Eu me rendo - Danuza Leão




Este texto da Danuza Leão eu li na Folha há alguns anos. Achei bárbaro. A Sílvia do Silkelita o encaminhou pra mim outro dia. Foi uma delícia relê-lo. Quis compartilhar com vocês.

Eu me rendo, por Danuza Leão.

Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.

Uma das mentiras:
É a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.

É muito simples: não podemos.

Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.

Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?

Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque
de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.

Ah, quanta mentira!

Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não a que faz de conta que trabalha, mas a que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas,
com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.

Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.

Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.

Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.

É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.

Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.

Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.

E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver . Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.

Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.

Parabéns para quem consegue fingir tudo isso...

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Comentários

Anônimo disse…
Ah! É sempre bom reler este texto...
Eu A D O R O as imagens que vc usa pra sintetizar o texto!!!!! Show.
bj
Vovó Madô
Anônimo disse…
Não me lembro de nenhum homem sair na rua pedindo direitos iguais pra as mulheres. Vcs é que queriam trabalhar, sair de casa e agora vem com esse papo de tempo para arrumar o cabelo, massagista, hidroginástica...

O que nós só queremos é que vcs se aprontem em 10 minutos e que não queiram ficar competindo com o futebol.

beijos
Tais Vinha disse…
Oi César, adorei os comentários. Sentia falta de um homem no Ombudsmãe. Mas pegunto como vc me achou? Se tudo que vc espera de uma mulher é isso, me ofereço pra esposa sua! Tem vaga aí na sua casa? Bjs e valeu a visita!
Carla Beatriz disse…
Oi Taís,

Delicioso e verdadeiro esse texto da Danusa Leão. Adorei.

Beijos

P.S. Adorei também a resposta que vc deu ao cidadão de cima. ;-)
Anônimo disse…
Também adorei!
Mas tenho que concordar com o César quanto aos direitos das mulheres... acho que foi uma grande burrada!!!
A mulherada de antes só precisava cuidar da casa e dos filhos... eram felizes e não sabiam!!!
Beijos!
Os Compradores disse…
Td o que rapaz espera é pontualidade e futebol? Ok. Vc é tão real qto as "mulheres de verdade"...

M.
Nayara Amora disse…
ameei
danuza leão pé o maxiimoo. to te seguindoo bjo
Anônimo disse…
A Danuza sabe traduzir a mulher...e eu, o máximo que posso chegar perto deste ser especial é dizendo...A mulher deve ser abraçada, aconchegada pelo lado esquerdo do peito com toda ternura.Mulher,ainda bem que você existe!!Bjs a todas
Navegador BH
Rhegysmere Alves disse…
Olá.... adorei a descrição da Sra. Danuza Leão. Realmente é interessante falar sobre os vários papéis da mulher na sociedade atual, em pleno ano de 2011. Mãe, dona de casa, esposa, amante, profissional. O sentido da vida, a cultura, a educação, a moralidade, a sociedade em geral e sua forma de pensar estão intimamente ligados ao ser homem e ao ser mulher nas várias facetas que estes dois gêneros (aqui não falamos de escolha sexual, mas simplesmente gêneros) assumem para dar conta da realidade.
Rosi disse…
Pontualidade e futebol? Os homens são tão simples!
Cello disse…
Eu quero beeeem mais de uma mulher! E não tem nada a ver com pontualidade, nem futebol. Rs

Parabéns pelo blog!