Planejamento Familiar
Planejamento Familiar
Nunca foi boa em planejar viagens. Deixava tudo pra última hora. Sabia que isso irritava amigos e familiares, além de ser uma atitude de risco. Mas achava que, com crianças, fazer planos era ainda mais arriscado.
E desse jeito viajandona ia levando a vida e os passeios. Na véspera resolvia, enfiava filhos, papagaio e violão no carro e partia.
Até que este ano, resolveu tomar uma atitude premeditada. Decidiu com um mês de antecedência que iria para Florianópolis.
Trinta dias de antecedência era tanto tempo que precisou racionalizar internamente a atitude: o semestre estava quase acabando, os filhos iam faltar uns dias na escola mas eram bons alunos e mereciam um descanso, a passagem de avião comprada antes era mais barata, 2012 poderá ser o último ano de suas vidas...
Estava imensamente feliz consigo própria. Para dar conta dos preparativos arrumou até uma agendinha, onde anotava "comprar biquini", "avisar escola", "comprar passagem de ônibus para o aeroporto", "depilar", "contratar cuidador para a gata".
Até que a uma semana do embarque, vem a notícia: os dois filhos, pela primeira vez, haviam ficado de recuperação. O mais velho em três matérias. O outro em uma. As provas, como era de se prever, eram exatamente na semana da viagem.
A mãe bufa e contém os ímpetos assassinos com uma taça de vinho. Mais calma, vai conversar com os filhos.
"O que houve?"
"Decidi sentar no fundão. Não deu muito certo, né...", foi a explicação do mais velho.
"Eu achei que tinha zerado a prova, mãe, juro!", disse o menor, na linguagem de quem passa por todas as fases e arrasa no videogame.
A mãe decide que este problema não lhe pertencia. Era deles. "Escutem. As passagens estão compradas. Eu e seu pai vamos de todo jeito. Resolvam com a escola e vocês irão com a gente. Se não resolverem, ficam para fazer a prova."
"Como assim?!" esperneiam. "Tá maluca?! Você tem que ligar lá e falar com a coordenadora!"
"Não ligo! Ligaria se fosse doença ou outro motivo grave. Mas sem vergonhice não é problema meu. É de vocês. Querem ir pra Floripa, resolvam."
"Você vai fazer isso com a gente?!"
"Eu! De jeito nenhum. Quem fez isso com vocês foram vocês mesmos. Assumam e se virem."
Por dentro, ela cruzava os dedos e torcia. "Deixar os fidamãe com quem? Mudar a data também não dá. Comprei passagens do tipo 'impossível remarcar - a senhora quer que desenhe?' Será que ligo para a escola escondida?"
Para piorar, os meninos esperneavam diariamente, implorando para a mãe intervir. Mas ela decidiu manter-se firme. Além de confiar no sevirômetro deles, achava que havia ali uma preciosa lição a ser aprendida.
Os dias foram passando, a viagem se aproximando e nada. Até que faltando 2 dias para o embarque o mais velho chega em casa pulando: "Conseguimos! A coordenação liberou para a gente fazer as provas noutro dia." E completa, cutucando o irmão: "Ufa, dessa vez achei que a gente tinha rodado! Você viu a cara da coordenadora quando a gente falou com ela? Nunca imaginei que ela fosse topar!"
Enquanto os dois se afastam, a mãe senta para relaxar. Santa coordenação! A viagem da família estava salva. Podia seguir com os planos. Que daqui para frente voltariam a ser poucos.
Esse negócio de planejar com antecedência é estressante demais. Como alguém consegue viver assim?
Comentários
Beijos,
Nine
bjão
#amorelimites#