Existe alimento infantil?





Existe alimento infantil?


O único alimento infantil produzido pela natureza se chama leite materno. Depois do desmame, os pequenos passam a se alimentar com comida comum a todos os humanos. O que muda é o preparo. Legumes amassadinhos, papinhas de fruta, carne desfiada, mingau de cereal.

Em todos os tempos, em todas as culturas, sempre foi assim. Isto é, até chegar na nossa vez.

Os pais e mães de hoje convivem com uma realidade inédita na história humana. A “comida infantil” inventada pelo marketing da indústria alimentícia. Entra em cena um extenso cardápio de “alimentos” anunciados como práticos para a mamãe e mais aceitos pelos pequenos: sopa pronta, nuggets, bisnaguinhas, bolinhos, biscoitos, petit suisse, macarrão instantâneo, leite fermentado, lanches de microondas, sucos e néctares (em pó, concentrado e de caixinha), refrigerantes, preparados à base de leite, cereais matinais, achocolatados, salgadinhos, combos de fast food, embutidos etc. Isso sem falar nas balas, pirulitos e outras guloseimas.

Observe que nenhum desses produtos é invenção da natureza. Todos são criação da indústria alimentícia que calculou, sabidamente, que uma família consumiria mais se tivesse que comprar alimentos diferentes para os adultos e para as crianças. Isso se chama criar nichos de venda, segmentar o mercado consumidor.

A criatividade da publicidade torna tudo ainda mais confuso. Começamos a realmente acreditar que criança tem mesmo que comer comidas mais fofinhas, doces, coloridas, acompanhadas de brinquedos e personagens. E confiamos que essas comidas são seguras para darmos aos nosso filhos.

O problema é que esses alimentos costumam ser pobres nutricionalmente. Enchem barriga, mas não nutrem como deveriam um corpo em desenvolvimento. Pior ainda, atrapalham por serem ricos em aditivos, conservantes, sódio, açúcar, gordura e farinha refinada.

Resumindo, os alimentos que o marketing transformou em comida para criança podem fazer mal aos pequenos. Além de criarem péssimos hábitos alimentares que dificilmente serão abandonados na vida adulta. E hábitos ruins fazem um bem danado para o mercado de comida pronta.

Estudos hoje apontam que esse problema se torna ainda maior nas classes mais pobres. Com o aumento da renda, os pais estão sendo seduzidos pelo doce canto da indústria. E festejam poder colocar na mesa produtos que antes eram exclusividade das classes média e alta. O problema aqui é que não sobra dinheiro para os alimentos que complementam essa dieta pobre. Frutas, legumes, peixes, raízes, grãos e cereais integrais não entram no cardápio. Pesquisadores alertam para uma geração de brasileirinhos obesos e mal nutridos.

Não podemos condená-los. Neste nosso Brasil das diferenças, a publicidade conseguiu transformar comida industrializada em símbolo de status. Comprá-los é poder dar aos filhos tudo “de bom e do melhor”. É não deixar a garotada “passar vontade”. É realizar o sonho de uma vida “prática” e “moderna”.

Comida pronta faz de mim e dos meus filhos alguém de valor. Com diabetes, pressão alta, colesterol, intestino preso e acima do peso. Mas, enquanto estiver dando para comprar o biscoito recheado deles, está tudo bem.



Esse texto foi publicado originalmente no blog do Movimento Infância Livre de Consumismo

Comentários

Oi Tais,

Um comentário nada ortodoxo: sempre achei que existe um complô da ind alimentícia e farmacêutica... pode ser loucura, mas acho que faz o maior sentido, de um lado uma causa o problema, de outro vem a solução em forma de remédio. Coincidência? Tenho lá minhas dúvidas...
Tais Vinha disse…
Adriana, eu não chegaria nesse nível de teoria, mas faz todo o sentido. Um ajuda o outro...

Agora, eu acho que há uma ação calculada em adaptação do paladar, desde a mais tenra idade, para alimentos doces, condimentados, salgados etc.

Tipo, cultivar no berço o consumidor do amanhã.

Bjs
Oi Tais, e eu adicionaria um dose de "tirar o peso da consciência" das mães, vc já reparou nessa onda de propaganda, onde a santa mãe rainha do lar, apanha "sucos" do pé de alguma árvore, ou que dando isso ou aquilo vc está dando AMOR???
Luma Rosa disse…
É perceptível que com a melhora da renda familiar, o consumo de alimentos industrializados vem crescendo. Essa semana, li na caixinha de leite integral a quantidade de sódio presente em 1 copo de 200 ml do produto: 90mg. Muita coisa!!
Todas as doenças que no passado eram restritas aos adultos agora aparecem também nas crianças. A coisa anda tão preta, que conheci uma nutricionista que administra cursos de terapia familiar em sua área "Nutrição familiar".
Muito oportuna a sua postagem!
Feliz ano novo!!
Unknown disse…
Passei aqui para saber de você :-) Acho que tá curtindo as férias né? Bom 2013! :-) Bjoks
Anônimo disse…
E voce? A sua comida é toda feita em casa, sem embutidos, sem sodios, sem essa porcaria toda ou voce tambem come chocolate escondido? Será que primeiro nao precisamos mudar os nossos habitos, para poder mudar os dos outros?
Unknown disse…
Falsa bravata teu nome é anonimato... +1 Pessoa que veste as carapuças imaginárias... Com net e redes sociais, parece que isso tem acontecido muito (confesso que eu mesma já vesti minha cota). Não sei se vc (Anonimo acima) acompanha o blog (duvido, mas nunca se sabe), mas recomendo ler com atenção, pois TaVi + dialoga e troca ideias que dá regras (eu ia usar outro termo, mas é chulo, resolvi deixar para lá) ou juizos... Mas tb entra a questão de quem está lendo, como anda a própria cobrança... Boa semana e Bjoks
Marião disse…
Gostaria de aproveitar o espaço para divulgar um abaixo-assinado sobre a regulamentação da licença paternidade. https://secure.avaaz.org/po/petition/Votacao_e_Aprovacao_do_Projeto_de_Lei_87911_Licenca_Paternidade_de_30_dias/

Se concordar, por favor, compartilhe em seu site.

Obrigado.

Mario
Bruna Stuppiello disse…
Olá, Tais, tudo bem? Sou repórter do site Bebê (http://www.bebe.com.br/) , da Editora Abril. Me indicaram seu blog Ombudmãe e achei uma graça! Tenho uma proposta: No Bebê, lançamos um blog chamado Confessionário (http://bebe.abril.com.br/blogs/confessionario/ ), que tem como objetivo reunir confissões de mãe – e fazer um contraponto a essa idealização que se faz da maternidade. A ideia é incentivar a mulherada a se abrir, trocar experiências, falar de dificuldades…Gostaria de saber se você topa escrever suas confissões para o Confessionário. O blog é um sucesso e tenho certeza que as leitoras do Bebê vão adorar ler um depoimento seu. E vou divulgar seu blog no post, com hiperlink. O que acha?
Muito obrigada pela atenção e se aceite participar por favor me contato no e-mail bruna.stuppiello_clb@abril.com.br .
Att.
Bruna Stuppiello.

Bruna Stuppiello disse…
Olá, Tais, tudo bem? Sou repórter do site Bebê (http://www.bebe.com.br/) , da Editora Abril. Me indicaram seu blog Ombudsmãe e achei uma graça! Tenho uma proposta: No Bebê, lançamos um blog chamado Confessionário (http://bebe.abril.com.br/blogs/confessionario/ ), que tem como objetivo reunir confissões de mãe – e fazer um contraponto a essa idealização que se faz da maternidade. A ideia é incentivar a mulherada a se abrir, trocar experiências, falar de dificuldades…Gostaria de saber se você topa escrever suas confissões para o Confessionário. O blog é um sucesso e tenho certeza que as leitoras do Bebê vão adorar ler um depoimento seu. E vou divulgar seu blog no post, com hiperlink. O que acha? Caso aceite participar, por favor, me contate no e-mail bruna.stuppiello_clb@abril.com.br
Muito obrigada pela atenção.
Att.
Bruna Stuppiello.
Anônimo disse…
Tais, saudades dos seus posts... Cadê vc?
Vanessa disse…
Oi, Tais. Tudo bem?

Adoro seu blog. Inspirada em mães como você, criei o meu próprio. Trocar ideias sobre a maternidade e escrever sobre o assunto ajuda a controlar a ansiedade pela chegada da Marina, que deve acontecer em julho. Se puder dar uma passada lá para conhecer e deixar sua opinião, agradeço muito.

http://casacozinhaefraldatrocada.wordpress.com

Obrigada.

Beijos e parabéns pelo blog.