Seu filho acha a escola chata? Ele pode ter razão.



Seu filho acha a escola chata? Ele pode ter razão.

Uma das maiores conquistas da humanidade com a internet foi sair da era da informação hierarquizada e entrar no admirável mundo da informação cooperada.

Há bem pouco tempo, você deve se lembrar, a informação vinha de fontes quase únicas: grandes conglomerados que concentravam todo o poder de transmiti-la. E nós, o restante da humanidade, eramos passivos receptores daquilo que eles queriam que soubéssemos.

Com a internet tudo mudou. "Power to the people". Qualquer pessoa com acesso a internet e um teclado, pode ouvir e se fazer ouvir. Da mamãe aqui ao William Bonner, passando pela menina na lanrause ao árabe revoltado no norte da África, todos produzem, compartilham e contribuem. E você tem diante de si um universo rico de informação e trocas, nunca antes imaginado. Que está só começando.

Este sistema está trazendo mudanças rápidas e profundas nas instituições estabelecidas. Emissoras de TV, políticos, jornais...estão todos buscando se reinventar para sobreviver.

Só tem uma instituição que se recusa solenemente a fazer qualquer mudança. Não, não são os ditadores árabes, nem a família Castro, de Cuba. É a escola dos nossos filhos.

Todos os dias, eles abrem os portões e continuam funcionando como se nada do que está acontecendo no mundo os afetasse. Recebem meninos e meninas, nascidos e criados neste novo cenário de cooperação, e os colocam sentadinhos numa carteira para uma sessão de 3, 4, 5 horas de notícia transmitida pelo "âncora" professor (aposto que nem no confortável sofá da sua sala você aguentaria essa maratona). Como se isso não fosse tortura suficiente, dão como leitura principal, um periódico "interessantíssimo" chamado livro didático ou apostila, escolhidos pelo conglomerado educacional e enfiados goela abaixo dos alunos e bolso abaixo dos pais.

Os problemas, obviamente, surgem. Crianças desatentas, desmotivadas, pouco interessadas na aula, que não param quietas e com índices baixos de aprendizagem. Crianças que precisam de inspetor pra voltar pra classe ou de pílulas para se concentrar. Alunos que não respeitam o professor (e vice versa). Professores que precisam aprimorar cada vez mais o showzinho para prender a atenção dessa galera. E dá-lhe musiquinha, sambadinha, piadinha, rap da taboada.

"A culpa é da geração X, Y, Z, E, T C", afirmam, sem jamais olhar para o próprio umbigo.

O mundo todo está mudando. É tão obvio que o sistema educacional vigente também precisa mudar. E não é colocando computador em sala que se muda. Dar computador para os alunos achando que é a solução é o mesmo que dar caderno no tempo do pergaminho achando que ia revolucionar o ensino.

Estamos falando de um novo sistema de transmissão do conhecimento, baseado na sociedade da informação cooperada. Um sistema em que não há professor âncora, nem livro didático ou apostila a serem seguidos folha por folha. Um sistema em que todos, alunos e educadores, são agentes da informação. Assim como eu e você estamos sendo neste exato momento. Se funciona para nós e para o restante da humanidade, por que não funcionaria com nossos filhos, nascidos e criados neste novo contexto?
  
Nesta nova concepção, os alunos opinam, escolhem, decidem, buscam, produzem e, importantíssimo, compartilham conteúdos e conhecimentos. Se tornam agentes do próprio aprendizado e não meros receptores. E o professor sai do papel de autoridade mór do conhecimento e passa a ser o mediador. O condutor do que está acontecendo. Aquele que acompanha, estimula, orienta e avalia as várias etapas do processo, inclusive discutindo com a turma novas rotas quando elas forem necessárias. 

Um novo mundo está nascendo, mais horizontal, de trocas, compartilhamento e respeito mútuo. Quanto tempo mais as escolas se recusarão a viver nele?

Comentários

Cristiane Aguiar disse…
Penso que vc está cheia de razão, há de se fazer alguma coisa para mudar os métodos de ensino.
Olha Tais, essa é uma questão que me tira de sério fácil, fácil.

Já fui professora e conheço bem a dita cuja por dentro e por fora.

Olha, acho que não tem jeito não sabe. Acho que a gente tem é que proporcionar à essas crianças e jovens um espaço de desintoxicação escolar.

Um lugar de aprendizado real e significativo para TOODOS OS ENVOLVIDOS: crianças, jovens, adultos.

Cheguei à conclusão de que mudar a escola é impossível e enquanto a gente fica perdido nessa névoa nossos filhos vão pagando o pato.

Como frequentar escola é obrigatório, vamos lá. Mas temos que oferecer outras fontes para essa garotada beber que não seja a da escola!

Este mês postei uns "causos" sobre a instituição. Dá uma olhada lá prá ver os absurdos!

Beijos nada escolares!
Priscila Blazko disse…
Sim, sim. Também acho muito importante essa transmissão horizontal de conhecimento. E, na medida do possível, a escola onde leciono a privilegia bastante.
Só me incomoda um pouco essa questão de que a escola tem que ser legal. Não é. E ponto. Escola é ambiente de trabalho, de aprendizado, e não de diversão. Às vezes, esse aprendizado é prazeroso. Mas, às vezes, não. E, nesse caso, ele deve sim ser enfiado goela abaixo. (Entende-se por isso, por exemplo, milhares de exercícios de aplicação de conceito, exercícios de fixação...)

Abraço!
Jeanne disse…
Olha, existem correntes pedagógicas que entendem a educação de forma horizontal, cooperativa e que valoriza a autonomia dxs estudantes desde bem antes desse boom informacional todo, essa é uma demanda antiga porque xs estudantes não se adequam ao modelo escolar desde sempre.

A gente tá num momento mais complexo, sem dúvida, porque xs estudantes já experimentam um pouco dessas possibilidades diferenciadas de compreender e ensinar. Só que é preciso ter a ressalva de que o que a internet e mídias semelhantes oferecem está quase sempre marcado pelo esforço do mercado de nos convencer a consumir. Assim sendo, esse mundo novo que está nascendo não me parece nem um pouco horizontal. Na verdade, ele é bastante hierarquizado.

De qualquer forma, acho que já que xs pequenxs estão tendo novas especiências com educação extra-escolar, vale a pena usar esse conhecimento que elas estão apreendendo e voltar os esforços para dentro da escola, para que ela seja tudo aquilo que muita gente defende a bastante tempo: horizontal, inclusiva, que respeite as diferenças, motivadora das capacidades e tantas outras maravilhas.

Beijo!
Tais vinha disse…
Oi Jeanne, não sou educadora mas conheço algumas dessas correntes. O mais incrível é que são até antigas, como vc cita, até de antes da informação cooperativa se desenvolver via internet.

Concordo que estejamos vivendo numa sociedade sob a ditadura do consumo, mas mesmo assim, hoje somos muito mais agentes do conhecimento do que há alguns anos, e isso se dá via redes sociais, tuiter, blogs, email e todas as ferramentas que surgem a cada dia.

É um formato sem retorno. Por isso, a escola tem que acompanhar. É uma pena a geração atual ser educada tão afastada do que eles já nasceram fazendo.

Bjs!
Tais Vinha disse…
Oi Priscila, que legal que sua escola consegue trabalhar horizontalmente. Mas fiquei com as seguinte dúvidas:

por que escola não pode ser legal? Por que trabalho não pode ser legal? Por que esforço e dedicação tem a ver com sofrimento e goela abaixo? Eu já trabalhei em lugares prazerosos, onde se produzia com responsabilidade e alegria. E noutros que valha-me Deus Nosso Senhor!

Eu não sou pedagoga, mas não vejo muito sentido nos exercícios repetitivos de fixação. Se eles realmente fixassem alguma coisa, nós adultos não nos esqueceríamos praticamente tudo o que passamos anos aprendendo (ou decorando).

Será que não é possível aprender com mais significado para pular essa parte de repetição?

Bjs!
Tais Vinha disse…
Adriana, seus causos são hilários e tristes ao mesmo tempo.

Meninas, vale a pena ler
http://meuipe.blogspot.com/

É mais triste ainda ouvir de uma profa. que o sistema não tem jeito, que é impossível mudar. O monolito é tão rígido que realmente é difícil enxergar mudança.

Mas alguma coisa tem que mudar. Não é possível.

Bjs
Tais Vinha disse…
Oi Cristiane, botar a boca no trombone pode ser um começo, não?!

Adorei seu blog e as fotos. Vc que tira?

Bjs!
Telma Vinha disse…
Esse post está brilhante... pq será que as escolas não veem isso... me fez lembrar o texto “A Volta de um personagem do século XVIII ao Brasil” de autor desconhecido...
Em pleno século XX, o sr. Teixeira, um grande professor brasileiro do século XVIII, voltou ao Brasil e, chegando à sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas eram altíssimas e cheias de janelas, as ruas pretas e passavam umas sobre as outras, com uma infinidade de máquinas andando em velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor Teixeira não conhecia (poluição, telefone, avião, rádio, barato, metrô, televisão, computador, internet...). As roupas deixavam o professor Teixeira ruborizado. Tudo havia mudado. Muito surpreso e preocupado, o professor visitou a cidade inteira e, cada vez mais compreendia menos o que estava acontecendo. Resolveu então visitar uma igreja, mas que susto levou. O padre rezava missa, não em latim, mas em português e de costas para o altar; o órgão estava parado e um grupo de cabeludos tocavam nas guitarras uma música estranha, ao invés do canto gregoriano. O desespero do professor aumentava. Resolveu ainda visitar algumas famílias. Mas... o que significava aquilo? Depois do jantar todos se reuniram durante muitas horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor Teixeira ficou impressionado com tanta capacidade de concentração e de adoração!!! Ninguém falava uma palavra diante do aparelho. Tudo havia mudado completamente e o professor Teixeira desanimava cada vez mais, até que resolveu visitar uma escola. Foi uma idéia sensacional porque quando lá chegou, sentiu o que procurava: tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás das outras. Professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando.
Anne disse…
puxavida!
eu tenho pensado tanto em escola esses dias, e falado sobre e lido sobre...
nossa blogsfera tem um inconsciente coletivo batuta demais!

tenho questionado muito esses padrões de transmissão de conhecimennto herdados do passado e repetidos ad infinitum, sem questionamentos, sem parar para refeltir... dia do índio? pelamordedeus!!

criamos as crianças para viver no futuro. não há nada mais furado do que educar com estratégias do passado. eles não vão viver ontem...

quero te indicar um post que li hoje, de um blog de uma escola super legal...
e me fica a frase (de lá)
a sociedade muda, a escoal não muda!
que coisa!!!

http://escoladavila.wordpress.com/2011/04/26/as-maes-que-nos-desculpem-mas-nao-comemoramos-o-seu-dia-aqui-na-escola/
Carolina disse…
Dá uma olhadinha no meu blog...
Estou vivendo um drama com a educação do meu filhote:

http://bruniceseafins.blogspot.com/

Abraços,

Carol.
Taís Vinha disse…
Anne, valeu a dica. Não conhecia o blog da Escola da Vila. Vou repassar para a escola dos meus meninos. Há tempos insistimos para que eles tb tenham um blog.

Os textos são ótimos! Adorei o texto do dia da mãe.

Sabe, ouvi por aí que o formato de escola existente vem de séculos atrás. Séculos e ainda estamos nele. Sugiro ler o comentário da Telma, logo acima do seu.

Bjs!
Lisse disse…
Eu acredito que nada no Brasil está preparado. Nem a escola para receber as crianças com sede de aprendizagem diferente e nem as crianças tem responsabilidade suficiente para tal.
Tais Vinha disse…
Lisse, desculpe mas acho que este tipo de pensamento que nos mantém há séculos no mesmo lugar. A escola realmente não está preparada, pois a formação de docentes e dos gestores no Brasil é muito ruim. Agora, questionar a responsabilidade dos alunos é preconceituoso e injusto. Alunos precisam de professores que, antes de mais nada, acreditem neles.

Lembrando que responsabilidade é também um aprendizado. Ninguém nasce responsável. E os anos passados numa sala de aula também são fundamentais para que este aprendizado ocorra.
Silvia disse…
Já pensou não ter lista de livros no início do ano? Além de dar mais flexibilidade aos professores, permitindo que se adaptem ao ritmo da turma (em vez de fazerem com que a turma acompanhe o ritmo do livro didático porque, se compraram, têm que usar até o fim), ia ser ótimo pro nosso bolso e uma bênção pro meio ambiente!

Mas eu tenho um pouco de medo do excesso de pesquisa na internet. Uma escola sem livros didáticos também precisa de professores preparadíssimos para separar o joio do trigo no que diz respeito ao conteúdo da internet, além de uma biblioteca maravilhosa com todo o tipo de publicação, desde os tradicionais livros até revistas, jornais, periódicos etc.

Hoje em dia, com os livros didáticos, os professores precisam fazer malabarismo para cumprir o conteúdo e ainda se adaptar ao que os alunos pedem que não esteja no livro. Mas eu adoraria ver a escola tomar coragem e abandonar os livros didáticos e apostilas. E permitir que os professores cumprissem o currículo do ano baseados em materiais trazidos pelos alunos! (E pelos próprios professores, claro, afinal o professor é um condutor.)

E o blog, ah, o blog! :-) Ainda não me conformo com o que aconteceu com o blog. ;-)
Oi Tais,

Ó eu aqui de novo. Valeu a visita lá, obrigada!

Mas olha, vou comentar mais uma vez. É que o assunto me provoca muito sabe.

Acho que existe um antagonismo latente ainda muito enraizado na sociedade entre agentes que não poderiam ser antagônicos em função da sua própria razão de ser.

Esse antagonismo é visível nas relações entre produtor/consumidor, médico/paciente,
professor/aluno
coordenador/professor
pais/escola
governo/povo

Agora veja a inconsistência dessa dinâmica, porque a razão de ser de um depende da existência do outro e vice-versa.

Não deveria haver espaço para subordinação de nenhum desses agentes em relação ao outro se o que se quer é o desenvolvimento, seja intelectual, educacional, político ou econômico.

Com relação à Escola ( e aqui me refiro à Instituição) a relação antagônica e de subordinação dos agentes que dela fazem parte são um nó que a Pedagogia não consegue desatar. E não vai desatar nunca!
Porque a Escola é antes de mais nada um espaço político que hoje, serve para reproduzir um sistema que está fadado ao fracasso. Quando deveria ser um espaço político que viabilizasse o exercício da cidadania.

Para exemplificar o que eu falo, basta observar a arquitetura das escolas. As mais antigas se assemelham à Igrejas, porque essa já foi o centro político da sociedade. As mais novas parecem grandes prédios comerciais, como bancos, que são hoje o grande centro político de qq nação ocidental. As públicas parecem presídios. E a falta de confiança e respeito entre pais, professores, alunos, coordenadores, diretores é a tônica dessas relações.

E infelizmente, nessas circunstâncias quem sai sempre perdendo é o aluno. Porque se na escola particular quem manda são os pais, na pública quem manda é a direção. Professores são meros joguetes. Alunos são cumpridores (ou não) de regras criadas por agentes "hierarquicamente superiores" (pais e diretores) que visam o seu bem estar e não o das crianças e jovens.

Para que essa dinâmica seja modificada, a Pedagogia é inútil.
A escolha dessa ou daquela linha pedagógica é para depois do nó desatado.

O que quero dizer com isso, é que existe mil maneiras de se fazer um bolo gostoso e bonito. Pode-se usar água ou leite, muitos ovos, nenhum ovo, farinha, amido, pode-se batê-lo na mão, na batedeira, assá-lo no microondas, no forno a lenha, no convencional; mas é preciso que os ingredientes sejam de boa qualidade e que os utensílios sejam apropriados e estejam limpos. E que o cozinheiro esteja ciente da importância da sua tarefa e que realmente goste de fazer um bolo.

Não há como horizontalizar a produção de conhecimento se as relações entre os agentes da escola não forem horizontalizadas primeiro.

Não há como ensinar os conceitos subjacentes à sustentabilidade, sem antes repensar questões administrativas internas da própria escola.

Não há como respeitar e incentivar uma atitude respeitosa sem que antes os próprios professores saiam da posição de pobres coitados injustiçados, sem que antes pais e alunos estejam cientes da sua importância para o processo político da Escola.

E para que isso aconteça, não é preciso determinação do MEC ou das Secretarias de Educação, não. Esse é um movimento que qq espaço escolar pode fazer indepedentemente das políticas públicas de educação.

Dá trabalho, muito trabalho. Mas se tem uma coisa que a Escola não conseguiu assimilar e nem reproduzir é tal da relação custo-benefício. Talvez, um dia essa instituição entenda o que essa expressão quer dizer. E aí talvez, um dia a coisa comece a mudar.
o novo ainda não nasceu e o velho ainda não morreu.

sabe, tais, hoje mesmo ouvi conhecimento não pode ser transmitido.

este modelo de escola enciclopédica que foi criado para as elites é totalmente inadequado para as necessidades atuais.

sem igeja e com a família em frangalhos e escola passa a ser o receptáculo de todas as demandas de aprendizagem do que é viver em sociedade e ainda tem que dar conta de quilos de informações inúteis que estão disponíveis a um enter no nosso google.

até mesmo as escolas e os pais que enxergam isso não podem negar conteúdo aos filhos, pois eles precisam passar num vestibular conteudista e decoreba. passamos 18anos instruindo estes alunos para fazer uma prova e negamos a eles a formação necessária para viver neste mundo com humanidade, solidariedade e confiança. triste!

e se fosse só este nosso problema, heim! tem uma pá de instituições que precisam passar por uma transformação há tempos.

excelente post, como sempre: compartilhei!
Priscila Blazko disse…
Tais, suas perguntas me deixaram com a pulga atrás da orelha e acabei fazendo um post sobre isso...
Abraço.
Ana Júlia disse…
Taís,

Sinto vontade de comentar cada post em seu blog. Tenho lido até os comentários dos leitores, que são valiosos também.

Por conta do "ombundsmãe", hoje cheguei atrasada a uma reunião...
Anônimo disse…
como e que ai no outro pais de voce se m aluno apronta por exemplo bate em outro aluno como voce fazem pra ele aprender nao bate mais niguem bjuss a todos