Raiva no Urbanova



O Ombudsmãe encerra o ano com raiva. Raiva que me tirou cedo da cama num dia chuvoso de férias. Ontem os ilustríssimos vereadores da minha cidade aprovaram a verticalização do meu bairro. Para quem não conhece, moro num bairro residencial às margens do Rio Paraíba. Muito verde, muitos animais silvestres, matas nativas e minas de água. Por causa disso tudo, o que antes era matagal, agora é o bairro mais valorizado da cidade. Óbvio. Natureza e qualidade de vida viraram artigos de luxo no Brasil. Um luxo que nem a Daslu entrega. Pois valorização atrai como carniça os abutres da especulação imobiliária. Abutres, porque eles chegam, se apoderam, destróem, tampam o sol, estragam o trânsito, secam olhos d’água, roubam o horizonte, o sossego e a beleza. Logo, tudo o que era mais valorizado neste bairro deixará de existir. Seremos mais um bairro como qualquer outro no cenário urbano.

Isso tudo me fez pensar no quanto estamos longe, longe, longe de sermos a cidade moderna e tecnológica que tentam nos convencer que somos. Modernidade hoje em dia não é colocar avião no céu. Nem ser polo do que quer que seja. Moderno é ser humano. Na Europa, já se discute a retirada dos automóveis de algumas cidades. Isso é moderno. Seatle constrói túneis, semáforos e pistas para bicicletas. Isso é moderno. Entregar de bandeja, para as formigas saúvas (peço perdão a elas pela metáfora) um tesouro de qualidade de vida da nossa cidade é tão tacanho, tão primitivo, que deveríamos ser processados por propaganda enganosa, todas as vezes que anunciássemos a modernidade jossense.

Estou com raiva. Raiva do Prefeito que é jovem, tinha tudo para fazer um mandato histórico, mas como sempre na nossa classe política, só soube defender o indefensável. Ponto pra mediocridade. Raiva dos nossos vereadores – para eles me recuso a escrever uma linha sequer, pois tudo seria ameno. Raiva dos construtores que têm dinheiro, têm poder, mas só têm prazer quando enfiam suas estacas nos locais mais inapropriados. Nem Freud explica.

Sinto raiva de mim por ter feito muito menos do que fiz por esta causa. Penso no que vou dizer aos meus filhos. Eles aprendem na escola que temos que proteger a natureza. Que a vida no futuro depende do que fazemos hoje com o meio ambiente. Me ajudem a explicar a essa galerinha que fomos incapazes de cuidar do próprio bairro em que vivemos. Daqui pra frente, como convencê-los a preservar a Amazônia, se nem da mata ao lado da nossa casa conseguimos tomar conta?

Raiva é um sentimento muito ruim. Mas às vezes não dá para deixar de senti-lo.

Comentários

Anônimo disse…
Acho que não dá para explicar para as crianças... Talvez dê para ensiná-los a escrever cartas e desenho, pegar assinaturas, mandar e-mails, escrever para jornais... E sentir raiva! O problema é quando a gente passa a achar que tudo bem, que é assim mesmo, fazer o quê...
Como explicar para as crianças, ou pior, para pais com um filho muito doente, que há uma ala inaugurada no hospital em curitiba sem funcionários? E ainda pior, que talvez deixem de atender transplantes? E depois se vê os gastos de Brasília... É, no mínimo, indignante, revoltante!
Que país é esse que vivemos??
Anônimo disse…
tais faço suas palavras as minhas.o que podemos fazer? 1º vc deveria encaminhar esse desabafo p/ o valeparaibano p/ publicar na coluna do leitor. 2º enviarmos ate mesmo com um abaixo assinado p/ os vereadores que votaram com as construtoras e p/ o prefeito, com uma mensagem que eles entendem ano que vem tem eleição e não vamos deixar o bairro urbanova esquecer disso e de que como fomos "tratados". 3º ainda temos o Ministerio Publico. que já falou que era caso de audiencia pública, temos que verificar o Estatuto da cidade. não podemos nos dar por vencidos. tb fico com essa culpa pois não consegui ir em nenhuma votação. mas temos que nos mater unidos. ainda tem a questão de sancionar ou não a lei, e acredito que o cury não terá coragem p/ sancioná-la, deixará correr o prazo e ficará nas mãos dos vereadores essa sanção. então ainda cabe algum esforço. bjs da sua fã e admiradora.
Anônimo disse…
tais faço suas palavras as minhas.o que podemos fazer? 1º vc deveria encaminhar esse desabafo p/ o valeparaibano p/ publicar na coluna do leitor. 2º enviarmos ate mesmo com um abaixo assinado p/ os vereadores que votaram com as construtoras e p/ o prefeito, com uma mensagem que eles entendem ano que vem tem eleição e não vamos deixar o bairro urbanova esquecer disso e de que como fomos "tratados". 3º ainda temos o Ministerio Publico. que já falou que era caso de audiencia pública, temos que verificar o Estatuto da cidade. não podemos nos dar por vencidos. tb fico com essa culpa pois não consegui ir em nenhuma votação. mas temos que nos mater unidos. ainda tem a questão de sancionar ou não a lei, e acredito que o cury não terá coragem p/ sancioná-la, deixará correr o prazo e ficará nas mãos dos vereadores essa sanção. então ainda cabe algum esforço. bjs da sua fã e admiradora.
marcia disse…
blz de artigo tais, é p/ sentir raiva mesmo. mas ainda temos alghumas ações: publique no valeparaibano, na coluna do leitor este seu artigo/desabafo. vamos enviar por e-mail p/ todos os vereadores que votaram pela verticalização, procurar quem votou contra e ver a questão do ministerio publico e o estatuto da cidade. não vamos jogar a toalha. bjs
Anônimo disse…
Minha contribuição, no caso,
será um Haikai:

Raiva desperta
atitude
Bom saber!

(abrasileiradérrimo!)
bj
VM
Alex Gonçalves disse…
Talvez eleve ainda mais a mensalidade da univap.
Anônimo disse…
Tais, sou nova aqui, também moro no Urbanova e quero entender melhor esse processo.

Segundo minha professora de hidroginástica, esses projetos todos já haviam sido aprovados bem antes dos protestos dos moradores e não havia mais como a prefeitura voltar atrás. Mas ela ouviu isso de uma aluna, dona de construtora, claro.

Eu não sei que tipo de prédios nem quantos estão para ser construídos. Se não dá para voltar atrás com esses, é preciso ter certeza de que não sejam aprovados outros para não aumentar o estrago. E a prefeitura precisa encontrar formas de compensar esse impacto todo sobre o meio ambiente e o bairro.

Tô por aí pra correr atrás se houver algo que eu possa fazer.
Anônimo disse…
Thais, passa lá no blog "O Futuro do Presente", tem a primeira parte de um artigo que escrevi sobre a escolha das escolas (são quatro partes).

Adoraria que você comentasse.

A primeira parte, na verdade, é mais uma introdução, e falo sobre aspectos pedagógicos e estruturais também. Mas a parte pedagógica poderia render uma boa discussão se gente como você, que saca do assunto, comentasse para complementar as informações.

Aliás, eu gostei muito dos comentários da Telma aqui do teu blog, ela também tem blog?
Anônimo disse…
Ta�s, desculpa, escrevi teu nome errado no coment�rio anterior... (Ops!)
Anônimo disse…
Gostei muito da sua reflexão e concordo plenamente com ela.
Sinto que hoje não há mais espaços agradáveis para se morar em São José dos Campos. Estamos envolvidos em uma malha de indústrias e mais indústrias poluidoras, violência, trânsito infernal, paliteiros que são como cortiços de luxo... E o pior é que nada dessa riqueza que corre por aqui melhora a vida das pessoas, a cidade sequer possui boas opções de cultura e de lazer!
Nasci aqui e gosto muito de São José, por isso não posso deixar de dizer que está mesmo na hora de repensarem a verdadeira vocação desta cidade.