Professor especialista - necessidade ou piroctecnia?





Hoje levanto uma questão que tem me proporcionado muitas dúvidas e que tem se tornado rotina em muitas escolas de educação infantil. Meu caçula tem 3 anos e…6 professores na pré-escola - duas de sala e 4 especialistas –música, inglês, biblioteca e educação física. O meu outro menino, tem 6 anos e…8 professores – 2 de sala e 6 especialistas – os mesmos do caçula, mais o professor de artes e a de informática.
Minha pergunta é: precisa? Quais os ganhos de expormos crianças tão pequenas a uma rotina de troca de professores, antes exclusiva aos alunos mais velhos?

Pode-se argumentar que o professor especialista sabe mais da disciplina e, portanto, estaria mais apto pra ministrá-la. Concordo. Mas estaria ele apto para enxergar a plenitude da criança e seu processo individual de aprendizado, como um professor generalista competente e bem treinado? Não acredito. O professor especialista trabalha com muitas turmas e horários pré-determinados. As atividades têm hora para iniciar e acabar, o que, por si só já contraria um dos princípios básicos da educação construtivista que é administrar o tempo da atividade de acordo com o rendimento e o interesse das crianças. Além disso, o especialista lida com inúmeras crianças, de inúmeras turmas. Certamente, uma ou outra acaba se perdendo no entra e sai de alunos. E, geralmente, os que se perdem são sempre aqueles alunos mais quietos, tímidos ou os mais desinteressados, justamente os que precisariam de uma atenção especial.

Lanço ainda outras perguntas: como fica a rotina na sala de aula, com tantos horários? É hora da roda, do lanche, da profa de música, da biblioteca, do parque. Uma agendinha quase que de executivo. Como faz a professora de sala se uma atividade rende além do esperado e está no horário do outro professor? Interrompe-a, simplesmente? E como fica a caçada ao lobo mau ou a pintura coletiva nas quais as crianças trabalhavam com afinco e interesse? São interrompidas no meio, bem quando estava legal?

E os projetos – são discutidos com os professores especialistas para que todos falem a mesma língua? Nem sempre – já aconteceu de um dos meus filhos estudar os índios com a professora de sala e arte egípcia com a professora de artes. Temas interessantíssimos. Mas que juntos, não fazem sentido algum.

Penso que deveríamos repensar muitas das inovações feitas no ensino nos últimos anos. Dispensar um pouco a pirotecnia “impressiona pais” e voltar para o básico. Um professor generalista, bem treinado e competente, é plenamente capaz de contar histórias, proporcionar atividades físicas de forma lúdica e trabalhar a música, sem que seja necessário o entra e sai de especialistas e a rigidez de horários. E com um olhar na individualidade da criança que só aqueles que convivem no dia-a-dia conseguem obter. Perde-se um pouco da técnica? Talvez sim, mas os ganhos por outro lado são imensos. Aulas mais adaptadas ao ritmo de cada turma, intimidade nas relações professor aluno, agendas mais flexíveis, menos correria, menos estresse, mais liberdade para o professor trabalhar, mais comprometimento com os projetos. Enfim, um ensino mais calmo, aprofundado e menos “executivado”.

O tempo se encarregará de segmentar a vida e enchê-la de atividades e múltiplas tarefas. Temos que colocar nossos pequenos nesta roda viva tão cedo?

Comentários

Anônimo disse…
Interessante... em nome da diversidade, muitas vezes, perde-se a qualidade... Tem-se a impressão de que é preciso "saber" um pouco de tudo, tem que se "dar conta de tudo" e, de fato, acaba compartimentando. As "matérias" são ensinadas separadamente e, geralmente, fora de um contexto, ou "amarradas" articialmente. Será que as crianças da educação infantil não ganhariam mais se os especialistas contribuíssem para a formação do professor?
Ressalto a afirmação que destaca a necessidade da boa formação do professor, inicial e continuada, e acrescento, um competente acompanhamento da coordenação pedagógica.
Anônimo disse…
Olá, vi seu blog publicado no Blue Bus, três coisas me interessaram, tbém sou publicitário,trabalhei em SJC e sou pai. Qdo eu era pequeno, na minha escola tinha todas essas atividades, mas pelo q me lembro não era uma agenda tão violenta. A gente sempre ficava um pouco a mais na sala de música. E não tinha q levar nada de casa, os instrumentos e materiais ficavam na escola, isso facilita a vida da criança e não se torna uma cobrança chata de rotina, (3ª feira é dia de levar o tambor). Talvez 2 professores de sala seja muito cacique pra pouco índio, mas os especialistas, acho uma boa. É q estamos acostumados ao ferro e fogo do dia-a-dia, realmente isso não funciona com as crianças. Acho q a rotina dos seus filhos é mais light, e pelo q me lembro da minha infância, não tinha nada melhor do q dar uma escapada da sala de aula...rs.

além disso, tbém sou blogueiro.
http://luizcarioca.blog.terra.com.br
Mãe da Sofia disse…
Vou mais além de tudo isso que vcs comentaram... acho massacrante crianças de 4 e 5 anos já alfabetizadas. Conheço crianças de 6 anos que já batem papo no messenger... Minha filha de 5 anos está sofrendo com tudo isso, pois não privelegiei esse tipo de educação (sempre fui mega fã do construtivismo autêntico) e hoje ele estuda numa escola com uma agenda aperdata em, tadinha, já tem 3 livros didáticos.
O que fazer? bjs Ana Paula
Fernando Cruz disse…
Eu só faço uma colocação extremamente direta, e digamos, muito pessimista: apesar de tanta informação e "cultura", o nível de falta de respeito pelos pais, professores e qualquer outro tipo de pessoa vem crescendo assustadoramente. Excesso de informação não está se traduzindo em educação, no sentido mais importante desta palavra: conhecimento e observação dos costumes da vida social; civilidade, delicadeza, polidez, cortesia.

O mundo está cada vez mais individualista, violento e, acima de tudo, sem princípios. Portanto, o que essa "super preparação" de nossas crianças está ajudando na construção de um mundo melhor?

Concordo com a Tais: devemos voltar ao básico. Onde a única EDUCADORA nos mostrava, primordialmente, que a vida é feita de respeito e feita da convivência harmoniosa com outras pessoas.

Espero ser um bom pai, um dia. Por isso me preocupo com esses assuntos.
Ana Cláudia disse…
Acho que todos aqui se preocupam com isso.
Mas o que me preocupa é que somos uma minoria.
A maioria dos pais quer isso, pirotecnia, muitas atividades e não se preocupam em saber como estas atividades todas se interagem. Se interagem.
As escolas são pouco voltadas para ensino como fundamento e sim, como produto.
Anônimo disse…
Oi, Taís. Seu blog é ótimo! Poxa, eu esperava um local pra discutir todas essas questões. Sou psicóloga, mãe e pós-graduanda em Educação Infantil e Desenvolvimento. Olha, vou te dizer, faço das suas palavras as minhas. Não há necessidade de um ensino tão especializado assim. Acho que tudo isso é pra justificar a valor das mensalidades, pra fazer um marketing escolar, pra dar a impressão de que seu filho não está na escola apenas para brincar (o que já ouvi de muitos pais). Alguns ainda tem a coragem de dizer que não pagam escola pra seu filho ficar aprendendo a desnehar. Veja quanta ignorância sobre o desenvolvimento infantil... Lamentável. Seria ótimo que a mesma professora os acompanhasse até uma certa idade, talvez até os sete anos, assim cria-se um laço afetivo e a possibilidade de um aprendizado mais rico. Abraço, Luciene.
Anônimo disse…
Oi Luciene, seja bem vinda ao Ombudsmãe. O blog precisou ficar fora do ar por um tempo, por inúmeros motivos, dentre eles, uma mudança que me deixou cerca de um mês sem internet. daí vieram as férias escolares e etc. Concordo com tudo o que você escreveu e gostaria de conhecer mais o seu trabalho em desenvolvimento infantil. Qdo. der, me mande o seu email para que possa mantê-la atualizada com as discussões mais recentes. Sua opinião é muito bem vinda! Um beijão, Taís
Anônimo disse…
o que eu estava procurando, obrigado
Anônimo disse…
Thanks :)
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