Postagens

Mostrando postagens de março, 2016

O criado-mudo.

Imagem
A mãe mexe no celular quando o filho, rapazola, se aproxima: “Mãe, o que é isso?” Ela responde sem olhar: “Isso o quê?” O moleque bufa: “Isso! O que é isso que achei na gaveta do seu criado-mudo?!” A mãe levanta os olhos e vê o garoto lhe apontando um objeto. Ela responde calmamente, sem mudar de expressão: “Um vibrador. Você sabe o que é isso.” O menino arregala os olhos: “E o que isso está fazendo na sua cabeceira?" A mãe ergue uma sobrancelha e, incorporando a diva de cinema mudo, devolve calmamente: “Você quer mesmo que eu te explique?” O adolescente franze o rosto com asco: “Ai...que nojo! Você é minha mãe! Eu não estou pronto para saber dessas coisas.” A mãe estica a cabeça e faz cara de quem não está entendendo: “Bom, se você não está pronto, por que mexeu no meu criado-mudo? Não sabe que em criado-mudo de mãe não se mexe? Criado-mudo é zona proibida. Você procurou e achou. Agora seja mocinho e lide com esse

A escola na sala de jantar.

Imagem
Ontem, só ontem, enquanto assistia ao filme Hannah Arendt, um pensamento me invadiu fino e fundo, como uma agulha de tricô e me virou o estômago e a mente: eu sei pouco, muito pouco ou quase nada sobre o nazismo. Um dos maiores crimes da atualidade contra a humanidade, com 6 milhões de pessoas sistematicamente assassinadas, e o que sei sobre o processo que levou uma sociedade dita civilizada a cometer tamanha atrocidade? Nada. O pensamento é talvez o mais rápido download que existe. Na mesma hora me conectei com a escravidão. Milhões de seres humanos arrancados de suas vidas e transportados como gado para servir de mercadoria. E o que sei realmente sobre esse fato, suas causas e consequências no mundo em que vivo? Praticamente só o que aprendi nas novelas das seis da Globo. Foi difícil continuar prestando atenção no filme. Vendo Hannah dar aula, refletindo de maneira tão aprofundada com os alunos sobre a natureza humana, me ocorreu que estudei numa escola estadual

“Professora, e seu eu te chamasse de vadia?”

Imagem
A sala do sétimo ano estava dispersa e, no meio da confusão, um garoto chama um grupo de alunas de vadias. Elas ficam muito indignadas e procuram a autoridade presente: a professora. A professora não dá bola. Negócio de criança, coisa da idade. A indignação aumenta. As meninas ficam ainda mais exaltadas e alguns garotos resolvem sair em defesa delas: “Ô profa, o moleque chamou elas aqui de vadias! Você não vai falar nada?!” A professora olha com cara de quem está cansada daquilo tudo e diz: “Depois vocês resolvem isso...lá fora no intervalo.” É quando um dos meninos a interrompe dizendo: “Profa, depois?! E se fosse eu que te chamasse de vadia? Você ia querer resolver agora ou depois?” O episódio ilustra bem como a construção da ética e do respeito nas relações ainda é uma realidade distante nas nossas salas de aula. E como a indignação do adulto é tratada com muito mais atenção do que a infantil ou juvenil. Na visão de muitos educadores, um conflito só