Sua vida está todinha no Feicebus.
Sua vida está todinha no Feicebus.
Se você optou por morar num condomínio, converse com sua empregada sobre o busão que a traz para o serviço.
O ônibus é o centro de troca de informação sobre a vida dos patrões. A sua, a minha, a nossa vida tá todinha aberta e escancarada no Feicebus
O sistema de informação é bem organizado e simples. Elas abrem a boca e começam a contar, pra todos ouvirem, inclusive motorista e cobrador, tudo o que acontece dentro das casas que trabalham. Que patrão não paga direito, a filha de quem que tá transando com quem, as neuras das patroas, o ridículo da vida privada, os pequenos delitos, as cenas que observam enquanto varrem e tiram pó.
Como nas redes sociais da internet, babado que vira buzz é o sórdido. Portanto, não espere ser poupada. Tem empregada que conta até que “aquela vaca transa menstruada...e eu que tenho que lavar os lençóis”.
Tem o lado bom. Elas aprendem muito sobre direitos trabalhistas, discutem salários, trocam receitas, se informam sobre novas oportunidades de emprego e se tornam excelentes fontes de informação sobre algum acontecimento no seu bairro. Ouviu falar de um assalto? Pergunte para sua empregada. Dizem que a vizinha separou? De novo, consulte a sua assessora para assuntos da vida alheia. Já usei, recomendo e descobri um serviço adicional: quando nem ela sabe de algo, solicite que pergunte no busão. No dia seguinte, minha amiga, senta que lá vem história.
A rede das domésticas também se apresenta em outras versões, como o Parkut, a rede que se forma nos parquinhos e praças onde as babás levam as crianças. Tem também a tuitagem rápida dos encontros nos mercados, feiras livres, bufês e casas de festa.
O Feicebus e o Parkut me fizeram lembrar de uma notinha que li certa vez sobre os “tigres”. Escravos que faziam o pior de todos os serviços: na ausência de esgoto, eram eles que recolhiam os dejetos humanos nas residências. Atravessavam a cidade levando enormes jarros de merda, na cabeça. O texto explicava que eles eram considerados “traiçoeiros”. Bobeou, deixavam cair um pouco da sujeira num transeunte almofadinha desavisado.
Hoje, a caca se esparrama entre um e outro solavanco do busão. E quem não quiser dar munição, que lave os próprios lençóis.
Comentários
A privacidade é uma luta diária na nossa vida real e na imaginária (virtual). Os pequenos fragmentos que escorrem para fora alimentam a rotina de gente de todos os tipos: os doidos, os curiosos, os invejosos e os desocupados. E os normais também. Apesar de que de perto, ninguém é normal.
É preciso estar atenta. Eu sempre preferi lavar meus próprios lençóis.
Beijo
Priscilla
Detalhe que sou testemunha dele, como vou na mesma hora das babas elas me integraram na roda e falam a vontade, viu, oh como falam kkk.
Amei o trocadilho!
Feicebus e Parkut!
Vai ser criativa lá longe einh!
Beijos e bom domingo!
Abraços
Já passei muitas horas em parquinhos quando as crianças eram pequenas e constatei que realmente existem muitas empregadas que fazem da vida dos patrões uma comédia da vida privada, mas também há aquelas que nutrem uma relação profissional, uma relação de confiança ou até mesmo de gratidão.
Cabe a cada uma de nós verificarmos quem está na nossa casa e que exemplo damos.
Gostei do seu texto.
Mas sabe, acho que essa questão de privado e público já está tão junta e misturada que pouco importa se a vida tá no bus ou no book! rs!
Beijo!
porém achei o post desnecessariamente preconceituoso, pra darmos o exemplo de um futuro melhor para nossos filhos, devemos deixar filhos melhores e mais conscientes e humanos com todos os outros humanos.
compramos orgânicos e produtos que não usem mão de obra infantil, porém o preconceito mora na cozinha.
desculpe, mas esse post pisou na bola.
Se topas dividir a intimidade da tua casa com alguém, deve rolar um mínimo de confiança. Empregada não é escrava, não é visita indesejada, ela ta na tua casa porque você mesmo colocou.
Quem convive tanto com tua família, deveria ser visto (e protegido) como alguém da tua própria família.
Taís, seu texto é excelente! É sagaz, capiscioso, perspicaz e fere o orgulho de muita dondoca. Além de tudo, me fez dar boas risadas!!!
Beijos
Abraço!
Elas, muitas vezes, não tem acesso as redes virtuais por falta de oportunidade ou mera falta de tempo, mas mantém suas redes sociais com assuntos que lhe são cotidianos. Simples assim, falam do que vivenciam, do que tem para falar e trocar, estes são seus assuntos.
Entre patroas, receitas e direitos trabalhistas fazem o que fazemos diariamente no facebook e Orkut e Twitter com outros assuntos e não vejo nenhum preconceito nisso, porque então o preconceito se estenderia a todos nós!
Adorei o post, viva a democracia!
beijos Adriana
Claro que não são todas, mas muitas que conhecemos é assim mesmo!
Analogias ÓTIMAS as do feicebus e do parkut, porque, levante a mão quem não teve pelo menos uma empregada ou babá que não se enquadre nesse texto (seja trabalhando pra gente, ou pros nossos pais quando éramos crianças)
Beijo! =D
Li e reli o texto tentando achar o que levou algumas pessoas a identificarem preconceito. Não fui feliz na busca.
Agradeço a todos que comentaram. Em especial ao apoio daqueles que conseguiram ler na sutileza do texto uma crítica ácida a uma sociedade que ainda entrega sua caca para um outro ser humano limpar. E entendeu que a maior vingança deste ser humano é, de vez em quando, despejá-la pelo caminho.
Para mim, identificar nas empregadas domésticas uma atitude de rebeldia para com a dura realidade de muitas nessa profissão, ao contrário de preconceito, é valorização. É aceitá-las como um ser humano igual a qualquer outro. Nem melhor, nem pior. Com direito a botar pra fora seus demônios, da mesma forma que o restante da população incluída faz, diariamente, nas redes sociais.
Continuo e continuarei fã, incondicional do Feicebus. Muito mais do que do buqui. O primeiro é bem mais sincero. E bem humorado.
E acho engraçado que as pessoas que criticam o texto (exceto por uma) não terem "peito" para comentar identificando-se. Mostra que não têm tanta certeza assim do que estão dizendo, caso contrário não teriam problemas em se identificar. :-)
Pode me chamar de ignorante mas, fiquei mais "tranquila" depois do "esclarecimento", pois adoro todos os seus textos sobre educação e não queria me desapontar.
Percebi sim um pouco de preconceito nos comentários de quem apoiou mas parece que interpretou o texto da mesma maneira de quem o condenou.
E vc o que acha?
Na natureza essa relação é chamada de Cooperação. Entre os humanos, transformamos essa relação natural em algo prá lá de artificial e anormal.
Resultado: feicebus, parkut, ações trabalhistas, etc...
Quem sai ganhando? Quem sai perdendo? Não sei, mas na natureza TODOS saem ganhando.
BEIJOS
É por isso que evito ao máximo dar conversa pra minha faxineira...já basta ela trabalhar na minha casa e na da minha mãe...imaginou? Pois é.
Beijo grande!
Agora esse negócio de não dar conversa é complicado. Eu já pensei assim, sabia? Não queria saber de intimidades. Hoje, com os anos e a maturidade, temos uma relação completamente diferente e vejo que só ganhamos com isso. Desenvolvemos uma relação de respeito e carinho. Tenho um amigo gay que brinca: "prefiro as tagarelas folgadas que as mudas submissas. Já que estão dentro de casa, melhor virar amiga."
Bjs!
Vc falou tudo. A gente REALMENTE complica!
Bjs
Acho ótimo pensar nessa relação. Sempre procurei tratar meus empregados de forma justa e respeitosa, mas conheço quem não o faz. Conheço quem revista a empregada na saída, e quem não a deixa comer carne.
Essas devem estar com a vida todinha no feicebus!!!!
Afe!
Bjo Taís!
Emprego bom, ninguém larga. Bjs
Como solteira recebo muito aquela frase de marido, mas é como empregada, quem nõ gosta de chegar em casa e a empregada ter deixado tudo arrumado e pronto?
Ontem vi na banca a Vejinha (veja SP) com a seguinte capa:Domésticas passam a apitar as regras do jogo.
Fui procurar a reportagem na internet: http://vejasp.abril.com.br/especiais/domesticas.
Acabei de descobrir que vc está desatualizada,kkkkkk, além do Feicibus e Parkut tem tembém o Feiclube, onde as empregadas são assediadas por outras patroas para trocar de emprego... rs.
Como diria um amigo meu: ou sejE, trocando em miudos, seu texto está bem contemporâneo amiga, parabéns.
Bjus
Depois dela, nunca mais gostei de ter ninguém na minha casa, e adoro a que está aqui em casa, pq vai embora às 16hs, ou seja meu contato se resume a 1h por dia. Assim, não tem como falar muito de mim, afinal, mal me conhece...rs.
E isso que vc relata da empregada trazer o filho para o trabalho é bem comum no Brasil, não? Eu já vivi e conheço muita gente que já passou por isso. No meu caso foi muito ruim. Acabou virando uma relação confusa e paternalista demais. Aliás, aprendi com a prática que a pior coisa que podemos fazer para uma relação é sermos paternalistas. Já fui fiadora e me dei mal. Já emprestei grana e acabei piorando a situação financeira da moça, acredita? A dívida virou um monstro!
O bom foi que aprendi muito com essas experiências. Hoje procuro manter uma relação bem tranquila, saudável, com todos os direitos e deveres previstos em lei, horário de entrada e saída, folga semanal, salário em dia, valorização, reconhecimento e etc. Mas não paternalizo. Sua vida é sua e a minha é minha. Nossa relação é fraterna mas bem profissional. Com isso aprendi que ela se sente respeitada.
Aprendi também que é melhor interromper logo o que está indo mal. Seguir nossos instintos. E isso vale pra tudo, né?
Bjs!