Escolas se omitem sobre o bullying.
Escolas se omitem sobre o bullying.
Um dos principais agentes do combate ao bullying é a escola. Contudo, ainda são poucas as escolas que sabem como lidar com o problema.
Uma das grandes dificuldades está em identificar o problema. Diante de um caso de agressão, muitos professores acham que "é coisa da idade", "no meu tempo a gente também fazia isso" e relevam.
Outro problema comum é culpar a vítima. É comum dizer que a vítima do bullying "provoca" a agressão com seu comportamento "estranho" e "arredio". E responsabilizam-na por não se integrar ao grupo.
Omissão também é um grande fator. Muitos professores sabem do problema e deixam pra lá. Botam a culpa da agressividade dos alunos na gordura trans, no Silvester Stalone, no pai traficante e, candidamente, lavam as mãos.
Falta de confiança é outro problema que impede que a vítima conte a um professor o que está acontecendo. Estudos com vítimas de bullying apontam um receio muito grande da vítima em contar, tanto por medo das agressões piorarem, como por achar que nada será feito.
Muitas vezes a escola se omite diante do ciberbullying. Por não ser praticado dentro dos muros da escola, os educadores ignoram as agressões feitas por celular, internet, comunidades tipo orkut etc. É o bom e velho "te pego lá fora", só que o lá fora agora é a web.
Publico aqui um vídeo que retrata bem a gravidade do problema. É em inglês, mas supercompreensível até por quem não fala nientes da língua.
Depois de identificado o bullying, outros problemas surgem.
É comum tentarem resolver o problema com bronca, sanções e suspensões. Nada disso funciona e, muitas vezes, a situação piora. Obviamente que os autores devem ser responsabilizados pelos seus atos, mas junto a isso, é preciso haver um trabalho sistemático na escola sobre resolução de conflitos, respeito às diferenças, conscientização sobre o bullying e suas consequências. E isso não deve ser feito em forma de sermão. Filmes, peças de teatro, jornais, assembléias e relatos verdadeiros ajudam a trabalhar o tema de uma forma não autoritária e muito mais eficiente.
Falta espaço aos indignados. Muitos alunos sabem das agressões a um colega, discordam dela, mas se calam. É preciso que a escola encontre mecanismos de fortalecer e valorizar os indignados, estimulando-os a agir em defesa da vítima e criando canais para que eles se manifestem (um mural, blog, assembléias, teatro, relações de confiança etc).
Sempre lembrando que os primeiros a saberem das agressões são os colegas. Principalmente, as agressões em comunidades da web. Conscientizá-los, criar espaços para denúncias, ouvi-los e respeitá-los é uma forma eficiente de tomar conhecimento rápido das agressões e agir prontamente, antes que causem maiores danos às vítimas e ao ambiente escolar.
Este comercial sueco é muito bom e mostra como os colegas podem se manifestar para combater o bullying.
E vamos ficando por aqui. Bjs!
Comentários
Indiquei seu blog numa gincana que estou participando, ok? Este é o link: http://enquanto-esperamos.blogspot.com/2009/12/blog-gincana.html
Beijos!
Muito interessante os textos e suas colocações sobre "bullying"; minha irmã passou por este problema com seu filho mais velho há 2 anos, hoje ele tem 10 anos e ainda é uma sobra que eles carregam, apesar de todo as medidas terem sido tomadas pelo lado dela... da escola, omissão total e a saída, mudança de escola e acompanhamento psicológico...
O filme inglês é de arrepiar... parabéns mais uma vez pelo texto! Abraços!
Fiquei pensando que tudo isso está ligado a necessidade de aceitação, ao efeito manada que isso traz... Pois muita gente segue, só para se sentir parte de um grupo tb...
No caso desse video, minhas questões ficaram mais presentes... Pq era um caso de um menino inteligente, que fazia sucesso com a professora... Se ela intervisse, será que não pioraria? Iam chamá-lo mais de puxa saco ainda?
Enfim, muitas dúvidas...
O comercial sueco é de arrebentar, ótimo, muito bem bolado...
Estou a ler um livro "O Homem que Queria Salvar o Mundo" sobre o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello e algumas passagens me vieram a mente enquanto assistia ao menino... Ele fala que as relações diplomáticas são, nada mais, nada menos, que relações sociais aumentadas, e que a auto-estima é a base de tudo...
Outra coisa que fiquei pensando... O que posso fazer? Será que virar voluntária numa escola, passar filmes, abrir espaço para a discussào?
TaVi, muito obrigada por ajudar a minha mente e meu desenvolvimento sempre... Mesmo que às vezes seja dolorido olhar tudo isso.
Bjoks
Paula
Taís querida, passa lá no meu cantinho, tem presente pra você!
Beijo grande!
Muito bons comentários!
Acho que todos nós já vivenciamos episódios de bullying. Ou como agressores ou como vítimas. Mas hoje se sabe que fazer uma pessoa se sentir cronicamente inadequada é cruel. O pior são alguns "especialistas" que defendem que este tipo de experiência apenas nos fortalece. Ouvi isso de um psico qualquer num programa de tv. Sim, algumas personalidades saem fortalecidas depois de anos de sofrimento. Mas a imensa maioria sucumbe e cresce com problemas sérios e muitas vezes irreversíveis de auto-estima.
As escolas estão muito relutantes em aceitar que a velha postura educacional não funciona mais. Ou buscam novos caminhos, ou não se consegue mais ensinar. Há diversos relatos de professores dizendo que gastam 20, 30 minutos da aula tentando disciplinar a sala. Se imaginarmos uma aula de 50 minutos, sobra pouquíssimo tempo de conteúdo. E ainda assim, muitos educadores resistem em mudar suas posturas. Tempos de crise. Tempos de transformação.
Bjs!
Daí a necessidade de se agir sistematizadamente contra o bullying na escola. Ao colocar o assunto na pauta das discussões e assembléias, ao debatê-los em peças, jornais e murais, ao fortalecer os indignados e inibir a platéia, a vítima passa a encontrar apoio e proteção de colegas, professores e funcionários. E os agressores se conscientizam do mal que causam ao outro (numa perspectiva mais otimista). Ou se inibem e passam a ter receio de maltratar o outro (numa perspectiva menos otimista).
O importante é que fique claro a todos os agentes da educação - pais, alunos, professores, direção e funcionários: AQUI NÃO ACEITAMOS ESTE TIPO DE COMPORTAMENTO.
Humilhar, agredir, diminuir o próximo não é brincadeira, não é normal e não é aceitável.
E quanto à sua outra pergunta, "o que fazer" eu também fico me fazendo a mesma pergunta. Difícil, não? São tantas as possibilidades que a gente acaba se perdendo. Tente olhar para bem próximo de você e veja se não surge uma oportunidade de troca. Sabe aquela frase: pense globalmente e aja localmente, pois é, tô começando a me entender com ela. Vamos continuar trocando figurinhas.
Cynthia, muito obrigada pelo agradinho. Sabe que eu tb sempre tive um nariz "proeminente". Já pensei até em cirurgia e hoje vivo muitíssimo bem com ele. Mas quando somos mais novos, qualquer pinta é um vitiligo, não?
Bjs!
Meu filho é muito falante e brincalhão e eu expliquei a diferença entre a brincadeira e a crueldade: uma aproxima e a outra fere. Espero que ele tenha entendido para não se tornar nem vítima, nem agressor, nem expectador dessa sujeira toda.
Tenho pensado em modos e maneiras de levar isso a escola publica em que leciono, lá isso é constante nas aulas em graus diferentes.
Eu contei um epsódio grave no outro post, mas "coisinhas" deste tipo acontece todo dia. Por exemplo, rotular os colegas com apelidos pejorativos para mim é bullying, não aceito na minha aula.
Pegar material "emprestado" sem pedir dos mais "fracos" tb não aceito, faço devolver na hora e pedir por favor, ou devolver material jogando, eu faço pegar do chão e devolver na mão (tudo com jeito, para não constranger, nem chamar a atenção da sala toda).
Nos dias em que tenho todas as aulas do periodo vou embora literalmente esgotada.
Fico uns 40 minutos sem falar absolutamente nada, me recuperando para chegar em casa bem.
Por isso concordo que deve agir sistematizadamente contra o bullying na escola. Só não consegui pensar como,rs... mas dá tempo, as férias estão aí!
Bjus
Parabéns pelo TÍTULO do blog!
Vim por conta da BlogGincana e gostei muito do que vi e li!
Parabéns!
Indico dois artigos do blog da Rosely, que não é parte do tema, mas ajudará muitos pais desavisados nessa epoca do ano: Início precoce não garante vida escolar exitosa e Dificuldades para aprender - http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2009-11-16_2009-11-30.html. O desta semana fala do assunto que estamos tratando, mas sob uma outra otica, chama-se: Intolerância e exclusão - http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2009-12-01_2009-12-15.html
Boa leitura e bom debate, eu já deixei meus relatos por lá.
Hegli
Obrigada pelo incentivo.
Bjs!
bjs
Achei vc muito corajosa. Deve ter duro ver sua filha sofrer e comprar a briga. Geralmente a gente tenta até um certo ponto e acaba por mudar de escola. Você está certíssima. Fez a escola se mexer. Ir atrás de gente especializada, rever conceitos. Esta união que vc está conseguindo entre os pais é tão importante! É o que escrevi no texto sobre dar voz aos indignados. Quando eles se manifestam, os errados ficam acuados. Perdem força.
Sabe, imagino que ter um filho agressor deva ser tão duro quanto ter um filho vítima. E isso pode acontecer com qualquer um de nós. É a tal pressão do grupo e, quando vemos, acabamos fazendo algo que não queríamos. Se isso ocorre com a gente, por que não com nossos filhos? Isso não justifica os pais dos agressores serem omissos. Por mais duro que seja assumir, aos pais cabe a tarefa de educar e não de compactuar via omissão.
Mas, mesmo quando os pais são omissos, a escola pode atuar coibindo a prática entre os alunos e não aceitando de forma nenhuma este tipo de agressão, mesmo sob pena de desagradar a alguns pais e perder matrículas.
Só para concluir, soube de um caso de um garoto que foi pego indo para a escola com uma faca. O motivo: era há anos vítima de bullying e ia dar um jeito na situação. No dia seguinte ele chega todo roxo na escola, pois o próprio pai o espancou por levar a faca. Rebordosa na escola, chamam todos os pais dos envolvidos e o foco da conversa foi culpar o menino da faca por tentar matar os outros. Ponto. Nenhum pai disse: "Cruzes, mas como a situação chegou a tal ponto?" Ou "imagine o desespero desse menino pra lançar mão de uma solução dessas." O discurso foi apenas: "Mas pera aí, ele queria matar meu filho?!"
É uma cegueira coletiva. E se a escola não educar pra que as crianças enxerguem o outro, quem vai fazer?
Bjs e obrigada por dividir conosco seu relato.
Cheguei aqui atráves do Blog Viciado do Eduardo que fez uma merecida homenagem ao teu blog esta semana. Parabéns a você, ele tem razão!
Teu espaço é muito bonito e, particularmente, este tema é extremamente sério e deve ser tratado com toda seriedade e responsabilidade que ele exige. Os vídeos são tocantes!
Obrigada pela partilha...
Voltarei mais vezes aqui,
Bjão
Afirmo sem medo de errar, que os grandes omissos na questão do
bullyng são os pais dos agressores. Não ensinaram limites, nem valores éticos aos filhos, quando estes ainda eram criancinhas. Consequentemente, tais jovens tornam-se rebeldes e, normalmente não respeitam nem a própria mãe, o que se dirá então, dos professores e colegas de classe...
A proposta de dramatizações para a conscientização do problema do Bullyng é muito interessante, mas só será eficaz entre as crianças pequenas. Seria uma medida preventiva, não é? Não afetaria em nada os insensíveis agressores. Infelizmente.
Como você disse, naquele outro post, ética vem de berço. Se aprende com e na família.
Seja como for, a questão urgente que se impõe é como conter os agressores.
Se suspensão e advertência não resolvem, se psicólogo e pais não resolvem, a escola tem de expulsar os delinquentes. E ponto!
Nenhuma empresa toleraria um funcionário que ficasse agredindo os colegas pelos corredores. Ele seria demitido, claro! E por justa causa, por colocar em risco a segurança dos seus pares.
Então, eu me pergunto, porque a escola põe em risco as vítimas do bullyng, que são crianças indefesas?
Se as escolas fossem empresas, certamente já teriam falido.
Abraços
De uma professora que cansou de ser professora, e foi fazer outra coisa da vida.
Sabe não queria parecer radical, por ser a favor da expulsão. Na verdade queria me referir a um afastamento do agressor, pois se todos os recursos para conscientizá-lo já foram tentados, mas em vão, ele terá de ser encaminhado a um tratamento. Se não consegue parar de machucar os outros, obviamente, não está em condições de frequentar a escola. Tem de ser afastado, sim, e retornar somente quando conseguir refrear seus impulsos sádicos.