Sobre mães e bruxas.
Quando fiz 14 anos, fui matriculada no Anglo, para fazer o colegial. Minha única exigência foi: lentes de contato. Ia entrar oficialmente no maravilhoso mundo da adolescência e me recusava a ir de óculos.
Minha mãe entendeu e logo eu estava usando um par de lentes rígidas, de acrílico, daquelas que, quando entrava poeira, era só tirar, lamber e colocar de novo no olho. Eca!
Primeiro dia de aula, lá vou eu toda orgulhosa com minhas lentes, ainda em adaptação. Tudo para mim era novidade e eu estava bem intimidada. Última aula, entra um cisco nos meus olhos. Esfrego e uma das lentes cai no chão! Pânico total e absoluto. Tive vergonha de interromper a aula e pedir ajuda. Toca o sinal, aquele bando de adolescentes caminha por onde minha lente possívelmente estava. Desisto de encontrá-la. Vou para casa arrasada, pensando na grana desperdiçada, na bronca e, pior, no dia seguinte ter que ir para a escola de óculos. Meus óculos eram medonhos.
Chego em casa chorando e explico o que houve para minha mãe. A reação dela foi a mais inesperada:
"Vamos lá encontrá-la."
"Mãe, sem chance. A esta hora, já limparam a sala".
"Tenho certeza que nós vamos achá-la".
Partimos eu e ela para o Anglo. Chegando lá, ela chama as faxineiras e explica o problema. Elas levam os sacos de lixo para minha sala e começamos a vasculhá-los. Era óbvio que seria impossível encontrar um círculo de acrílico minúsculo no meio de toda aquela sujeira, mas a confiança de minha mãe era absoluta. E não é que depois de muito vasculhar, alguém grita: "Achei!".
No meio do pó de giz, encontramos a lente.
Até hoje não consigo acreditar nessa história. E ela aconteceu comigo. Exatamente da forma como conto. Quando penso nela, acho que é uma daquelas mágicas que só as mães têm o poder de fazer. E me dá uma saudade imensa da minha bruxa querida. Que já se foi, mas deixou nas crias o poder de beijar qualquer ferida pra dor passar. E de nunca aceitar um "não" sem antes tentar o que for possível para transformá-lo em "sim".
Comentários
Mãe é assim, muitas vezes investe em coisas que parecem não ter sentido, porque sabem que lá adiante é que fará sentido. Fez, né?
Além de bruxas, muitas são milagreiras.
Beijos.
Lembra ..."fuçar o lixo da feira para achar o aparelho do filho?
Parabéns.
VovóMadô, que não é mãe, mas é bruxa.
Abraço
Virei mais vezes, se me permitires...
Beijo grande,
Renata.
Essa história em particular é linda... Acho que com isso ela te ensinou a acreditar em coisas que parecem ser muito difíceis de ocorrer. Uma grande lição de vida. Agradeço por compartilhar aqui com a gente.
Abraços
.
Tudo de bom. E parabéns pelo blog.
http://solucomental.blogspot.com
Temos um perfil parecido: sou jornalista, mãe e professora universitária.
Beijos
Descobri este lugar delicado, aconchegante, diversificado e merecedor de todos os premios e elogios.
Voltarei.
Abraço carinhoso
(o Anglo que vc estudou é o daqui de São Paulo!? da Aclimação?se for, meu filho estudou lá também, só que agora a escola faliu graças ao filho herdeiro....)
Nadia
Que saudades dela! é de encher os olhos de lágrimas. Adorei! Verdade, alma e coração em cada gesto que fazia.
beijocas Dri
Adorei sua história... só mãe mesmo pra transformar um "não" em "sim". Tentarei ser uma guerreira e super mãe como a sua, a minha e outras mães maravilhosas e especiais deste mundo.
Super Beijo! Parabéns pelo Blog
Helena (sua prima postiça)
Bjs!