As mães de "Orgulho e Preconceito".


Se você é fã da escritora inglesa Jane Austen e caiu aqui em busca da visão de um especialista, fuja! Mude rapidamente de blog. Sou uma leitora amadora e escrevo porque estou participando de uma roda de leitura sobre o livro "Orgulho e Preconceito", promovida pela Vanessa, do Fio de Ariadne.

Aderi ao desafio, porque já tinha lido este livro, adorado e achei interessante relê-lo e discuti-lo numa nova fase da minha vida.

Gosto muito do texto da Jane Austen. Acho-a delicadamente irônica. Ela consegue descrever com sutileza e bom humor os costumes da sociedade inglesa do início do século 19, construindo frases impagáveis, com um humor inteligente e nada escrachado.

A primeira coisa que me chama atenção quando leio livros ou vejo filmes sobre os ingleses de outrora é que ninguém trabalha. Incrível como eles conseguem levar a vida jogando baralho, escrevendo cartas, lendo livros e viajando. Ninguém de respeito pega no batente. Alguém pode me explicar de onde vinha a renda dessa gente? Só podia ser das colônias. Não tenho outra explicação.

Mas são as mães, as personagens que mais me atraem. Incrível como, cerca de 200 anos após terem sido criadas, elas se mantém super atuais. O mundo mudou, a mulher mudou, as relações mudaram. Mas mãe é mãe. E continuam todas, muito parecidas. Seja nas novelas da Jane Austen, do Manoel Carlos ou na casa da sua sogra. Veja se concorda:

Mãe casamenteira - A Sra. Bennet é desesperada para casar as filhas. Para isso as atira sobre qualquer bom partido que pinte no pedaço. Quem não conhece uma mãe assim?

Eu conheci duas que preciso registrar para a posteridade.

A primeira foi na recepção do ginecologista. A mulher, felicíssima, contava a todos os presentes que suspeitava que a filha adolescente estivesse grávida de um super astro da música sertaneja, com o qual foi para a cama após um show. Detalhe: o sujeito é casado e tem filhas na idade da menina. Esta está mais para os roteiristas do Pânico do que para Jane Austen.

A segunda mãe é minha preferida: ao constatar que a sobrinha "rodada" havia se casado muitíssimo bem e a filha "certinha" de 30 e poucos anos estava "encalhadíssima", a mãe solta a seguinte pérola: "Você já viu como as galinhas sempre arrumam bons maridos? Por isso, eu falo pra minha filha...você precisa dar mais! Esse é o seu problema."

A mãe controladora. Lady Catherine tem personalidade forte. É orgulhosa, autoritária e controla a vida de todo mundo. Dá conselhos e palpites o tempo todo, desde a criação dos filhos dos outros, até como fazer uma mala. É uma criatura de nariz empinado e com opinião formada sobre tudo. Acha sua filha, uma débil criatura, superior a todas as solteiras disponíveis e planeja para ela um casamento com um homem à altura. Perto da mãe controladora ninguém solta pum. Nem respira. Quem nunca trombou com uma matrona assim?

Mãe genro é genro, com ou sem alça. Esta é a Sra. Lucas. Quando soube que a filha desencalhou, respirou aliviada. Que importa que o genro é o ser mais chato e mala sem alça sobre a face da Terra? Ele tem uma renda, estabilidade, a filha terá casa, comida, mas terá que lavar roupa. Ninguém é perfeito. Pior sina seria a pobrezinha aguentar um futuro de solidão. Essas mães são do tipo Erasmo Carlos: antes mal acompanhada do que só. Conheço muitas assim. Fecham negócio com o rapaz trabalhador. Sem sal, sem tempero e, muitas vezes, azedo. Pelo menos ele fará companhia nas tardes de domingo pra assistir o Faustão.

Essas são as mães. Tem as solteiras e estas inspirariam um texto a parte. São divertidíssimas. Os maridos então, surreais. Tudo o que eles querem é sobreviver ao matrimônio. Aconteceu há 200 anos. Mas podia ser hoje. Assim caminha a humanidade. E viva senso e a sensibilidade da Jane Austen.

Bom final de semana!

Comentários

Vanessa Anacleto disse…
Ah, Taís, ficou ótimo! Essas mães são mesmo um show a parte. E o humor do Sr. Bennet a cada ideia maluca da esposa é de arrasar.

Beijo e obrigada pela participação! Adorei.
Vanessa Anacleto disse…
Ah, sim, sim, dinheiro das colônias. James dá a opinião de um entendido no minha literatura agora, vale a pena ler.

Resenha do minha literatura agora
Pérola disse…
Taís,
Quero te fazer um convite depois.
Me escreve: mamaeantenada.blog@gmail.com
Beijos!!!
Paloma Varón disse…
Morri de rir com as mães da vida real, a que achou o máximo a filha adolescente estar grávida (como assim, meu deus?) de um homem brega, casado e velho (bizarrice total) e a outra, também minha prefereida, que estimula a filha a ser mais, digamos, aberta às aventuras. A vida como ela é!
ótimas observações, Taís. Com mães como essas quem precisa de inimigos? O pior é constatar que em 200 anos alguns tipinhos de mãe só mudaram mesmo de endereço. Credo!
Tais Vinha disse…
Apesar da maternidade ainda estar em construção, algumas atitudes são eternas. O desejo de proteger a cria é um deles. Essas mães, dentro da loucura que todas temos, só querem isso: o melhor para seus pimpolhos.

O problema é que o conceito de melhor é subjetivo, não? Daí algumas aberrações, como a mãe que ADORARIA que a filha passasse o resto da vida recebendo pensão de cantor sertanejo. Ou a mãe que não entende como sua filha bem criada, bem nascida, bem educada não seja desejada por nenhum homem.

No fundo, estou com a Jane Austen. O mundo está mais para uma grande comédia que dramalhão. E isso não mudará nunca.
Raphaella disse…
esses é um ..se nao "o" meu livro predileto..otimo post.