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Nossos filhos e a avaliação escolar - Parte I

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Nossos filhos e a avaliação escolar - Parte I Uma vez ouvi de um estudante sueco que lá eles não colam nas provas. Na época revirei os olhos. Para uma universitária como eu, nascida em um país da turma do fundão, não colar soava como o cúmulo da inocência escolar. O estudante completou: "Colar é enganar a si mesmo. Por que você faria isso?" Essa frase ecoou anos na minha cabeça até que eu pudesse entendê-la. Mais ainda, pudesse entender porque lá eles pensam assim e aqui achamos que estamos apenas enganando o professor ou o sistema. Para compreendê-la, precisei primeiro de abrir mão de alguns conceitos errôneos e preconcebidos. Confesso que levei anos para entender que não se trata de um povo puro, correto, íntegro versus a malandragem gersoniana brasileira. Não somos coladores natos, nem enganadores desde a mais tenra idade. Somos muito mal avaliados! O sistema de avaliação da maioria das nossas escolas nos estimula a tentar burlá-lo. Explico: avali...

Onde, senão na escola?

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Onde, senão na escola?  O "paraíba vagabundo" vira um brasileiro como eu A "bicha que merece uns tapas" se transforma apenas num cara diferente de mim O "neguinho safado" vira ser humano e meu mano Perco o medo de quem é diferente e com isso viramos todos iguais Onde, senão na escola?  Deixo de temer quem não teme o meu Deus A palavra "nosso" ganha um significado muito além do que ensina a gramática Descubro que nem toda mulher apanha como a minha mãe Aprendo outras formas de resolver problemas sem ser "enfiando a mão na fuça daquele filho da puta" Onde, senão na escola? Entendo que escutar é tão importante como falar Descubro que tenho uma voz e aprendo a usá-la Deixo de ser o filho especial e passo a ser só mais um aluno Observo que o comportamento que tenho em casa nem sempre funciona com meus colegas e professores e com isso mudo. Se não é na escola, onde é?  Al...

Meu filho come com as mãos.

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Meu filho come com as mãos. Meu filho adora botar os dedinhos na comida. Catar os grãozinhos de arroz, os pedacinhos de bife, as florzinhas de couve-flor, a poeirinha da farofa. Já tentei fazê-lo usar os talheres, mas vi que ele não sentia tanto prazer e nem comia tão bem como quando se alimentava com as mãos. Decidi então jogar fora o manual da mãe aplicada e deixei-o seguir comendo no módulo um, dois, três indiozinhos. Mais tarde descobri que uma das maiores especialistas em desvio alimentar infantil, a Dra. Gill Harris, recomenda deixar que os pequenos comam com as mãos desde o primeiro momento em que se introduz os alimentos, para que sintam a textura, a temperatura, se dessensibilizem e percam o medo dos alimentos. Os talheres estão sempre ali pertinho sobre a mesa. Mas é com os dedinhos que ele vai esvaziando o prato e enchendo a barriguinha. O curioso é que aos poucos, ele foi entendendo por si próprio que há lugares em que esse ato não é apropri...

Levante a mão quem não é consumista.

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Levante a mão quem não é consumista. Hoje é dia de blogagem coletiva materna sobre a Infância Livre de Consumismo . Escolhi não falar sobre a influência da publicidade na formação dos pequenos. Na página do ILC no Feicebuque e nos textos já publicados há informações preciosas sobre esse tema. Para mim, o que mais preocupa nessa louca relação consumo x criança x família é que nós, pais de hoje, somos consumistas. Somos talvez a primeira geração de pais formados desde muito pequenos para consumir. Me lembro que a geração que veio antes da minha, tinha uma relação completamente diferente com as coisas. O papel de presente era guardado para embrulhar novos pacotes. Nenhum pote de vidro ia para o lixo. Os livros eram encapados com carinho para serem usados novamente no ano seguinte. Comida era caseira. Fomos aprendendo aos poucos a usar caldo Knorr, o Arisco e outros aditivos industriais. Refrigerante era só no domingo e olhe lá, mas para comprar tinha que levar ...

Precisamos de uniformes inteligentes ou de gestores inteligentes?

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Precisamos de uniformes inteligentes ou de gestores inteligentes? Você é gestor na área de educação e precisa lidar com o número elevado de alunos que cabulam as aulas. Você: 1)       Coloca Michel Teló cantando “É a nossa alegria” nos alto-falantes da escola como forma de atrair a meninada. 2)       Ignora. Aluno cabula aula desde que inventaram a escola e não é você que vai dar jeito nisso. 3)       Manda bilhete para os pais resolverem. 4)       Procura saber o motivo do desinteresse dos estudantes pela escola e coloca em prática um plano para mudar as coisas, envolvendo equipe, pais e alunos. 5)       Articula com a Prefeitura o fechamento da lanhouse que fica perto da escola, porque é para lá   que a turminha vai. Em São José dos Campos, SP, fecharam a lanhouse. Em Vitória da Conquista, BA, investiram R$ 1,2 milhão na compra de unifo...

Ajude seu filho a escapar da Redoma.

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</body>  "Escape" first appeared in Adbusters #34 (Mar/Apr 2001) by Marc Dejong - Melbourne, Australia. - www.adbusters.org  Ajude seu filho a escapar da Redoma. Imagine que você vive em um país controlado por um Ditador. Onde quer que vá, para onde quer que olhe, Ele está sempre presente. Nos muros, nos autidores, na TV, nas padarias, nos carros, nas camisetas, nos bonés, nas partidas esportivas, nos copos descartáveis e agora até nos uniformes escolares. Não há como escapar de Suas mensagens. Você vai levando sua vida em meio a esse bombardeio sem pensar muito no assunto. Seus filhos também. Mas para eles, o Ditador preparou mensagens mais fáceis de serem entendidas. Tem bichinho, musiquinha, astros e estrelas, joguinhos, personagens famosos etc. Você testemunha seus filhos crescerem achando que o Ditador é muito legal. E quer apenas a alegria e felicidade deles. Acreditam que se fizerem o que Ele sugere, serão lindos, amados, descol...

Publicitários censuram pais e mães em campanha contra a proibição da publicidade infantil.

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Publicitários censuram pais e mães em campanha contra a proibição da publicidade infantil. A ABAP, Associação Brasileira de Agências de Publicidade, organizou um movimento para divulgar a idéia de que somos todos responsáveis pelo consumismo infantil (procure "somos todos responsáveis" no Feicebuqui). A idéia central é engajar a sociedade para o conceito de que não se pode proibir a publicidade infantil, porque vivemos numa sociedade democrática e cabe aos pais o controle e a educação das crianças. O movimento convida todos para o debate "corajoso" e afirma: " São bem-vindos todos os que desejam contribuir com sugestões, com ideias e com argumentos contra ou a favor das posições aqui claramente defendidas... Um debate maduro se faz sobretudo com respeito ao que é diferente e com disposição para argumentar em paz." Pois bem. Aceitei o convite e fui lá dar meus pitacos. Demorou pouco, muito pouco, para eu descobrir que havia perdido me...

Mulheres que me fizeram. Sônia.

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Mulheres que me fizeram.  Sônia Quando todas eram normalistas, tia Sônia era bailarina. Vestia roupas chamativas, usava muita maquiagem e sabia de cor a coreografia das dançarinas da abertura do Fantástico. Casou-se com um primo, contrariando a parentada que dizia que primo com primo não podia casar. Era um casal descolado. Ela linda, decotada, chamativa. Ele cabeludo, cinto de couro gasto, chinelo preso só no dedão. Namoravam em público, coisa esquisita na época. Íamos todo ano para a praia e enquanto meus pais ficavam na areia distribuindo sanduíches de mortadela e bananas, eles ficavam abraçadinhos, se curtindo dentro d'água. Os parentes tinham lá sua razão. A filhinha deles nasceu com um problema nas pernas que podia ser corrigido, mas a menina teria que ficar engessada dos pezinhos ao quadril por muitos meses. A única abertura era um buraco para sair o xixi e o cocô. O marido trabalhava fora e para cuidar melhor da nenê, tia Sônia veio morar c...

Mulheres que me fizeram. Teresa.

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Mulheres que me fizeram. Teresa Depois de enterrar a filha, Teresa senta-se no degrau da varanda com um copo de cerveja e um cigarro. As únicas coisas que consegue ingerir. Quem passa pela rua, dá o boa noite de sempre, sem se dar conta de que aquela era tudo menos uma noite boa. A vizinha se aproxima. Teresa lhe oferece um banquinho. A moça começa a chorar. Era amiga da filha e estava esperando Teresa sair para poder lhe dar um abraço. Teresa a consola. Oferece um copo de cerveja. A conversa toma o rumo das recordações. Algumas engraçadas, como o dia em que a filha, barbeira, trombou com o portão da casa ao lado. A vizinha suspira e me conta que também enterrou seu nenê. Era um menino e até hoje ela não sabe direito porque ele morreu. "Nasceu vivo. Me disseram que foi infecção. Tinha feridas no corpinho todo." Teresa acende outro cigarro. A noite é quente. Vai ser difícil dormir com tantas lembranças. Lembrança da vida dura que levou até poder...

Todos unidos pela educação.

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O casamento não ia bem e ela pediu o divórcio. Depois de uma longa e desgastante negociação, ele aceitou se mudar. Mas só sairia quando ficasse pronto o imóvel que eles estavam construindo em outra cidade. Resignada, ela decidiu aguardar. Nesse meio tempo, foi chamada para a reunião de pais da escola da filha mais velha. Segundo ano do fundamental, professora nova, regras novas. "Mãe, agora são aulas de 45 minutos com intervalo de 5 minutos para ir ao banheiro. Pedimos a ajuda de vocês para conscientizá-los a usar o banheiro só no intervalo. Eles terão aulas de ciências, português, matemática, geografia, artes, blá, blá, blá, ética e empreendedorismo. As provas provas são bimestrais e a tarefa diária. Se eles adoecerem, passem aqui para pegar a tarefinha. Temos que ensiná-los a ter disciplina. Ah, a partir de agora cada um tem seu lugar e o recreio diminuiu para 20 minutos. Exasperada a mãe ergue a mão e argumenta: "Mas eles só tem 7 anos! Por que as aulas tem...

Escolas com Alzheimer

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 Escola 1:  Quando a professora se aproxima para ver a tarefa, a menina explica em voz baixa e envergonhada que o pai bêbado havia batido na mãe, tiveram que chamar a polícia e, na confusão, não conseguiu fazer a lição. A professora dá de ombros, vira as costas e enquanto retorna para a lousa, diz em voz alta para toda a classe ouvir que aquilo não era desculpa e que a tarefa era para ser feita independente de tudo. A menina se enfurece, os olhos se enchem de lágrimas, sai da sala empurrando cadeiras, batendo a porta e chamando a professora de vaca. Por conta disso toma uma advertência. Escola 2:  O menino, que nunca foi aluno nota 10, tem uma piora no rendimento. Angustiada, a mãe procura a coordenadora da escola. Ela conta que o marido está bebendo muito e o filho presenciou o pai alcoolizado agredir a mãe. Após o desabafo, a coordenadora tranquiliza a mãe, informando que iria discutir o caso com os educadores e que juntos traçariam um plano de a...

Filhos, festas e aparelhinhos eletrônicos.

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Você está numa festa ou jantar. Ao seu lado, um adulto saca do bolso um celular e começa a interagir com a tela. Você tenta puxar conversa, mas ele responde por monossílabos, sem tirar os olhos do pequeno monitor. Isso quando lhe dá alguma resposta. Logo, você e todos ao redor desistem de fazer contato. E a festa segue sem ele. Adultos normalmente não fazem isso em encontros sociais. É extremamente mal educado além de um despropósito em uma reunião entre familiares e amigos. Quem não quer interagir, que fique em casa. Pois alguém me ajude a entender o motivo deste comportamento ser cada vez mais tolerado entre as crianças e adolescentes. Nos eventos deste final de ano, me surpreendi com a quantidade de crianças em atitude quase autística diante de um pequeno aparelho eletrônico.  Meninos e meninas que não conversam com primos, mal respondem às perguntas dos avôs e não se esforçam em fazer amigos. Cheguei a testemunhar adolescentes entediados em locais com mar, gen...