzir e não para limitar. E isso, bons educadores sabem fazer porque estudam para ser educadores e não militares." É ISSO!!!!

Este ano foi muito produtivo e promissor para o Lucas, a professora conseguiu extrair dele todo o seu "melhor", era enérgica, exigente, porém sempre incentivou a criatividade e a independência dos alunos, em nenhum momento houve sobrecarga de tarefas para casa ou trabalhos desnecessários. Resultado: mais interesse, mais capricho, mais prazer em aprender e frequentar as aulas. Ufa!

Ah! E seus posts estão virando itens de utilidade publica para mães aflitas como eu, hahaha.
Quem sabe rola um livrinho heim! Auto ajuda de qualidade! rs
Bjocas
claudiareno disse…
rsrsrsrs
...éééé, é só o feitiço virando contra o feiticeiro!!
Amo estas crianças, que mesmo sem saber elaborar grandes discursos escancaram suas verdades!!!
Bom muito bom.
Cláudia
Renata Rainho disse…
eu fiz um colégio mega tradicional, santa marcelina. e era daqueles que o uniforme tinha que estar impecável, sapato de couro, sainha e tal.

uma das meninas da sala tinha um irmão mais novo. numa reunião com os pais as freiras recomendaram trocar o menino de colégio, era agosto e daria tempo para os pais procurarem novo colégio e tal explicaram que o menino não se sentia bem ali com aquele uniforme, com aquele recreio e tal.

a familia do garoto quase enlouqueceu, disse que entraria na justiça se o colégio expulsasse o garoto. e naquele dia , aos 15 anos, eu descobri que alguns pais deveriam ser obrigados a lererm textos como o seu. o garoto não era um problema mas poderia vir a ser. ele estava no lugar errado pro jeito dele, eu odiei o estilo Objetivo sem lições de casa, sem uniforme, ele teria adorado...
F. disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
F. disse…
Me lembrei na hora de uma citação de Bertold Brecht, um dramaturgo alemão: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."
Parabéns pelo texto e pelo blog fantástico!
Grande beijo,
Jéssica Faust