Educar não tira férias
Educar não tira férias
Na praia, a menina de 5 anos pede um queijinho. A mãe compra
e antes de entregar dá uma mordidinha.
Ao ver o queijinho mordido, a menina reclama e começa a
choradeira.
Mãe e tia tentam, mas nada resolve: o queijinho ainda não mordido
da tia não serve, um novo queijinho nem pensar, deixa pra lá e come seu queijinho
– surto! O projetinho de gente queria o queijinho dela, mas sem a mordida.
Os berros vão ficando mais insistentes e como não havia
solução, a família opta por ignorar. A mãe termina de comer o queijinho, os irmãos
correm para o mar e a tia abre uma revista.
Ao ver que a gritaria não estava funcionando, a menina
resolve mudar de tática. Pega um palito de queijinho e espeta com força as
costas da mãe.
A mãe fica muito brava, mas consegue se controlar e dá o recado: “Estou vendo que você está nervosa e muito brava com o que
aconteceu com seu queijinho, mas você não pode machucar ninguém por isso. Se
acontecer de novo, nós vamos embora da praia.”
A menina senta emburrada na areia. Mas assim que a mãe dá as
costas, ela levanta e a espeta novamente.
A mãe dá a ordem: “Pegue seus brinquedos que estamos indo
para casa.” A menina pergunta pelos irmãos. A mãe explica que eles vão
continuar na praia com a tia. Quem vai embora é ela e a mamãe. Diante dessa
tremenda injustiça, a menina decide berrar ainda mais alto e se joga na areia.
“Eu avisei você. Não podemos agredir as pessoas nem quando
estamos com muita raiva. Você me agrediu. Vamos para a casa e fim”.
A casa ficava a pelo menos um quilômetro e elas estavam a pé.
Arrastar uma menina pesadinha e ainda por cima jogando o corpo toda hora na
areia não é fácil. Uma cena e tanto para os demais banhistas, mas a mãe ignora
os olhares e só para quando chegam na casa.
Ao ouvir a história perguntei: “Que malinha! Jura que você
saiu da praia? Mas o dia não estava lindo?”
A resposta foi uma das lições mais bonitas sobre a arte de
criar uma criança: “Claro que preferia ter ficado na praia. Mas antes de ser
uma mulher de férias, eu sou mãe. E ser pai ou mãe significa educar. Disso, não
temos como tirar férias. E nada é mais importante. Eu podia ter dado uma
palmada e resolvido de forma muito mais imediata. Mas como vou ensiná-la a não agredir, agredindo-a? Me sacrifiquei, mas ensinei algo valioso a minha
filha. Não poderia perder esta oportunidade de educá-la nem por um dia
maravilhoso de sol.”
Pensei nas inúmeras vezes que surtei, para conseguir ver meu
programa ou ter um pouco de sossego e engoli seco. Nessa noite, fui dormir pensativa.
Imagem do site: www.photographytips.com
Comentários
comentei o post anterior, e gostaria muito de ter um fadback seu; pois sei que você é conhecedora profunda das questões educacionais.Se você tiver contato com pais ou professores da Pedagogia waldorf, gostaria muito de sua opinião; ou mesmo um posicionamento. Em relação a ser " mãe educadora full time", concordo plenamente. Abraços
Se vc quiser, me mande um email que tento te colocar em contato com pais que tem os filhos em escolas Waldorf. Meus filhos estão em uma escola construtivista (de verdade e não só no discurso) e não temos escolas waldorf por aqui. Onde vc mora? Bjs
Quando o meu filho tinha uns 2 anos, aconteceu algo parecido num shopping. Tinha ido p/ fazer a compra da semana. Antes de dar o aviso que mais uma iríamos embora, pensei como iria resolver a questão da despensa em casa. Pesei a questão muito rapidamente e como a birra continuou, larguei o carrinho meio cheio no meio do mercado e fomos embora.
Naquela semana, gastei um pouco mais com compras online, mas nunca mais tive problemas de birra incontrolável no mercado.
bjs
Larguei tudo que tinha para fazer (pagar contas, pegar sapato na sapataria, sacar dinheiro, fazer as compras da semana...) e disse que se ele não parasse íriamos embora.
Como ele não acreditou que eu deixaria de fazer "tudo" para ir para casa, se plantou no meio do shopping com uma cara irônica.
Voltei e disse a ele: "Vamos embora. Se não quiser vir comigo tudo bem, dou o dinheiro para o táxi e vc pede para alguém te entregar em casa. Tchau".
Ele veio correndo choramingando pegar na minha mão e fomos embora. Nunca mais me aprontou uma dessas.
Mas agora Taís, os problemas são outros... ando surtando com ele, aos 11 anos, querendo bater de frente comigo. Só vale para ele se é o que ele acha bom. Ai que vontade de esganar...
Acho que preciso de um bom curso para dobrar moleque bocudo (ou talvez uma cartela de Rivotril, kkk).
Bjus
abraços e obrigada.
Realmente, a atitude de ser firme naquilo que falamos à criança faz toda a diferença. E gostei muito também da resposta que sua amiga lhe deu: educar não tira férias, somos mães 100% do tempo. Diria até que nas férias somos mais exigidas na nossa tarefa contínua de educar, uma vez passamos mais tempo junto à criança.
Mas uma coisa que me chamou a atenção foi a atitude que provocou todo o episódio: a mordidinha que a mãe deu no queijo. Pode parecer um ato bobo, sem maiores consequências, mas eu vi ali uma falta de respeito pela criança. Se eu vou dar alguma coisa para um adulto, eu não vou morder antes de entregar. É falta de respeito, de educação, não é? Se quiser um pedaço, vou pedir, vou perguntar - pelo menos, eu aprendi assim e assim eu ajo. Então, porque fazer isso com a criança?
Acho que a gente precisa ensinar a criança a dividir, compartilhar, mas com o devido respeito a ela. Aqui em casa, sempre estimulamos nossos pequenos a partilhar, tanto que eles sempre me oferecem o que estão comendo. E pra que eles se acostumassem a isso, eu sempre pedia: posso experimentar?, dá um pedacinho?
Longe de querer criticar esta mãe, viu? Só quis mostrar um ponto de vista que não vi abordado aí. Somos todas mães e estamos sempre tentando acertar, mas mesmo assim, erramos muito. Faz parte do processo de aprendizagem: deles como filhos e nosso, como mães e pais.
P.S.: Depois que escrevi o comentário que vi o comentário da Ceila Santos. Ela pensou a mesma coisa que eu... :-)
É que o pediatra do meu filho (6 anos) é um pediatra comportamental e em um de seus livros ele fala dessa necessidade de peitar os pais em casa nessa fase. Segundo a teoria dele, os filhos precisam "ganhar" em casa p/ se sentirem seguros o sufciente p/ "ganhar" lá fora. O que ele proppõe é que como pais criemos algumas situações (ou então, aproveitemos algumas situações reais) onde o filho tenha razão, sem perder a linha de valores e ética da família em questão.
Beijos intrometidos
Beijos,
Nine
Adorei a atitude e o controle da mãe!
Certamente, um exemplo!